Ser o único candidato a prefeito de uma cidade pode parecer moleza, afinal, basta um único voto válido para que ele seja eleito e ocupe o cargo. Está no papo. Mas, se por um lado não é preciso fazer uma campanha eleitoral focada em ganhar as eleições, por outro há o desafio de levar os eleitores às urnas para garantir uma boa base de governo, além de "prestígio" com políticos que possam ajudar no desenvolvimento da cidade.
É o que conta Fábio Polidoro (PTB), candidato a vice-prefeito em Pedreira (interior de SP), uma das 17 cidades do Estado que têm apenas um candidato nas eleições majoritárias deste ano.
O R7 foi até o município para ver como a população está lidando com a falta de concorrência. Com um pouco mais de 45 mil habitantes, sendo quase 34 mil eleitores, a cidade vive pela primeira vez essa experiência.
Polidoro acerta ao dizer que, juntamente com o candidato Hamilton (PSB), tem um desafio pela frente, porque o clima pelas ruas pedreirenses está tenso com essa situação.
Um grupo de taxistas abordados pela reportagem preferiu não comentar o assunto. Um deles deixou claro sua revolta: "É sobre as eleições? Não vou falar nada, senão vou soltar um palavrão".
Durante a entrevista com o candidato a vice-prefeito, concedida num comitê improvisado em galpão emprestado por uma família da cidade, Polidoro mostrou ter conhecimento da insatisfação de parte do eleitorado, mas garante que a decisão foi tomada de forma unânime pelas quatro coalizões, composta por 19 partidos.
— Todos os políticos da cidade decidiram que a melhor opção era ter apenas um candidato. Depois de uma pesquisa de intenção de votos apontar o Hamilton em primeiro lugar e eu em segundo, decidimos unir forças. O prefeito atual também abdicou de tentar a reeleição. Sabemos que os próximos anos serão economicamente complicados para a cidade e, por isso, nós juntamos ideais e projetos em prol o município.
Mas o que Polidoro vê como a melhor opção para a cidade, os moradores de Pedreira veem como um talho na democracia.
O técnico em segurança do trabalho Luiz Ricardo Moreira, de 36 anos, caçava pokemóns na praça da cidade, em frente à igreja matriz, quando foi questionado pela reportagem sobre o que achava de uma eleição com apenas um candidato. Moreira disse que considera a atitude dos políticos uma “vergonha”.
— Não tem concorrência. Ele não precisa fazer nada para ser eleito. Tinha candidato na eleição passada que era contra ele [Hamilton] e agora é a favor. É uma palhaçada. Isso não é democracia.
Polidoro rebate a crítica quanto à decisão política não ser democrática e diz que a ação é fruto da democracia.
— A democracia propicia também o diálogo com várias lideranças para buscar o bem da sociedade num governo que sabemos que será difícil.
Abstenção
O desafio do único candidato de levar os eleitores a votarem vem num momento de descrença na política e nos políticos. A falta de interesse refletiu, inclusive, no número de candidatos a vereador. Nestas eleições são 72 candidatos ao cargo, contra 119 da eleição anterior. O número de votos válidos nas eleições de 2012 foi de 24.130, e essa participação tende a cair nas circunstâncias eleitorais da cidade.
A atendente de uma barraca de pastel numa feira livre de Pedreira conta que, mesmo que o candidato ou o vice tivessem sido sua opção de voto no passado, como protesto, não iria às urnas. Tânia Regina Barbosa, de 59 anos, bateu o martelo e disse que vai anular o pleito.
— Acho um horror a cidade ter apenas um candidato. Só vou sair de casa no dia da eleição caso eu escolha um vereador, mas vou pensar ainda.
Andreia Aparecida Sabino, de 41 anos, também atendente da barraca de pastel, segue a mesma linha de pensamento da amiga.
— Vou até a urna só para anular meu voto. As coisas estão complicadas e conheço muita gente que não vai votar.
Campanha
Andando pela cidade é possível notar que não há muitas referências sobre o candidato à prefeitura. Ao contrário do material de campanha para o cargo de vereador. É comum ver carros adesivados com o número do candidato.
A única referência encontrada pela reportagem foi uma série de paredes pichadas em protesto, que traz o nome do candidato Hamilton com o número 45, quando o número correto da legenda é 40.
O caso foi tratado como depredação e Polidoro afirma que tomaram providências junto à Justiça Eleitoral.
Apesar da campanha ainda não ser notada pela cidade, o candidato a vice afirma que há programação no rádio e carros de som e santinhos, banners e adesivos de carro que serão distribuídos para os vereadores ajudarem na divulgação da candidatura e no incentivo dos eleitores para irem votar.
— Essa campanha está em conta, mas, mesmo assim, está difícil. Há pouca verba do partido e os candidatos estão pagando do bolso. Por isso, muita gente desistiu de se candidatar. Por outro lado é uma campanha sem o jogo político que acontece quando, por exemplo, o candidato oferece uma secretaria ou um cargo para quem o apoiar. Não temos compromisso nenhum com esse tipo de articulação. Estamos entrando na prefeitura sem ter que leiloar cargos ou secretarias. Conseguimos pacificar o momento político de Pedreira.