Comércio pixado com a sigla de grupo armado, AGC (Autodefesas Gaitanistas da Colômbia)
Reprodução/ Twitter/ 02.10.2020Nesta sexta-feira (2), mais de 60 municípios colombianos amanheceram com panfletos com ameaças e pichações de uma organização paramilitar conhecida como Cla del Golfo ou AGC (Autodefesas Gaitanistas da Colômbia). O grupo, que já é investigado por narcotráfico, pode ser uma das principais ameaças à paz no país.
No departamento de Antioquia, pelo menos 39 municípios reportaram as pichações com a sigla AGC e a entrega dos panfletos. Mas outros departamentos também registraram a presença do grupo armado como Chocó, Bolívar, Córdoba, Caldas, Casanare e Tolima.
A polícia, disse por sua vez, que irá aumentar a presença nestes municípios. As autoridades também confirmaram que algumas pessoas foram presas enquanto distribuíam os panfletos no departamento de Chocó e um trabalho de limpeza das fachadas também está sendo coordenado.
No panfleto, o grupo se identifica como uma organização político-militar e diz estar "preocupado com os colombianos desprotegidos pelo Estado e assediados pela guerrilha".
Outra fachada pichada com a sigla do grupo paramilitar AGC na Colômbia
Reprodução/ Twitter/ 02.10.2020Há quatro anos, o governo colombiano e a antiga guerrilha das FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) assinaram um acordo de paz. Contudo, apesar dos números de confrontos armados terem caído drasticamente, outro tipo de crime subiu e assusta mais quem mora fora das grandes cidades.
Segundo o Indepaz (Instituto de Estudos e Desenvolvimento para a Paz), ao menos 260 pessoas foram assassinadas em 65 massacres (chacinas) somente no ano de 2020. A maior parte deles, 14 aconteceram apenas no departamento de Antioquia. Mas em ao menos 19 dos 33 departamentos do país, foi registrado ao menos uma chacina.
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Entre agosto e setembro, foram registrados os maiores números deste tipo de assassinato. Do total, 11 casos aconteceram em agosto e 16 deles no mês de setembro. Na maior parte, os assassinatos são cometidos por pistoleiros que pouco deixam de pistas para uma investigação aprofundada.
Este é o número mais alto de massacres registrados no país, desde que o acordo de paz foi assinado. A missão da ONU (Organização das Nações Unidas) na Colômbia, que acompanha a implementação dos termos do acordo irá apresentar um relatório sobre os massacres no Conselho de Segurança da ONU.
O paramilitarismo na Colômbia é uma ferida não cicatrizada da época do conflito armado mais forte que o país já viveu, nos anos 90 e 2000. O grupo, que se autoclassificam como extrema direita, foram recrutados ilegamente para combater as guerrilhas. Contudo, deixaram um rastro de sangue e horror que não termina até os dias atuais.
Estes grupos conhecidos como AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) foram responsáveis por inúmeros massacres, deslocamentos forçados, assassinatos, estupros e violações de direitos humanos. Eles eram financiados por empresários e comerciantes locais, além do dinheiro obtido com o narcotráfico.
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A partir de 2003, foi realizado um processo de desmobilização destes grupos. Os principais líderes Vicente Castaño, Salvatore Mancuso, Rodrigo Tovar Pupo, foram extraditados aos Estados Unidos, em decorrência de acordo de cooperação internacional contra o narcotráfico.
Contudo, nas regiões mais afastadas relatos de dissidências destes grupos foram registrados. Desde a assinatura do acordo de paz com as FARC-EP, estes grupos de extrema direita veem crescendo, e no mesmo ritmo em que os assassinatos de líderes de movimentos sociais e defensores de direitos humanos são assassinados.