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E se você, aos 12 anos, tivesse sua vida transformada em um tormento constante por gostar de cantar, dublar e dançar, e transformar isso em vídeo? E se os valentões da sua escola e alguns "amigos" em redes sociais se sentissem no direito de te ofender por isso? Se você fosse Theo Chen, de Cingapura, usaria a internet para questionar os motivos do bullying e fazer um discurso lúcido demais para a pouca idade que tem contra o preconceito e a homofobia.
Os vídeos em que aparece dançando fizeram de Theo uma espécie de celebridade na internet. O garoto, estudante do ensino médio, se diverte com performances registradas em vídeos bem editados em que aparece dublando ou dançando sucessos de Bruno Mars, Justin Bieber e Pink!. Tanta desinibição parece ter incomodado colegas de escola e “falsos amigos” das redes sociais, como ele mesmo classificou. Theo passou a ser vítima de fofocas virtuais e agressões emocionais e verbais na escola onde estuda.
Em um vídeo em forma de desabafo publicado no último dia 6 com o título “Gay”, Theo condena as agressões que recebeu, diz não ter mais paz para ir à escola e, com uma clareza impressionante, condena não apenas o preconceito que recebeu, mas o comportamento homofóbico. Em apenas duas semanas, o vídeo já foi visto por mais de 200.000 pessoas.
— Querem saber? Se qualquer um de vocês assistir a isso e eu me tornar gay, espero que vocês sejam cabeça aberta sobre isso, ok? Agora, eu gosto de meninas. Não penso que seja gay no momento. Não que haja algo de errado em ser gay. Não acho que a humanidade deva julgar as pessoas pela sexualidade porque não é certo.
Em entrevista ao R7, Theo fala sobre a repercussão causada pelo vídeo e como sua coragem em denunciar as agressões pode tê-lo livrado de algo pior.
Texto e entrevista: Filipe Albuquerque, do R7Reprodução/Facebook
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R7: Fale sobre a situação na sua escola depois que você publicou o vídeo. Você acha que, com o vídeo, a conscientização dos estudantes sobre o bullying melhorou? A hostilidade acabou?
Theo Chen: A situação, ao que parece, parou, como se as pessoas que tivessem visto o vídeo, entenderam e agora parece que há uma sensação de calma. Os agressores sentem medo de fazer bullying, como se soubessem agora que as vítimas têm coragem de contar a um adultoReprodução/Facebook
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No vídeo, você diz que você tinha amigos falsos no Facebook, no Twitter e em outras redes sociais que estavam fazendo fofoca sobre você. Eles te pediram desculpas? E os estudantes que te incomodavam, pediram desculpas pelas agressões?
Quando o vídeo foi ao ar, no dia seguinte, fui até a minha professora favorita e contei tudo a ela. Ela escreveu tudo e enviou ao vice-diretor. E a partir daí o vice-diretor falou com todos os valentões e eles me pediram desculpas e tiveram de lidar com as punições. Enquanto alguns deles foram sinceros, outros foram falsosReprodução/Facebook
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Você contou aos seus pais sobre o bullying que estava sofrendo? Como eles reagiram quando viram o vídeo?
Sim, contei. Quando eles viram o vídeo, me abraçaram e disseram que me amavam, que estavam orgulhosos do que eu havia feitoReprodução/Facebook
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Você chegou a sofrer algum tipo de agressão física na escola ou em outros lugares por causa dos seus vídeos em que você aparecia dançando?
Nunca física, mas sempre emocional ou verbalReprodução
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Você entende que o seu vídeo pode ser usado como uma ferramenta contra o bullying e o preconceito nas escolas? Acredita que o vídeo pode mudar a conduta dos valentões? Você percebeu isso na sua escola?
Acredito que sim, pode ser usado. E eu certamente ficaria bastante orgulhoso se isso acontecesse. O ponto é, há tanto preconceito neste mundo que nós, como pessoas deste mundo, precisamos intensificar e começar a fazer alguma coisa sobre isso mudando nossa visão de vida e mudando como julgamos os outrosReprodução
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Aqui em São Paulo, um estudante universitário foi agredido por dois homens na rua, diante de muitas pessoas, à luz do dia, por ser gay. Depois disso, ele publicou um vídeo em que falava sobre a agressão e fazia um discurso contra a homofobia. Você acha que a internet pode ser um meio de denunciar o preconceito e dar voz aos que são vítimas de ataques como este?
Acredito que, se você usa a internet corretamente, é uma excelente maneira de falar. Pode não ser a melhor maneira para muitas pessoas, mas eu acredito que, nos dias de hoje, a mídia está tomando o mundo todo e temos de aprender [a usar] isso.
No vídeo contra o bullying, após encontrar em seu armário um bilhete em que é chamado de gay, feio ("ugly") e estranho ("weirdo"), Theo é confrontado por um outro aluno e acaba por ser agredidoReprodução
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Você gostaria de dizer alguma coisa para as pessoas que continuam sofrendo algum tipo de bullying ou preconceito apenas por serem quem são?
Seja forte, seja quem você é. Nunca deixe os agressores te pegarem, como eu fiz, porque, então, fica pior. Conte a um professor, à sua mãe, aos seus amigos, conte a alguém em quem você confie. Você precisa parar o bullying e para isso você tem de contar [a alguém]. E lembre-se, se você ficar intimidado para falar com alguém, fale comigo. Mesmo que eu não te conheça pessoalmente, eu ainda te amoReprodução
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Você conhece música brasileira? Alguma vez já tentou cantar ou dançar música brasileira e fazer um vídeo? Pretende tentar algum dia?
Não conheço muito, mas o Brasil é um país lindo com uma música maravilhosa. Eu adoraria ir ao Carnaval. A cultura é tão incrivelmente rica e diversa e, claro, eu adoraria tentarReprodução