Economia Juro médio cobrado por bancos em abril é o maior desde 2019

Juro médio cobrado por bancos em abril é o maior desde 2019

Segundo o Banco Central, em março, taxa era de 37,4% ao ano; cobrança para famílias chegou a 50,3%, e para empresas, 22,4%

  • Economia | Do R7, com agências

Taxa de juros média cobrada por bancos em abril é a maior em três anos

Taxa de juros média cobrada por bancos em abril é a maior em três anos

Pixabay

A taxa média de juros cobrados pelos bancos no crédito livre passou de 37,4% ao ano, em março, para 38,1% ao ano, em abril, informa o BC (Banco Central) nesta quarta-feira (27). Essa é a maior taxa desde abril de 2019, três anos anos atrás, quando o valor foi de 38,3% ao ano. Em março de 2022, o juro médio anual estava em 37,4%.

No crédito livre não estão incluídas as operações de financiamentos habitacional, rural e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

De março para abril, os juros para empresas e famílias ficaram 0,8 ponto percentual mais altos em relação aos de março. Para as pessoas físicas, a taxa média de juros no crédito livre passou de 49,5% para 50,3% ao ano, enquanto para as pessoas jurídicas ela foi de 21,6% para 22,4% ao ano, nesse período. Em fevereiro, os valores eram 48,1% e 21,5%, respectivamente.

O encarecimento do crédito se deve ao aumento da taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central, como forma de controlar a inflação no país. A Selic passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,25% ao ano, em junho de 2022, atingindo seu maior patamar em mais de cinco anos.

O BC começou a atualizar nesta quarta suas estatísticas de crédito, com os dados de março e abril, após o fim da greve dos servidores, no início do mês. Por isso, as informações ainda estão defasadas, já que, neste momento, deveriam estar disponíveis as estatísticas até junho.

Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, a expectativa é que os dados do quinto e do sexto mês sejam publicados em agosto.

Linhas mais caras

Entre as principais linhas de crédito livre para pessoas físicas, o cheque especial é um dos destaques. A taxa passou de 127,8% para 132,7% ao ano, de março para abril, alta de 4,9 pontos percentuais.

Desde 2018, os bancos oferecem a possibilidade de parcelamento das dívidas no cheque especial. A opção vale para débitos superiores a R$ 200. Em janeiro de 2020, o BC passou a aplicar uma limitação de 8% ao mês aos juros do cheque especial (151,82% ao ano).

Além desse limite do juro, os dados atuais refletem uma revisão realizada na série histórica do BC. Os números passaram a considerar que alguns bancos só cobram juros no cheque especial depois de dez dias de atraso no pagamento da fatura. Antes, era considerado todo o período de atraso. Essa mudança fez com que o nível do juro, na nova série histórica, fosse menor em anos anteriores.

Nas operações com cartão de crédito rotativo, os juros bancários cobrados das pessoas físicas subiram de 359,1% ao ano, em março, para 364% ao ano, em abril, a maior taxa desde agosto de 2017 (428% ao ano), resultado de uma elevação de 4,9 pontos percentuais. 

O rotativo é o crédito tomado pelo consumidor quando não tem condições de arcar com o valor total da fatura na data do vencimento, e paga apenas uma parte, para não ficar inadimplente. O "empréstimo" dura 30 dias e, após esse prazo, as instituições financeiras parcelam a dívida.

Especialistas advertem que, por ser a linha de crédito mais cara do mercado, ela deve ser evitada, usada somente em momento de emergência. Na modalidade de parcelamento das compras pelo cartão de crédito, os juros chegaram a 175,1% ao ano em abril, com aumento de 3,4 pontos percentuais em relação ao mês anterior.

Veículos e outros créditos

Ainda na apresentação desta quarta, o Banco Central mostrou que os juros para a aquisição de veículos continuaram em 27,2% ao ano, na passagem de março para abril, aumento frente aos 26,5% ao ano registrados em fevereiro.

A taxa média de juros no crédito total, que inclui operações livres e direcionadas, aquelas com recursos da poupança e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), foi de 26,7% ao ano, em março, para 27,7% ao ano, em abril. No quarto mês de 2021, ela estava em 20,4%.

Já o ICC (Indicador de Custo de Crédito) subiu 0,4 ponto porcentual e foi para 19,9% em abril, ante 19,5% ao ano em março; em fevereiro, era de 19,4%. Esse percentual reflete o volume de juros pagos, em reais, por consumidores e empresas naquele mês. Na prática, esse indicador reflete a taxa de juros média efetivamente paga pelo brasileiro nas operações de crédito contratadas no passado e ainda em andamento.

Inadimplência

A inadimplência das pessoas físicas teve aumento de 0,1 ponto percentual, chegando a 5%, considerados os atrasos de pagamento acima de 90 dias. No caso das empresas, ela ficou estável em relação a março, em 1,7%.

Todos os dados são do crédito livre, em que os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes.

Quanto ao crédito direcionado, empréstimos cujas regras são definidas pelo governo, e que são destinados, basicamente, aos setores habitacional, rural, de infraestrutura e ao microcrédito, os juros para pessoas físicas subiram 0,2 ponto percentual, para 9,7% ao ano. A taxa cobrada das empresas teve aumento maior, subiu 3,1 pontos percentuais, e foi para 14,6% ao ano.

A inadimplência no crédito direcionado ficou estável para empresas, em 1,1%, e também para as pessoas físicas, em 1,5%.

Saldo dos empréstimos

O estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos ficou em R$ 4,8 trilhões em abril, com alta de 0,8% em relação a março, e de 16,8% em 12 meses. Esse saldo correspondeu a 53,7% de tudo o que o país produz, o PIB (Produto Interno Bruto), com redução de 0,2 ponto percentual em relação a março, e alta de 1,1 ponto percentual em 12 meses.

O BC destaca em seu relatório de estatísticas monetárias e de crédito que o saldo das operações de crédito com recursos livres às empresas totalizou R$ 1,3 trilhão em abril, com elevações de 1% no mês e de 16,8% em 12 meses.

“Esse resultado evidenciou aceleração em relação ao mês anterior, quando teve alta de 15,7% na comparação interanual. Entre as principais modalidades de crédito que contribuíram para o desempenho do segmento de pessoas jurídicas no mês, destacam-se as operações de ACC (adiantamento de contratos de câmbio), 8,3%, capital de giro com prazo superior a 365 dias, 1,8%, e os financiamentos a exportações, 1,8%”, diz o documento.

No caso do crédito livre às famílias, o saldo chegou a R$ 1,6 trilhão em abril, com aumento de 1,8% no mês e de 25,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior. “Por modalidades, destacou-se a expansão na carteira de crédito pessoal consignado para aposentados e pensionistas do INSS, 5,2%, impulsionada pelo aumento recente da margem de consignação [de 35% para 40%]”, explica o BC.

A autarquia destaca, ainda, o aumento das “carteiras de crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público, 1,1%, crédito pessoal não consignado, 1,4%, e de cartão de crédito total, 2%”.

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