Tóquio 2020

Internacional A atleta de Belarus que desafia a última ditadura da Europa

A atleta de Belarus que desafia a última ditadura da Europa

País sob o comando de Alexander Lukashenko impediu a atleta de competir em Tóquio após criticar a comissão técnica

  • Internacional | Fábio Fleury, do R7

Krystsina Tsimanouskaya chegou a disputar a eliminatória dos 100m em Tóquio

Krystsina Tsimanouskaya chegou a disputar a eliminatória dos 100m em Tóquio

Aleksandra Szmigiel / Reuters - 30.7.2021

Nesta segunda-feira (2), a bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya deveria estar na pista do Estádio Olímpico de Tóquio, disputando as eliminatórias dos 200 m rasos, sua principal prova no atletismo. Ao invés disso, a jovem de 24 anos está em um turbilhão envolvendo o governo de seu país, Belarus, considerado a última ditadura da Europa.

Leia também: Atleta bielorrussa é levada contra a vontade ao aeroporto de Tóquio

Tudo começou na noite de sábado (31), quando ela publicou um vídeo no qual criticava uma decisão dos técnicos de sua delegação, que a inscreveram no revezamento 4x400 m sem o seu consentimento.

Na manhã de domingo (1º), membros da comissão técnica a acordaram na Vila Olímpica, disseram para recolher suas coisas para embarcar em um voo de volta para Minsk, capital de Belarus. Temendo receber retaliações ao retornar para o seu país, a atleta pediu ajuda à polícia do aeroporto e conseguiu permanecer em Tóquio.

"Tenho medo de ser presa em Belarus", disse Krystsina em entrevista a um site bielorrusso no domingo. "Não tenho medo de ser demitida ou expulsa da equipe de atletismo, me preocupo com a minha segurança. E acho que no momento não terei isso em Belarus. Não fiz nada, mas eles me tiraram o direito de participar dos 200 m e queriam me mandar de volta".

Visto humanitário

Tsimanouskaya chega à embaixada da Polônia em Tóquio

Tsimanouskaya chega à embaixada da Polônia em Tóquio

Kim Kyung-Hoon / Reuters - 2.8.2021

Nesta segunda (2), o governo da Polônia, por meio do vice-ministro de Relações Exteriores, Marcin Przydacz, anunciou a concessão de um visto humanitário para a atleta e disse que o país fará "o que for necessário para ajudá-la a continuar sua carreira". A previsão é que ela chegue na quarta-feira à capital polonesa, Varsóvia.

A retaliação às críticas da atleta bielorrussa contra os dirigentes é mais uma mostra do caráter ditatorial do governo do país, já que o comitê olímpico é dirigido por Viktor Lukashenko, filho do presidente Alexander Lukashenko.

"O que aconteceu é um exemplo do que resta do autoritarismo em Belarus desde a queda da União Soviética. O país é governado desde 1994 pelo Lukashenko, que está no quinto mandato consecutivo. Felizmente, é algo fora do lugar no mundo atualmente", afirma o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper-SP.

Atletas que abandonam países com regimes autoritários não são uma novidade em Jogos Olímpicos, segundo Consentino. E as críticas da comunidade internacional podem ampliar as pressões sobre o governo de Lukashenko, que foi alvo de intensos protestos após a eleição presidencial do ano passado, vencida pelo atual presidente, mas sob fortes suspeitas de fraude.

"Além da eleição, há muita insatisfação sobre as políticas sanitárias do governo dele, houve muito negacionismo da parte do governo. Lukashenko chegou a dizer que o coronavírus poderia ser combatido com vodca. A atitude da atleta pode ser mais uma pedra jogada contra essa muralha", explica o professor. 

Os Jogos Olímpicos oferecem uma maior visibilidade aos atletas e isso encoraja alguns a se manifestar e denunciar a situação em seus países.  "Tomar essa atitude em casa ou numa competição com menos atenção seria muito arriscado. O custo político de um ditador punir ou perseguir atletas em uma Olimpíada é muito maior", avalia Consentino.

A raia onde Tsimanouskaya correria os 200m nesta 2ª ficou vazia

A raia onde Tsimanouskaya correria os 200m nesta 2ª ficou vazia

Hannah McKay / Reuters - 2.8.2021

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