Em 30 anos, desde a posse de Fernando Collor, em 1989, então o primeiro presidente eleito pelo voto direto após a ditadura militar a democracia brasileira vive um estado de sobressaltos, impeachments - a começar pelo próprio Collor -, com ex-presidentes presos e vices alçados de súbito ao poder. Historicamente, costumava-se atribuir a Bolívia de ser a campeã de golpes na América Latina. Um território de ar rarefeito, reviravoltas políticas, rebeliões e trocas de presidentes. Nas últimas décadas o Brasil parece disposto a reivindicar a antiga supremacia boliviana no quesito instabilidade e fragilidade institucional. A jovem democracia brasileira pós-ditadura é exposta a testes sucessivos e às vezes parece frágil e em frangalhos, como se estivesse em uma montanha russa desgovernada.
Piada nos meios diplomáticos pela sucessão de golpes - em 180 anos de independência atingiu a média de um novo governo a cada 25 meses - a Bolívia hoje é um oásis de estabilidade e há quem considere até demais a permanência do mesmo presidente, Evo Morales, no cargo desde 2006.
Collor recebe a faixa, para ser afastado depois
Agência BrasílMas antes de nos assombrarmos, cabe pensar: até que ponto pode bom ter presidentes afastados por força do impeachments ou depois jogados atrás das grades? É salutar, pedagógico e até catártico, um processo que vai nos levar enfim aprimoramento democrático com parâmetros civilizados de convivência entre as instituições. Ou pior, apenas demonstra que não possuímos líderes capazes de conduzir sua trajetória política com um mínimo de lisura e honestidade que o cargo exige e nossas instituições derretem em sua fragilidade. Aguardamos a lição da história.
Collor foi apeado do poder em 1992 envolvido em escândalos de corrupção. Dilma Rousseff, a primeira mulher a execer a presidência, foi afastada do cargo em agosto de 2016 acusada de cometer manobras fiscais para maquiar contas públicas. Fiador da candidatura de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, foi preso em abril do ano passado, condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Lava Jato e cumpre a pena em Curitiba. Michel Temer, vice que galgou a presidência justamente com a saída de Dilma e foi preso nesta quinta-feira, 21 de março, também decorrente de uma ação da Lava Jato. Lula, Dilma e Temer se abraçam na tragédia pessoal. Resta saber até quando vamos conviver com tenebrosas ameaças institucionais e deixaremos de ser um cover do passado a Bolívia.