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A internet mudou muitos aspectos do nosso cotidiano, desde uma compra até o contato com novas pessoas. A transmissão de conhecimento não ficou de fora dessa. Aprender não é mais um processo restrito às salas de aula, nem aos pagadores de mensalidade. Há muita gente por aí transmitindo conhecimento de graça pela web e outros tantos fazendo uso dessa ferramenta para melhorar suas vidas. Conheça, a seguir, algumas dessas histórias
Montagem/R7
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O professor Rafael Procopio tem um canal no YouTube chamado Matemática Rio, onde ele ensina os mais diversos tipos de conceitos e contas matemáticas de forma descontraída e divertida. Ele já deu uma aula de cálculo, por exemplo, relacionando a questão com o jogador Neymar. Ele diz que esse é o grande diferencial do canal, que ele mostra o conceito com coisas que temos contato no nosso dia a dia.
— Com isso a pessoa se motiva e entende o conceito.
Procopio conta que, desde criança, gostava de matemática e de aparecer em vídeos. Ele diz que filmava quando ele se reunia com primos para gravar programas caseiros, fingindo que era o apresentador Jô Soares. Porém, ele afirma que decidiu ser professor quando uma amiga pediu ajuda para uma prova de função e tirou uma nota maior do que a dele.
— Eu fiquei muito feliz em saber que eu ensinei ela. Eu sempre gostei de dar aula.
Em 2006, ele começou a lecionar na rede estadual do Rio de Janeiro. Porém, ele diz que dar aulas na escola que estava era “muito complicado”. Depois disso, ele mudou de escola e foi trabalhar na Vila Militar e tentou até virar guia de turismo, se formando na área. Porém, em 2010, ele criou o canal e ficava durante as madrugadas gravando as aulas. Essa rotina durou três anos. Os vídeos começaram a fazer muito sucesso e, em agosto deste ano, ele desistiu de dar aulas formais e passou a fazer isso na internet.
— Na internet é muito legal porque uma vez eu soube de uma família sem-terra que via meus vídeos, que ia em uma lan house e aprendeu muita coisa comigo. Tem gente que fala que aprendeu mais em cinco minutos do que em 50.
Hoje, o canal é o maior de matemática no Brasil e número 244 em número de inscritos em um canal de educação no mundoReprodução/Arquivo Pessoal
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O professor Walter Solla também tem seu canal no YouTube e fala sobre história. Ele diz que descobriu que queria ser professor no terceiro ano do ensino médio quando fez um seminário e recebeu elogios sobre sua forma de explicar. Com ajuda do produtor audiovisual Ary Neto, ele foi incentivado a gravar vídeos para que muitas pessoas pudessem ter acesso ao conhecimento. Foi aí que nasceu o Se Liga Nessa História.
— Quando a ideia foi construir um canal sério, parei de dar aula e venho empenhando todas as minhas horas para gravar e estudar. Minha satisfação tem muito a ver com a relação entre professor e aluno. Eles vêm falando “nossa, professor, finalmente eu entendi”. Estou ajudando muita gente por aqui. Não pretendo parar de fazer vídeo aula.
Ele diz que a sociedade “coloca uma pressão muito grande em cima do professor”. Porque, quando ele está em sala de aula, é responsável, muitas vezes até pela educação familiar da criança. Com a internet, ele acredita que é uma relação diferente, já que as pessoas buscam os conteúdos que ele produz.
— Até uma pessoa do Acre pode ver [as aulas]. Eu tento sempre trazer a ideia de que a história é um estudo do passado através do presente. A gente está vivendo história agora. O presente é construído pelo passadoReprodução/Arquivo Pessoal
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O canal Cabine Literária está no YouTube há cinco anos e reúne seis amigos que dão suas opiniões sobre livros que leram e incentivam o público a fazer o mesmo. A jornalista Tatiany Leite faz parte do grupo e diz que eles não querem fazer críticas de livros e nem serem vistos como professores, mas que têm a intenção de fazer com que as pessoas leiam.
— No começo foi muito difícil, até pelo fato de que os professores são formados para aquilo. Até as pessoas entenderem que era uma opinião, demorou. Somos pessoas que querem mostrar que literatura é algo legal. Para perder o preconceito.
Ela afirma que apenas a palavra “literatura” já faz com que algumas pessoas achem aquilo muito complicado e chato. Mas ela diz que “todo mundo é um potencial leitor”.
— Independente do que você lê, você é um leitor. É criado um monte de bloqueio que não precisa. Todo mundo tem pelo menos um livro que tenha tocado um pouquinho.
No canal, as pessoas encontram os mais diversos tipos e estilos de literatura: livros teen, clássicos, cultura nerd... Além disso, Tatiany e cada um dos outros booktubers que fazem parte do canal (César Sinício, Danilo Leonardi, Gabriel Utiyama, Augusto Assis e Lúcia Robertti) mostram seu estilo favorito e comentam sobre, para lançar uma curiosidade do público.
— Essa proximidade é legal. Porque é uma pessoa igual a você que talvez tenha a mesma opinião. Você lê os comentários e vê a identificação das pessoas, por isso que cada um tem um embasamento.
