Crise na Venezuela

Internacional Em entrevista, Maduro se recusa a deixar o poder e convocar eleições

Em entrevista, Maduro se recusa a deixar o poder e convocar eleições

Presidente se posiciona no fim do prazo que Países da União Europeia deram para sejam convocadas eleições, caso contrário, reconheceriam Juan Guaidó

Nicolás Maduro rejeitou a ideia de deixar o poder

Nicolás Maduro rejeitou a ideia de deixar o poder

Foto EFE/Miraflores

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, rejeitou neste domingo a possibilidade de deixar o poder e convocar novas eleições presidenciais, porque não aceita "ultimatos de ninguém".

Em entrevista à emissora de televisão espanhola "La Sexta", Maduro garantiu que o presidente americano, "Donald Trump impôs ao Ocidente uma política equivocada" sobre a Venezuela, e afirmou: "Não vamos nos submeter".

A conversa entre Maduro e o jornalista Jordi Évole, que já o entrevistou em outra ocasião, aconteceu no Palácio Miraflores, a sede da presidência venezuelana, e foi exibida justo no último instante do ultimato de oito dias que a Espanha e outros países da União Europeia deram para que ele convocasse eleições presidenciais ou, caso contrário, reconheceriam Juan Guaidó como presidente interino.

A entrevista esteve marcada por reprimendas e críticas de Évole a algumas afirmações de Maduro, que denunciou repetidamente que "a Venezuela é vítima" de uma campanha de agressão liderada por Trump e seguida "de forma canina" por alguns governos de direita da América Latina.

Leia também: Crise na Venezuela: Quem são os opositores de Maduro que prometem resistência também contra Guaidó

"Estamos ameaçados pela maior potência do mundo. A opção militar está sobre a mesa de Donald Trump", insistiu o presidente venezuelano, que assinalou que este não é seu desejo, pois "isto não tem porque acabar mal".

Por outro lado, Maduro louvou a posição de governos como os do México e do Uruguai, que convocaram "uma conferência" para promover uma saída dialogada para a crise.

"Trump impôs ao Ocidente uma política equivocada. Não vamos nos submeter", garantiu o líder chavista, que acrescentou: "Eu não me nego a convocar eleições, teremos eleições presidenciais em 2024".

Ao ser perguntado sobre se pensa em deixar o cargo, sua resposta foi: "ir para onde?", e criticou os dirigentes europeus, especialmente o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez, pelo ultimato que se encerrou neste domingo.

Maduro opinou que Sánchez, assim como os restantes, "tem se curvado" aos desígnios da Casa Branca, e acusou o dirigente espanhol de ser "um farsante" porque "não foi eleito por ninguém", mesmo após Évole tê-lo lembrado que na Espanha é o Congresso que elege o presidente de governo.

Maduro insistiu em culpar atores externos por sua influência na maioria dos problemas políticos, econômicos e sociais venezuelanos, e também acusou o próprio entrevistador de ter sido "envenenado" pela campanha negativa feita pelos mesmos.

No entanto, o presidente chavista também admite que cometeu "erros" em sua gestão. "Somos vítimas de uma agressão externa, mas, sem sombra de dúvida, somos responsáveis por muitas coisas", frisou.

Questionado sobre a inflação e a crise de abastecimento de produtos básicos, Maduro insistiu que seu país é alvo de "uma guerra econômica brutal" e "não vive uma crise humanitária", mas política.

Leia mais: Maduro fecha cerco à imprensa com prisão de jornalistas estrangeiros

Mesmo assim, reconheceu que as sanções econômicas dos EUA "causam prejuízo", mas voltou a insistir que isto não vai abalar seu governo.

Sobre Guaidó, Maduro diz que "existe apenas um presidente" na Venezuela, já que ele controla toda a máquina do Estado, por isso "não há um governo paralelo".

Apesar de dizer que está "aberto ao diálogo", Maduro fez questão de lembrar que o Ministério Público pediu ao Tribunal Supremo que inicie um procedimento contra Guaidó "por possível violação constitucional por parte deste deputado" e qualificou de "palhaçada" a autoproclamação como presidente interino feita pelo opositor.

Évole chegou a telefonar para Guaidó para tentar uma conversa com Maduro, mas a ligação caiu na caixa postal, que já estava cheia.

Mesmo assim, Maduro enviou uma mensagem ao deputado opositor: "pense bem no que está fazendo" e não provoque dano ao país com sua "estratégia golpista".

O presidente venezuelano rejeitou a existência de uma crise humanitária no país e cifrou o número de cidadãos que emigraram em entre 600 mil e 800 mil, frente aos 3 milhões estimados pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Maduro explicou que "muita gente tem sido enganada" e assegurou que milhares deixaram o país "com uma falsa visão, mas têm se dado conta" e "estão retornando".

A entrevista começou com uma pergunta de Jordi Évole sobre os jornalistas de vários países estrangeiros detidos brevemente na semana passada, entre eles três correspondentes da Agência Efe que foram capturados no dia 30 em Caracas e libertados no dia seguinte.

Maduro garantiu que "não houve detenção de jornalistas" e que se tratou apenas de uma "revisão" como ocorre em outros países. No entanto, a equipe da Efe, que partiu de Bogotá (Colômbia) para fazer a cobertura, já tinha passado por essa revisão vários dias antes ao se identificar na chegada ao aeroporto de Caracas.

Veja também:

Da Venezuela ao Iêmen: os conflitos que merecem atenção em 2019

Últimas