Nações tentam sufocar Putin pela via econômica
Alexey Nikolsky/Sputnik/AFP - 01.03.2022Em vez de entrarem na guerra para defender a Ucrânia, as nações ocidentais decidiram retaliar a Rússia pela via econômica.
As sanções impostas nestes oito primeiros dias de invasão vão desde as que impactam toda a economia da Rússia, como a proibição de negócios com americanos ou a retirada dos bancos do país do sistema internacional bancário Swift, até ações localizadas, como a saída de empresas e a recusa de produtos russos.
Na terça-feira (1º), o sistema Swift retirou da plataforma sete instituições bancárias do país (VTB, Bank Otrkitie, Novikombank, Promsvyazbank, Bank Rossiya, Sovcombank e VEB). Dessa forma, pagamentos, negociações e financiamentos ficam inviáveis entre essas empresas e moradores, governos e companhias de outros países.
Sem essa via, empresas russas vinculadas a esses bancos se viram impossibilitadas de vender e comprar produtos, buscar crédito ou quitar qualquer tipo de fatura. Em outras palavras, ficaram paralisadas.
Uma saída encontrada por algumas companhias foi abrir contas em bancos chineses localizados em Moscou, atitude que indiretamente também prejudica a economia russa, por reduzir crédito de suas instituições.
Além dessa exclusão, houve o congelamento dos bens do Banco Central russo, bem como os do presidente do país, Vladimir Putin, e de diversos bilionários do país. A medida impede que eles vendam propriedades ou ações, por exemplo.
Nesta quinta (3), países europeus disseram ter apreendido iates de bilionários russos.
Os Estados Unidos proibiram o BC russo de realizar operações com dólar, a moeda mais usada no mundo. Os americanos fecharam ainda as ligações das empresas do país com o Sberbank, a maior instituição financeira russa, atitude seguida pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.
O Tesouro americano também impôs sanções contra o Fundo de Investimento Direto da Rússia e seu presidente, Kirill Dmitriev, aliado de Putin.
O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, anunciou sanções a bancos e a oito integrantes do Conselho de Segurança da Rússia.
As empresas de pagamentos Mastercard e Visa bloquearam várias instituições financeiras do território de suas redes.
As medidas impedem ou pelo menos dificultam o financiamento da guerra que seria feito por essas instituições ou por meio delas.
Os governos dos Estados Unidos, União Europeia (com o apoio da sempre neutra Suíça, que não integra o bloco), Canadá, Reino Unido, Austrália e Japão adotaram medidas que travaram a economia e afetaram ainda os meios de transporte e a distribuição de produtos na Rússia.
As empresas aéreas russas e mesmo jatos particulares do país estão proibidos de operar em países da União Europeia.
A Aeroflot não pode sobrevoar o Reino Unido, que não faz mais parte da União Europeia.
Empresas aéreas de outros países também compraram a briga. A americana Delta Airlines deixou de operar no território russo, e a Boeing suspendeu os serviços de manutenção, venda de peças e suporte técnico para companhias russas.
A MSC e a Maersk, gigantes de logística no transporte marítimo, suspenderam as entregas e as retiradas na Rússia.
O Reino Unido também fechou seus portos a qualquer embarcação com essa origem.
O transporte por via terrestre também está comprometido. As montadoras BMW e Ford anunciaram que pararam a produção e a comercialização de veículos. A Honda e a General suspenderam as exportações, e a Renault reduziu as operações na Rússia.
A Rússia, tradicional produtor de petróleo, deverá ter problemas até mesmo nesse segmento daqui em diante.
A ExxonMobil, a Shell, a Equinor e a TotalEnergies anunciaram nesta semana que não investirão em empreendimentos no país, e a BP, sediada no Reino Unido, pode encerrar definitivamente suas operações por lá.
Menos empresas estrangeiras para investir no setor e negociar o petróleo e ainda dificuldades para vender o produto extraído de solo russo. Diversas companhias do mundo se recusam a comprar a commodity vinda do país e mandam barcos cheios voltarem à Rússia.
Nesta quarta-feira (2), o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que vai dificultar os investimentos em empresas do setor de petróleo, mas vacilou ao comentar possíveis boicotes às exportações do país. A medida poderia ter forte impacto na economia mundial, fazendo disparar os preços dos barris e dos combustíveis no mundo.
Com a invasão da Ucrânia, os moradores da Rússia perderam acesso a diversos serviços na internet. As redes Facebook, Twitter, YouTube e Snapchat divulgaram o cancelamento de alguns de seus serviços na região.
A companhia Meta informou que o Facebook deixou de recomendar as publicações das mídias estatais russas e que o mesmo ocorreria com o Instagram.
O YouTube bloqueou os canais dos meios de comunicação financiados pelo Estado russo em toda a Europa.
Entre os streamings, Netflix e Disney também anunciaram restrições.
A Netflix cortou a distribuição de canais de notícias, esportes e entretenimento da mídia estatal de Moscou. A Disney e a Warner não lançarão novos filmes na Rússia.
Outras plataformas, como a DirecTV, retiraram os canais estatais da programação.
Marcas tradicionais de tecnologia também tomaram o partido da Ucrânia. A Apple interrompeu as vendas de seus produtos na nação comandada por Putin, além de restringir o acesso a aplicativos no país.
Nesta quinta-feira, a entidade que organiza a Fórmula 1, a principal competição mundial de automobilismo, anunciou o cancelamento do contrato firmado até 2025 para a realização do Grande Prêmio da Rússia.
A Fifa e a Uefa excluíram o país dos próximos torneios internacionais de futebol, inclusive da Copa do Mundo de 2022, que será disputada no Catar. Com isso, ficam cancelados todos os jogos da seleção local nas Eliminatórias.
A desenvolvedora de videogames EA Sports está retirando todos os times russos do game Fifa, um dos mais vendidos e famosos do planeta.
As equipes de tenistas russos também foram proibidas de defender seus títulos na charmosa e tradicional Copa Davis. Os atletas ainda poderão competir individualmente nos Grand Slams e em eventos regulares dos circuitos, desde que não usem o nome Rússia.
Na terça-feira, o governo Putin afirmou que tentaria conter essa sangria segurando na marra os investimentos estrangeiros no país, por meio de um decreto presidencial.
"Na atual situação de sanções, os investidores estrangeiros não serão guiados por fatores econômicos, mas por pressão política", disse o primeiro-ministro russo Mikhail Mishustin.
Segundo ele, "para permitir que as empresas tomem decisões informadas, um projeto de decreto presidencial foi preparado para introduzir restrições temporárias à saída de ativos russos". Mishustin acrescentou: "Ainda consideramos as empresas estrangeiras como potenciais parceiros".
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, foi além. Para ele, a única saída contra a série de sanções econômicas impostas é a guerra nuclear.