Tatiany diz que “tem gente nova entrando no canal todos os dias” e que isso é muito bom para fazer com que cada vez mais pessoas se interessem pela literatura e comecem a ler um livro. O canal conta com parcerias que fazem com que cada vez mais pessoas leiamReprodução/Arquivo Pessoal
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Em 2008, o casal Iberê Thenório e Mariana Fulfaro começou a publicar vídeos no YouTube, ensinando as pessoas a fazerem experiências divertidas. Foi assim que nasceu o canal Manual do Mundo. Com o tempo, o que começou sem muita pretensão e com o intuito de entreter as pessoas, acabou virando um negócio e uma forma de compartilhar conhecimento. Hoje em dia, ele, que é jornalista e ela, que é terapeuta ocupacional, se dedicam totalmente ao canal que já tem mais de 4 milhões de inscritos.
Thenório diz que o canal surgiu em uma época em que a plataforma “começou a funcionar” e eles perceberam que “tinha gente aprendendo e ensinando por vídeo”. Como perceberam que o movimento estava nascendo, passaram a fazer alguns testes e a publicar vídeos sem muita pretensão.
— Tinha um pouquinho disso na televisão, mas o YouTube proporciona uma coisa diferente: a pessoa pode pausar e ver quantas vezes ela quiser, no lugar que ela quiser. Na televisão tem coisa que não dá para ensinar.
Os dois sempre gostaram de internet. Ela tinha um blog e ele trabalhava como jornalista em um portal. Porém, o canal começou a crescer naturalmente e “demorou muitos anos para engrenar”, como eles dizem. Porém, em 2012, eles deixaram seus empregos para se dedicarem totalmente à web. Eles abriram uma produtora e, hoje, contam com 15 funcionários.
— Foi um tempo grande maturação. A gente gosta de não ter “bombado” de repente. Porque é um negócio consolidadoReprodução/Arquivo Pessoal
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Mariana diz que eles não partiram do “pressuposto da educação” para o canal, que eles queriam mostrar um experimento pelo fato de ele ser legal, mas tudo foi mudando e as pessoas começaram a gostar de matérias como física e química. Que, antes do canal, não gostavam. Thenório afirma também, que muitas pessoas dão o retorno de que tiraram 10 em um trabalho graças ao canal, ou que escolheram cursar uma faculdade por causa do que aprendeu com eles.
— Todo Enem tem questões que as pessoas resolvem com o Manual do Mundo. Ano passado, eu contei e tinham nove questões que davam para resolver com o Manual do Mundo. Esse ano não contei, mas eu vi várias.
A intenção deles é que aprender vire “algo natural” e que o “peso” de aprender seja um pouco menor. Eles dizem que muitos dos inscritos fazem as experiências com a família e que ver esses “projetos” prontos, é algo muito gratificante.
— Tem gente que pega o pai nas férias e a experiência vai ser o projeto das férias. Tem pai que fala que todo o final de semana separa uma para fazer. O mais legal é saber que você ensinou mesmo, ou saber que mudou o comportamento da família.
O casal já publicou um livro do canal e, agora, prepara mais uma edição para que as pessoas aprendam ainda maisReprodução/Arquivo Pessoal
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Eles aprenderam
A estudante Audineia Oliveira, de 19 anos, está estudando para entrar em uma faculdade de direito. Recentemente, ela prestou o Enem e ainda vai prestar vestibular para várias faculdades. Para conseguir atingir o seu sonho, a jovem decidiu focar seus estudos na internet. Por meio de vídeo aulas, ela diz que aprendeu muito mais do que esperava.
— Eu fazia cursinho, mas como eu sinto que estou aprendendo mais vendo no computador, deixei de fazer o cursinho.
Ela diz que, no cursinho, tudo era muito parecido com o que ela tinha visto na escola e que, agora, fica em casa estudando e afirma que aprendeu muito mais. Para ela, o modo como as matérias são ensinadas pela web, faz com ela tudo seja mais fácil.
— Nos vídeos eu vejo um jeito mais descontraído e não fica com aquela aula pesada. Além disso, eu faço meu horário.
Audineia diz que estuda por vários canais e vai procurando os assuntos que mais a interessam, em sua grande maioria, matérias de história. Ela também diz que economizou muito dinheiro que gastaria em um cursinho pago que “é muito caro”.
— Eu tinha começado a fazer cursinho em maio e senti que era muito fraco. Eu estou aprendendo bastante em casa e vou continuar. Eu aprendi, por exemplo, que as capitanias hereditárias têm reflexo até hoje. As terras nas mãos de poucos é herança das capitanias. O povo que não tinha terra, continua sem terra.
A jovem diz que estuda “até deitada, antes de dormir” e que quando tem dificuldade com algum tema que estuda, vai buscando pela internet outros vídeos que consigam sanar sua dúvida.
— A gente tem internet e tem redes sociais, mas quando você pega para estudar sério, você vai aprender muitoReprodução/Arquivo Pessoal
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O estudante Rodrigo Ribeiro, de 22 anos, faz licenciatura em matemática e quer mudar de curso para ser bacharel na área. Estudando por meio de canais que ensinam matemática, ele diz que fica “vagando” pela web até achar vídeos que interessem para o foco dele: engenharia.
— A linguagem do vídeo tem muito a ver com a do cursinho. Aprendi muito sobre a analogia da fala. Eu acho que a grande diferença com a escola é a linguagem.
Ribeiro também dá aulas particulares de matemática. Para ajudar no modo como lida com os alunos, ele busca vídeos que mostram uma forma descontraída de abordar o tema tão complicado para alguns.
— Tento ver a forma de mostrar o conteúdo, de aprimorar meu jeito de ensinar. Eu só sabia linguagens específicas, mas quando tive contato com esse outro linguajar, coloquei na minha forma de explicar
Experimente: todos os programas da Record na íntegra no R7 PlayReprodução/Arquivo Pessoal