Ainda que uma recente pesquisa de voto do instituto de francês Opinionway indique o candidato independente Emannuel Macron como favorito nas eleições deste ano, a líder da extrema-direita Marine Le Pen é uma forte candidata à Presidência da França, e como ocorreu com Donald Trump nos EUA, a francesa pode surpreender a todos.
Marine, de 48 anos e advogada de formação, faz campanha com promessas nacionalistas, como a de defender os franceses do fundamentalismo islâmico e da globalização desregulamentada. Se for eleita, a candidata já declarou que dará início a processos para tirar a França da UE (União Europeia), o que pode ser fatal para o bloco, explica Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
— O enfraquecimento da UE vem vindo desde 2008, ele só vai mudando de cara. Começa com a crise do euro, passa pela situação muito precária da Grécia e, hoje, a crise dos refugiados impulsionando essa extrema-direita. No momento, a UE parece querer resolver esses problemas reafirmando os princípios europeus, mas, talvez, a resposta seja outra. Para a UE sobreviver, isso vai depender muito da Alemanha e da França, e o bloco vai ter que se flexibilizar e afrouxar um pouco os parâmetros da integração.
Pesquisa indica vitória de Macron sobre Le Pen no segundo turno na França
Outro golpe recente para o bloco foi a derrota da reforma política proposta pelo primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, que também ajudou a fortalecer os movimentos nacionalistas e populistas de extrema-direita pela Europa, lembra Denilde Holzhacker, professora do curso de relações internacionais da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
— Há uma perspectiva de aumento das forças contra a integração europeia, mas, na verdade, a Europa sempre tem esses momentos de questionamento em relação à integração e, quando isso acontece o argumento contra UE se fortalece. Ou seja, com o resultado do referendo, forças de direita ganham mais força interna. A questão da crise econômica ainda pressiona muitos países e a população começa também a questionar o quanto a política imigratória da UE não atrai ainda mais imigrantes.
Nesse sentido, Marine já chegou a comparar sua promessa de campanha ao Brexit, como ficou conhecido o processo de saída do Reino Unido da UE, dizendo que a França abandonará o euro e instituirá novamente o franco como moeda nacional. Além disso, Le Pen diz que limitará drasticamente a imigração, expulsará todos os imigrantes ilegais e preservará certos direitos atualmente concedidos a todos os residentes, incluindo a educação gratuita, apenas a cidadãos franceses.
Essas medidas geram um grande temor sobre como a candidata trataria a questão dos refugiados, explica Cristina. Ela chegou a declarar que “o que está em jogo nesta eleição é se a França ainda pode ser um país livre (...) a divisão não é mais entre direita e esquerda, mas entre patriotas e globalizadores”.
— A crise dos refugiados vai continuar, porque são dois problemas que não se resolvem: como você lida com os refugiados que estão lá e com o fluxo de chegada que não para. Não existe uma solução fácil e os países têm que se disponibilizar para receber mais refugiados, mas, ao mesmo tempo, internamente isso gera problemas também, de cunho social, que eles não querem lidar, de xenofobia e racismo.
As eleições francesas são realizadas em dois turnos: o primeiro em 23 de abril e o segundo em 7 de maio. Este mês, uma pesquisa de intenção de voto realizada pelo instituto de pesquisas francês Opinionway indicou que o candidato independente Emannuel Macron venceria Marine em uma disputa no segundo turno com 65% dos votos.