Ele fez muito sucesso no FILE Festival, em SP
Divulgação/Andreas LutzAndreas Lutz é um artista alemão que ama tecnologia tanto quanto ama arte. Ele esteve no Brasil recentemente, devido ao FILE Festival, e apresentou uma obra bem estranha, que envolvia toque, som e visão. Além desse evento, ele faz exposições pelo mundo todo, e adora implementar tecnologia nas obras.
Os trabalhos dele já foram exibidos no Centro de Arte e Mídia (ZKM) na Alemanha, na 57ª Bienal de Veneza, no Centro de Arte Nacional de Tóquio, no ISEA2017 na Colômbia, na Bienal OpenArt na Suécia e na Galerie Mazzoli na Alemanha, além do FILE Festival.
Hora 7: Quais foram suas influências ao entrar no mundo das artes plásticas?
Andreas Lutz: É claro que eu poderia mencionar alguns nomes ou experiências, mas eu acredito que a maior influência é a vida. Talvez seja óbvio, mas eu acredito que o meu trabalho e o que eu faço seja resultado de coisas que eu vi, ouvi, senti e fiz anteriormente. E isso me faz ver o mundo, e claro, diferente das outras pessoas. Eu quero que essa inspiração se transforme em ideias, e depois, em peças físicas.
Ele recebeu o prêmio Celeste, na Itália
Reprodução/Celeste PrizeHora 7: Como você começou a trabalhar com arte?
Andreas Lutz: Eu me formei como engenheiro em Tecnologia da Informação, e sempre me interessei pela complexidade das interações entre humano e máquina, além de formas alternativas de fazer esses dois se comunicarem. Há 20 anos, todo mundo pensava que as máquinas serviam ao homem e deviam falar o idioma humano. Na verdade, esse nunca foi o caso; a linguagem humana ficou mais e mais binária e alinhada ao código das máquinas.
Hoje,a relação tradicional dos humanos como superiores e das máquinas como inferiores mudou para um relacionamento de igualdade, se não já estiver com os papéis invertidos. E com esse desenvolvimento e uma consciência assumida das máquinas, eu estou interessado entre comunicação de máquina com máquina, uma consequência dessa relação onde o humano não é mais necessário. Como um observador desse fenômeno, a disciplina da arte foi a base perfeita para usar meu interesse em ciência, engenharia, filosofia, som e artesanato para criar e expressar ideias.
Hora 7: Você recebeu muitos prêmios internacionais. Você acha que esses prêmios são importantes para um artista?
Andreas Lutz: Eu acho que há duas perspectivas quando se trata de prêmios: primeiro, o prêmio pode ajudar a ganhar reconhecimento no começo, o que foi o caso comigo. Eles também podem te ajudar a encontrar seu nicho e ser reconhecido por um júri. Dito isso, ganhar prêmios nunca deve ser um objetivo primário, nem secundário. Você não pode criar algo pensando em um prêmio — a ideia precisa vir de você, sem preocupação com limites e formalidades. E você pode se dar muito bem como artista (e como ser humano) sem nunca ter ganho um prêmio.

As obras do cara nunca são óbvias
Divulgação/Andreas LutzHora 7: Quais são seus próximos planos?
Andreas Lutz: Estamos trabalhando em duas obras novas, que devem ficar completas até o começo do ano que vem. Uma será uma performance audiovisual baseada em um sistema semiótico de objetos 3D, que representam as entidades para uma linguagem de máquinas visível e audível. Nos meus recentes trabalhos, eu fico mais e mais interessado no fato das máquinas se comunicarem entre si com os humanos sendo apenas observadores externos. Nós vemos e sentimos, no nosso cotidiano, que a maioria das nossas tarefas são feitas por processos, programas ou serviços de software ao nosso redor. A questão é: quem está controlando quem? Já perdemos o controle?
Essa questão também fundamenta meu segundo trabalho: uma escultura cinética autônoma, um espaço instável, que borra a percepção de físico e virtual. A escultura em si fica se transformando em várias formas, onde cada uma representa um sistema semiótico, e juntos formam um discurso abstrato. O observador pode andar ao redor ou dentro da escultura para tentar entender a linguagem desse objeto.
Realmente, Andreas é um cara com uma mente que trabalha bastante, e apesar de viajar o mundo todo com suas ideias, é bem possível que ele volte ao Brasil em algum outro evento relacionado a tecnologia ou arte.