Adolescentes acreditam que maiores problemas são ansiedade e má administração do tempo
FreepikUm dos assuntos mais comentados de 2020, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) está chegando – e com ele, a ansiedade daqueles que disputam uma vaga na universidade.
Esse é o caso do baiano Daniel Alves, 17 anos, e do pernambucano Stênio Lima, que têm a mesma idade. Recém-formados no Ensino Médio, esta será a primeira vez que os estudantes prestarão o exame "para valer" — sem contar quando fizeram na condição de treineiros, modalidade destinada àqueles que ainda não podem ingressar na faculdade.
"Acho que vou dar uma passada no cardiologista depois (risos)", se diverte Daniel, estudante do Colégio Coperil. "Brincadeiras à parte, é claro que sempre rola aquele nervosismo, mas acho que fiz tudo que estava ao meu alcance."
Stênio, do Colégio Presidente Médici, concorda. "O maior problema é o nervosismo mesmo, porque as questões, em si, não são difíceis", diz o pernambucano. "É preciso saber respirar fundo e, sobretudo, administrar o tempo para cada etapa da prova."
Enquanto Daniel tem a certeza de que quer cursar Medicina na UFBA (Universidade Federal da Bahia) ou na UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), Stênio, futuro engenheiro químico, só espera conseguir uma vaga em uma universidade pública, seja ela qual for.
Daniel quer cursar Medicina na UFBA (Universidade Federal da Bahia)
Arquivo pessoalDiante dos desafios, já era esperado, para os adolescentes, que o último ano fosse pautado por muito esforço e dedicação. O que eles não contavam, no entanto, é que, teriam que lidar ainda com diversos contratempos impostos pela pandemia da covid-19.
"Nossa, eu imaginava que seria um ano totalmente diferente", afirma Daniel. "A primeira coisa que eu pensei quando 'estourou' a pandemia foi: 'poxa, logo no meu ano'. A última série do médio provavelmente me marcaria muito por conta de formalidades como a formatura, fotografias, coisas desse tipo, mas acabou que todo mundo teve que ficar distante."
A quebra de expectativas teve impacto não só no psicológico nos estudantes, como também, e, sobretudo, no desempenho escolar.
"Em um primeiro momento, achei que seria tranquilo, mas quando as aulas presenciais foram interrompidas, no início de março, fiquei um pouco relaxado e foi difícil voltar ao ritmo", diz Daniel. "Estava dormindo e acordando tarde, sendo que minha aula é pela manhã."
"Ficar isolado em casa atrapalhou muito o meu desempenho", afirma Stênio. "Querendo ou não, ali você tem uma série de distrações que não teria se estivesse na escola."
Ao todo, Daniel e Stênio passavam oito horas comprometidos com o vestibular — quatro nas aulas online e quatro estudando por conta própria. Por si só, a tarefa já não é fácil, mas se tornou ainda mais difícil diante da impossibilidade de fazer atividades que antes eram comuns como praticar esportes e sair com os amigos.
Stênio quer ser engenheiro químico
Arquivo pessoalPara aliviar o estresse, os estudantes se apoiaram no diálogo com os familiares, que ficaram mais próximos durante o isolamento imposto pela pandemia, além de profesores e amigos, ainda que de forma remota.
"Esse diálogo foi essencial", desabafa Daniel. "Para quem não teve esse apoio, deve ter sido realmente muito difícil. Eu não sei se teria suportado."
"Felizmente, tive a sorte de ter ótimos professores", diz Stênio. "Mesmo quando não estávamos em aula, conversávamos com eles por meio das redes sociais ou até mesmo por ligação. Eles estavam sempre disponíveis para ouvir e ajudar."
A poucos dias da primeira prova do Enem, que será realizada neste domingo (17), os adolescentes garantem que se sentem prontos para encarar o desafio — e ressaltam que mais importante do que dominar o conteúdo, é controlar a ansiedade e saber administrar o tempo na hora da prova.
"Minhas expectativas são altas. Eu sou muito privilegiado, e sei que não é todo mundo que tem acesso às coisas que eu tive", afirma Daniel. "Apesar disso, se chegar na hora da prova e eu não souber gerir o tempo, isso pode acabar prejudicando a minha nota."
"Eu espero conseguir não ficar nervoso e fazer uma boa prova", diz Stênio. "Já estou um pouco nervoso agora e acredito que no dia vou estar pior. O jeito vai ser respirar fundo e analisar a situação."
Apesar da autocobrança, que é grande, os estudantes sabem que não obter um bom desempenho, ou a nota necessária para ingressar no curso escolhido, não é o fim do mundo. "Sempre há um próximo ano", conclui Daniel.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Karla Dunder