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Adolescente cria projeto para empoderar jovens negros

Isabelle Christina criou um jeito para preparar, elevar a autoestima e dar oportunidades iguais para meninas e meninos da periferia 

Educação|Karla Dunder, do R7

Regiane Santos e a filha Isabelle Christina, as criadoras do projeto Meninas Negras
Regiane Santos e a filha Isabelle Christina, as criadoras do projeto Meninas Negras Regiane Santos e a filha Isabelle Christina, as criadoras do projeto Meninas Negras

“Cansei de ser um grão de feijão na panela de arroz, preciso mudar essa realidade”, disse Isabelle Christina para a mãe ao voltar de um intercâmbio aos Estados Unidos e perceber que era a única menina negra no grupo. Essa foi a semente do projeto Meninas Negras, que tem como objetivo auxiliar meninas negras da periferia a sonharem alto.

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Isabelle criou o Meninas Negras aos 14 anos. Com boas notas, ela conquistou uma bolsa para estudar em uma escola de elite de São Paulo. “Minha mãe me incentivou muito e também foi muito rigorosa com relação à minha formação”, conta. “Ela sabia que a única maneira de eu não me privar das oportunidades por questões raciais e econômicas seria por meio da educação.”

"Cansei de ser um grão de feijão em uma panela de arroz branco%2C quero muito que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades"

(Isabelle Christina)

Regiane Santos, a mãe de Isabelle, começou a alfabetizar a filha quando ela ainda tinha 2 anos de idade. Boneca? Nem pensar. O presente preferido da mãe para a menina eram os livros. “Minha mãe sempre me diz que eu tenho de escolher onde quero estudar e onde vou trabalhar, sempre sonhamos grande”.

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Mesmo trabalhando em São Paulo e morando em Mogi das Cruzes, Regiane tinha tempo de acompanhar o desenvolvimento da filha e quando via algo errado na lição de casa, não pensava duas vezes, “ela apagava tudo na hora e eu tinha de refazer”.

Jovens integrantes do projeto Meninas Negras
Jovens integrantes do projeto Meninas Negras Jovens integrantes do projeto Meninas Negras

Mas Isabelle reconhece que todo esse rigor fez a diferença. “Minha mãe foi o alicerce de tudo, conforme fui crescendo, tive a oportunidade de estudar em bons colégios em São Paulo, mas a partir do momento que comecei a me desenvolver e a frequentar esses lugares, percebi que eu era a única menina negra do ambiente, senão uma das poucas. E isso começou a me causar uma indignação muito forte.”

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Aos 15 anos, após o intercâmbio realizado por meio de uma bolsa de estudos, Isabelle decidiu mudar essa realidade. “A ideia inicial seria criar um blog para o empoderamento de meninas negras, mas não era exatamente o que a gente procurava”, diz. “Queria colocar a mão na massa, fazer algo factível, fomos amadurecendo essa ideia e em 2014 surgiu o projeto Meninas Negras”.

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"Sonhar grande ou pequeno dá o mesmo trabalho%2C então%2C vamos sonhar grande"

A ideia era inserir, a princípio, meninas negras nos padrões acadêmicos, profissionais e culturais. 

Projeto resgata a autoestima dos jovens
Projeto resgata a autoestima dos jovens Projeto resgata a autoestima dos jovens

O primeiro passo do projeto é trabalhar a autoestima das meninas, mostrar que elas têm potencial e são capazes. “No início, a ideia era trabalhar só com as meninas, mas percebemos que não era justo, que a carência é grande, embora as meninas negras estão na base da pirâmide social”.

A ideia é atender e mudar a realidade de meninas de 12 a 24 anos. Como os perfis são muito diferentes, o primeiro passo é mapear a idade e focar nos possíveis próximos passos: ensino médio, faculdade ou mercado de trabalho. A partir daí são montadas estratégias e planos de ação para auxiliar no desenvolvimento de cada um.

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Criatividade, liderança e estratégias de como criar um projeto, por exemplo, são habilidades do dia a dia trabalhadas no projeto. “São aspectos importantes para desenvolver um profissional do futuro, mas as escolas não têm isso no currículo, também oferecemos reforço escolar e aulas de idioma para que essas meninas e meninos possam ir atrás e conquistar uma oportunidade”, diz Isabelle.

"Se não fosse o projeto%2C eu estaria em algum baile funk neste momento"

(Manuela Santos)

Todos que passam pelo projeto Meninas Negras também contam com apoio e acompanhamento. “Damos suporte e mentoria para que eles não desistam e tratamos de questões que podem parecer mínimas, mas não são: como se vestir para uma entrevista? Não tem roupa? A gente ajuda”, explica.

Manuela Santos Bernadino, de 19 anos, é um exemplo de que referências e oportunidades fazem a diferença na vida dessas meninas. “Sinceramente? Se não fosse o projeto eu estaria, neste exato momento, em algum baile funk ou fazendo coisas que minha mãe não aprovaria”, desabafa Manuela.

Projeto resgata a autoestima dos jovens e desenvolve habilidades
Projeto resgata a autoestima dos jovens e desenvolve habilidades Projeto resgata a autoestima dos jovens e desenvolve habilidades

Hoje a adolescente estuda e integra os quadros da IBM. “Antes de conhecer o projeto, eu estava muito preocupada porque o ensino médio ia acabar e eu precisava de um emprego”, conta. Para conquistar a vaga na multinacional, foram seis meses de preparo para a entrevista. “Eu fiquei muito emocionada, porque nunca imaginei que conseguiria entrar em uma empresa desse porte, nunca achei que fosse um lugar para pessoas como eu.”

“Eu mudei e me orgulho de ter participado do projeto Meninas Negras, fui criada pelos meus avós, sei o que é passar fome, sou uma menina periférica, que acorda todo dia às 4h30 para ir trabalhar, não tinha roupa para a entrevista e luto muito, diariamente, para conseguir o meu espaço, não é fácil, mas não perco meu foco”.

Manuela inspirou os irmãos Daniela e Marcio a seguirem pelo mesmo caminho, num ciclo virtuoso que se constrói aos poucos, com muita persistência e determinação. “Eu sou o mais velho e me inspiro nas meninas para conquistar os meus sonhos, quero seguir na área de tecnologia”, diz Marcio.

Daniela conta que chegou a parar de estudar por conta de briga na escola e não se interessava por nada, até encontrar o desafio de desenvolver um aplicativo para resolver um problema na sociedade. “Comecei a abrir meus olhos, fui atrás de cursos, e via minha irmã se desenvolver no mercado de trabalho, levo isso como inspiração para a minha vida”.

Isabelle e Regiane fazem acompanhamento e mentoria dos jovens
Isabelle e Regiane fazem acompanhamento e mentoria dos jovens Isabelle e Regiane fazem acompanhamento e mentoria dos jovens

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