Ensino domiciliar é uma tendência no pós-pandemia
PixabayCom o isolamento social imposto para o combate à pandemia da covid-19, os pais se viram obrigados a participar de maneira mais próxima da rotina escolar dos filhos. Um cenário parecido, não igual, ao que as famílias que optam pelo ensino domiciliar ou homeschooling vivem.
A tendência é que a modalidade do ensino em casa ganhe novos adeptos no pós-pandemia. São famílias que viram que é possível educar os filhos a sua maneira. A prática ainda não tem regulamentação nacional, mas em Vitória, no Espírito Santo, já foi aprovada. Em São Paulo, um projeto de lei já passou em primeira votação na Câmara dos Vereadores.
Adriano Aparecido da Silva optou, ao lado da mulher Carolinne Litcanov Galeno da Silva, por educar seus dois filhos em casa. A decisão não foi fácil. Foram três anos de leitura e pesquisa sobre o assunto, além de visitas às famílias educadoras, até a tomada de decisão.
“Como muitas pessoas, eu achava um absurdo não matricular uma criança na escola. Mas percebemos que poderíamos oferecer para os nossos filhos um outro caminho, uma forma de educação mais próxima dos nossos valores”, comenta o pai educador e analista de logística.
Leia mais: Educação domiciliar: regulamentação fica para 2020
Leia mais: Educação em casa: mães dão dicas para organizar rotina de estudos
Carolinne até elaborou o blog Cultivando Gente, no qual compartilha com outros pais um plano de aulas que ela aplica com os filhos em casa, baseado na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) e método fônico. “Não é fácil educar em casa, mas é possível, até porque cada criança tem o seu jeito de ser e de aprender e respeitamos a individualidade de cada um”, garante.
SP: Projeto de lei foi aprovado em primeira votação
05.09.2014/JOSÉ PATRÍCIO/ESTADÃO CONTEÚDOA família de Adriano, que vive em São Paulo, no entanto, vive em um limbo jurídico. Em 2018, o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou que a prática é constitucional, mas precisa de regulamentação do Congresso.
“Todas as famílias que optam pelo homeschooling vivem inseguras, com receio de serem acusadas pelo crime civil de abandono intelectual, pelo fato de não terem matriculado os filhos em uma escola”, conta Adriano.
“Um amigo foi condenado a pagar 10 cestas básicas por não ter os filhos em um colégio e sei de um caso, em outro estado, que um pai foi obrigado a fazer a matrícula em uma escola”, diz Adriano. “Cada juiz terá uma sentença diferente enquanto não houver regulamentação.”
O ensino domiciliar foi uma das bandeiras de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Um projeto de lei foi enviado à Câmara dos Deputados no ano passado e aguarda votação.
“Diferentes projetos de lei tramitam no Congresso, deputados discutem o assunto há 26 anos”, comenta Ricardo Dias, da Aned (Associação Nacional do Ensino Domiciliar). “Percebemos que falta vontade política, mas continuamos com a nossa articulação e aguardamos a votação do texto.”
Se em Brasília as discussões não evoluem, estados e municípios decidiram regulamentar o ensino domiciliar por conta própria como ocorreu em Vitória, no Espírito Santo. Em São Paulo, o texto já passou em primeira votação, aguarda a segunda. “Só o fato de o projeto tramitar em São Paulo já manda um recado para Brasília sobre a urgência do tema”, afirma Dias.
Pais acompanham de perto educação dos filhos
Pixabay“Acredito que, com a pandemia, muitos pais perceberam coisas que antes não viam na correria do dia a dia, puderam ver o desempenho de seus filhos”, avalia Dias. “Temos recebido mais de 30 e-mails por dia de famílias que buscam mais informações sobre o ensino domiciliar e creio que será uma tendência para um futuro próximo.”
A pedagoga e neuropsicopedagoga Daniela Cristina Rubi Brecci destaca que esse período de isolamento social atinge igualmente as famílias educadoras, mas concorda que muitos pais descobriram que são capazes de educar seus filhos em casa. “Acredito que, nesse sentido, seja uma tendência porque muitos mitos que envolvem essa opção caíram por terra”, argumenta.
Daniela reforça que as famílias devem ter liberdade de escolha. “As escolas precisam existir, sim, para atender as famílias que necessitam, mas não podem ser coercitivas. Os pais devem ter o direito de escolher como querem educar seus filhos”, defende.
Na visão da pedagoga, o homeschooling permite que o ensino seja adaptado à realidade das crianças e adolescentes, respeitando o tempo que cada um precisa para a aprendizagem. “A família também pode acompanhar mais de perto o desenvolvimento intelectual, moral e espiritual dos filhos”, finaliza.