Segundo versão apresentada pela mãe da menina de três anos a polícia, a criança ficou mais de dez dias sofrendo de constipação e depois pelo menos 12 horas sentindo as dores das queimaduras de segundo grau nas pernas e lesões nas partes íntimas, até receber atendimento médico.
O caso só chegou a Delegacia de Atendimento à Mulher de Aquidauana nesta quarta-feira (06), após a mãe buscar atendimento em uma unidade de saúde da Aldeia de Taunay e o médico que atendeu a criança acionar o Conselho Tutelar.
A delegada Karen Viana de Queiroz, responsável pelas investigações, explica que apesar da versão da mãe a polícia, o inquérito ainda não será finalizado. “A menina passou por exames, mas também estamos aguardando laudo da perícia. Serão ouvidas outras pessoas, além do médico que a atendeu, para clarear a situação. Por enquanto, a mãe permanece presa aguardando decisão da justiça e o Conselho Tutelar vai fazer acompanhamento do caso”, afirma.
Em seu depoimento inicial, a mãe da criança disse que o padrasto da vítima teria abusado sexualmente da menina. O homem foi localizado em uma fazenda próxima a Miranda e também conduzido para a Delegacia de Polícia, mas negou o crime.
Depois de ser transferida para o Hospital Regional de Aquidauana, a menina foi avaliada por outro médico que confirmou que as lesões nas partes íntimas poderiam ter sido causadas por manipulação e não conjunção carnal.
Após as contradições, a mãe confessou que mentiu aos policiais sobre a suspeita do padrasto e que as lesões foram causadas ao levar a criança a uma curandeira da aldeia indígena. De acordo com a mãe, no ritual, a criança teve que sentar em um tijolo quente que provocou a queimadura na perna.
“A mãe alegou que passou pomada nas queimadas e deu remédio. No dia seguinte, a criança continuo reclamando de dor, provavelmente não só das dores da constipação, mas de dores na queimadura de segundo grau. Então, na manhã do dia 6 de janeiro, ela manipulou o ânus dessa criança, enfiou um palito de unha, daqueles que compra na farmácia para tentar desobstruir as fezes. Como não conseguiu, enfiou o dedo algumas vezes e a criança sangrou”, disse a delegada.
Ficou claro em depoimento que a menina só foi levada para receber atendimento médico depois de sentir fortes dores e chorar muito, de acordo com a investigação.
“Ela já estava numa situação de dor, precisando de atendimento médico urgente por causa da constipação e teve que se submeter a uma noite e uma manhã de tortura, dor e sangramento. Foi machucada duas vezes, para então, ser atendida e tratada como deveria desde o começo”.
A mãe da criança foi presa em flagrante pelo delito de tortura com aumento de pena por ter sido cometida contra criança.
A criança indígena de 3 anos, precisou passar por uma cirurgia para tratar a constipação e as lesões. Após procedimento, a menina foi encaminhada para internação em outro hospital do município, o Funrural, para cuidados com pediatra, onde permanece hospitalizada até a data de hoje, 08 de janeiro, pois devido a atendimentos de Covid no Hospital Regional, crianças e gestantes estão sendo atendidas no Funrural.
“Nós temos que alertar a população, mesmo quem mora em fazendas, aldeias, comunidades mais distantes, sempre tem um tipo de unidade de saúde, ambulância, que tenha esse atendimento pelo menos primário para identificar o problema de saúde da criança ou adulto e evitar uma situação desse tipo que podo agravar o caso”, finaliza Karen Viana.
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