BC manteve juros básicos em 2% ao ano na semana passada
Marcelo Casal Jr./ Agência BrasilO BC (Banco Central) apontou nesta quinta-feira (17) que a partir do primeiro trimestre do próximo ano o peso da inflação de 2022 será mais relevante para sua atuação, numa indicação de que, com as projeções, seu compromisso de não subir os juros poderá cair a partir daí.
"No primeiro trimestre do próximo ano o peso de 22 começa a ser maior que o peso de 21, no segundo trimestre do próximo ano o foco é na inflação de 22 e assim por diante", disse o diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, ao ser questionado sobre a mudança de pesos relativos dos anos no horizonte relevante para o BC.
Na semana passada, o BC manteve a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano pela terceira reunião consecutiva e destacou que as condições para seu compromisso de não elevar os juros básicos podem "em breve" não estar mais satisfeitas.
Em comunicado, o BC citou especificamente uma reversão da tendência de queda das expectativas e inflação em relação às metas para o horizonte relevante e o fato de 2022 ganhar relevância "ao longo dos próximos meses", sem especificar.
As reuniões do primeiro trimestre do Copom (Comitê de Política Monetária) acontecem em 19 e 20 de janeiro e em 16 e 17 de março. Nesta quinta, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, afirmou que o BC buscou ser transparente em relação ao forward guidance, explicitando a existência de dois componentes para análise de sua eventual retirada.
"Um componente é a inflação de 2021, que nós reconhecemos que teve uma subida", disse. "E outro (componente) é que a gente tem uma janela de tempo, à medida que ela vai percorrendo você passa a dar menos importância em 2021 e mais em 2022 e, ressaltando, [para] 2022 hoje as expectativas de inflação estão na meta."
Por sua vez, Kanczuk afirmou que pareceu ser mais importante para o BC dar luz a essa questão da inflação no horizonte relevante da política monetária "por ter uma probabilidade maior de acontecer". No entanto, ele afirmou que as outras duas pernas que sustentam o forward guidance continuam igualmente válidas.
Por meio do instrumento, o BC se comprometeu a não elevar a Selic desde que algumas premissas fossem mantidas: expectativas de inflação e projeções de inflação de seu cenário básico abaixo da meta para o horizonte relevante de política monetária, não alteração do regime fiscal e ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.
Apesar de pavimentar o caminho para o fim do forward guidance, o BC novamente destacou que uma alta da Selic não seria um processo mecânico a partir daí. Para sua decisão sobre os juros, a autoridade monetária se baseará no regime de metas para a inflação, com análise da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos.
Já conhecidas desde a semana passada, as projeções de inflação do BC pelo seu cenário-base são de alta do IPCA de 4,3% em 2020, 3,4% em 2021 e 3,4% em 2022, sendo que as metas para os respectivos anos são de 4%, 3,75% e 3,5%, sempre com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos.
O BC revelou nesta quinta-feira que esse cenário considera condicionantes como alta do preço de commodities ao longo do tempo, taxa de juros real neutra de 3% ao ano e o fenômeno La Niña como fator inflacionário em 2021 e desinflacionário em 2022.
Para a energia elétrica, o cenário-base considera ainda bandeira vermelha patamar 1 para o fim de 2021 e bandeira amarela para os finais de 2022 e de 2023. Além disso, o BC também abriu a trajetória para a Selic, retirada da pesquisa Focus, que é incorporada neste cenário: elevação dos juros em 0,25 ponto em agosto, a 2,25%, passando então a 2,5% em setembro, 2,75% em outubro, e fechando 2021 em 3%.
Vacinas
No relatório, o BC já tinha pontuado que um ponto relevante para os cálculos de atividade econômica e inflação é como e em que velocidade se dará a vacinação da população brasileira contra o coronavírus, já que o movimento permitirá a flexibilização do distanciamento social.
Durante a coletiva, Campos Neto reforçou essa visão ao sublinhar que, caso haja restrição da mobilidade no país em função da covid-19, pode haver impacto no crescimento de curto prazo.
Mas ele ressaltou que houve avanços importantes no desenvolvimento das vacinas. O presidente do BC também voltou a dizer que uma solução definitiva para a crise da pandemia, com as vacinas, sempre será mais eficiente do que discussões sobre uma eventual prorrogação do auxílio emergencial.
"Se houver atraso de vacinação que implique mobilidade menor porque o número de casos está mais alto, obviamente vai ter um impacto na atividade econômica, vai ter um impacto nas variáveis que nós usamos aqui como variáveis-chave para tomada de decisão. Hoje nada indica que isso vai acontecer", disse.
"A gente tem que esperar um pouco para ver qual vai ser o resultado do que está sendo feito, como que vai avançar essa parte de logística da vacinação e mais, qual vai ser a reação da população uma vez que a vacinação esteja em curso", complementou.
No relatório, o BC calculou que o prolongamento da pandemia de coronavírus reduziria a projeção de inflação para 2021 em 1 ponto, a uma alta de 2,4%. A conta para a inflação em 2022 também seria afetada em -0,9 ponto, a um IPCA de 2,5%.
Já numa simulação quanto aos impactos para a inflação de um desarranjo nas contas públicas e seus desdobramentos sobre o câmbio, incerteza econômica e prêmio de risco, o BC estimou que a inflação no próximo ano terminaria com alta de 6,4%, salto de 3 pontos em relação ao cenário-base e ultrapassando o limite superior do intervalo de tolerância da meta, de 5,25%. Para 2022, o impacto desse cenário negativo no front fiscal seria de 0,8 ponto, com inflação a 4,2%.
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