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"Você volta para o tronco", diz negra que perdeu vaga de medicina para branco que fraudou cotas

Recentemente, 24 estudantes brancos foram expulsos da Universidade Federal de Pelotas (RS)

Educação|Giorgia Cavicchioli, do R7

Estudante afirma que “um negro sabe que ele é negro”
Estudante afirma que “um negro sabe que ele é negro” Estudante afirma que “um negro sabe que ele é negro”

“Você volta pro tronco. Você se sente chicoteada de novo”. Isso é o que diz uma jovem negra que perdeu sua vaga na faculdade de medicina depois de alunos brancos terem fraudado o sistema de cotas da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), do Rio Grande do Sul. 

Recentemente, depois de denúncias feitas pelo Setorial de Negros e Negras da UFPel, 24 alunos brancos foram expulsos da instituição.

A estudante diz nunca ter visto negros em postos de grande representatividade e que jamais teve um professor negro. Também nunca viu um advogado negro em sua região e diz que, quando percebeu que poderia fazer algo por ela e pelos outros na medicina, decidiu que escolheria essa faculdade.

— Quando você não tem acesso a saúde, quando sua família não tem acesso a saúde, quando você depende de uma boa vontade de um atendente para marcar um exame para o seu pai, quando você tem um exame negado, você tem vontade de lutar contra isso.

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A jovem diz que precisa lutar por ela mesma, pelos que vieram antes dela e pelos que virão depois. Ela afirma que tem o dever de “lutar contra um sistema injusto” e que quando viu a lista com os nomes das pessoas que tinham passado na universidade ela ficou desacreditada.

— Eu tive meus sonhos roubados. É incrível que precise de uma lei para negros entrarem na universidade. Eu me senti roubada.

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A estudante afirma que “um negro sabe que ele é negro” e que gostaria que os brancos que fraudaram as cotas para poder entrar na universidade deveriam passar um dia na pele dela. Assim, saberiam como é o cotidiano de uma pessoa que sofre diretamente com o racismo todos os dias.

— Gostaria que eles saíssem na rua e ouvissem os mesmos xingamentos que eu ouvia [quando criança] na rua. Mais uma vez, eles querem ocupar um espaço que não é deles. Quando eles ocupam um lugar que não é deles, eles estão de novo negando o lugar das pessoas que deveriam estar ali. Estão novamente excluindo elas.

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Ela afirma que, com a expulsão dos alunos que fraudaram o sistema, ela começa a ter uma esperança de que agora o processo será mais cuidadoso e que os negros realmente ocupem essas vagas destinadas para eles.

— Será que é verdade? Será que a partir de agora, efetivamente, os negros vão ocupar seus lugares de direito? O meu ano de 2014 terminou no dia 30 de dezembro de 2016, com a expulsão deles. Tudo o que você acreditava, você deixa de acreditar. Porque você continua sendo oprimido.

Depois das denúncias, ela afirma que muitos negros estão sendo reprimidos e que, por isso, prefere não se identificar. Mas ela conta que, mesmo assim, sabe que está fazendo o certo ao denunciar os casos e que tem “a consciência tranquila”.

— Eu posso dizer que sou negra, eles não podem. Eles não gostariam de ser negros. Eles são extremamente racistas e preconceituosos.

Após toda a investigação dentro da faculdade de medicina, ela é categórica sobre sua decisão em relação ao curso: “Desisti”.

— Como eu vou concorrer com esse tipo de pessoa? Nada é feito. Você não tem meios de competir com essa gente. Eles têm tudo a favor deles. Eles querem que os negros ocupam os lugares, mas não que dividam o lugar com eles. Eles não te querem em um curso conceituado, em uma loja comprando com eles. Eles não querem te ver.

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