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'EUA e Europa têm que conter o Irã', diz diplomata em Dubai

Em entrevista ao R7, Ilan Sztulman, cônsul-geral de Israel em Dubai, Emirados Árabes, fala sobre o acordo inédito e do trabalho para integrar a região

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

Ilan Sztulman foi embaixador na Argentina
Ilan Sztulman foi embaixador na Argentina Ilan Sztulman foi embaixador na Argentina

Da costa de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, é possível ver o Irã, do outro lado do Golfo Pérsico. A distância geográfica é curta, mas ambos os países mantêm divergências políticas e religiosas que ajudaram na aproximação com Israel, antes um inimigo comum de ambos.

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Desde o acordo entre Israel e Emirados Árabes, em agosto último, a presença da comunidade judaica em cidades como Dubai cresceu muito. E os negócios se aceleraram a ponto de se pensar em uma nova configuração para o Oriente Médio, com muito maior diversidade e intercâmbio comercial.

Em entrevista ao R7, o cônsul-geral de Israel em Dubai, Ilan Sztulman, que assumiu o cargo na última semana, conta que as transações comerciais e os negócios entre os dois países chegam a US$ 300 milhões somente nestes cinco meses de acordo. Sztulman já encabeçou várias missões diplomáticas, nos Estados Unidos, Brasil e na Argentina, onde foi embaixador israelense até 2019.

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Esta missão, no entanto, ele considera especial "por estar abrindo uma relação formal que ainda não existia".

Segundo ele, o acordo entre os dois países tende a ser o início de uma mudança de paradigma na região, que, até então, era marcada por hostilidades de países árabes em relação a Israel. Confira.

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R7 - Quais são seus objetivos nesta nova função, em um momento histórico de aproximação entre Israel e Emirados Árabes?

Ilan Sztulman - O trabalho de representar o Estado de Israel é o mesmo, em relação a atividades que fiz em outros países, de trazer a cultura israelense e intepretar a cultura local, conhecendo pessoas, estar em contato permanente com ambos os lados. Mas do ponto de vista cultural há elementos completamente diferentes. Diferentemente de outras missões, agora não tínhamos nenhum relacionamento diplomático. Estarei abrindo uma relação formal que ainda não existia. Tudo o que for feito será algo novo e terá um impacto no acordo de paz.

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R7 - Como você foi recebido, levando em conta as divergências históricas que existiam entre judeus e árabes?

IS - Foi algo impressionante, fui muito bem recebido. Na rua, se escuta pessoas falando em hebraico. No Burj Khalifa (conhecido arranha-céu em Dubai) eu vi grupos de ortodoxos judeus. Havia uma comunidade judaica pequena antes, mas agora há uma efervescência. Há também a presença de rabinos do Chabad (linha ortodoxa mais popular da comunidade). A receptividade ao acordo é muito boa e considero esse momento algo histórico. Fico honrado e emocionado em estar participando.

R7 - Do ponto de vista comercial, já é possível apontar alguns resultados práticos?

IS - Em cinco meses de acordo, o volume de negócios já é de US$ 300 milhões. Isso levando em conta que há muias questões burocráticas, como a integração do sistema bancário dos dois países, que demorou dois meses para funcionar. Isso é só o começo. O potencial é muito grande.

R7 - Após ter passado por várias missões em países como Estados Unidos, Brasil e Argentina, onde você foi embaixador, sua ida para os Emirados pode simbolizar essa política de Israel buscar cada vez mais uma influência global?

IS - Sim, especialmente no mundo árabe. Esta é a grande diferença no momento. Uma nova etapa. Israel já tem essa influência no mundo ocidental há anos. Mas no mundo árabe, muçulmano, onde prevalece a sharia (lei islâmica), a situação é inédita. Já tínhamos acordos de paz estabelecidos com Egito e Jordânia, mas chamaria esta paz de uma paz fria. Em relação aos Emirados, o diferencial é brutal. Fomos recebidos com uma cordialidade imensa. Disse a colegas que estou sendo melhor recebido do que eles em muitos outros países tradicionalmente amigos de Israel. Isso mostra uma mudança de paradigma.

R7 - A falta de uma resolução para a questão palestina pode prejudicar essa mudança de paradigma?

IS - Sempre pensaram que a raiz dos conflitos entre Israel e países árabes era a questão palestina. Mas esses últimos acordos de Israel são prova de que não é isso, de que podemos ter paz antes mesmo de que essa questão seja resolvida. A dinâmica está mudando em relação aos países do Golfo.

R7 - Mas essa aproximação prejudica ou pode ser benéfica em relação à negociação com os palestinos?

IS - Pode ser benéfica. O espírito de maior abertura pode influenciar positivamente nas negociações com os palestinos. Pode apontar um novo caminho. Haverá eleições palestinas em breve e é possível que venha uma nova liderança, disposta a negociar, na Autoridade Nacional Palestina. Essa é a expectativa e se isso ocorrer o nosso objetivo é reiniciar as conversações.

R7 - Até que ponto a influência do Irã na região estimulou a assinatura dos acordos de paz de Israel com os países árabes?

IS - Esta acabou sendo uma das razões que motivaram a aproximação. Países árabes entenderam que o inimigo deles é o Irã, e não os Estados Unidos ou Israel. O governo do Irã espalha terror na Europa, na América Latina, agora na Índia. Tentaram desestruturar o Bahrein, aqui nos Emirados financiam grupos de terror. Parte dessa mudança veio da consciência de que Israel é aliado para combater essa postura do Irã, espero que esse movimento resolva ao fortalecer uma ala mais moderada e liberal iraniana. Por enquanto isso não está ocorrendo.

R7 - Quais expectativas de Israel em relação ao novo governo dos Estados Unidos, com Joe Biden na presidência. O governo anterior, de Donald Trump, havia retirado os Estados Unidos do acordo nuclear e aumentado as sanções contra o Irã.

IS - As sanções não têm mudado muita coisa. A informação de que o Irã começou a enriquecer o urânio em 20%, deixando o limite de 8%, é preocupante demais. Nesse nível de purificação do urânio, é possível produzir uma bomba atômica em questão de meses. Estamos muito preocupados e conversamos com o novo governo americano e com a Europa para que haja a continuidade de uma política de aperto em relação ao Irã. É preciso conter o Irã, para impedir que o país disponha de capacidade nuclear. O medo é geral também na região. Um governo que está tomado por grupos terroristas passar a ter uma bomba atômica é um perigo. A lógica é que, a partir disso, o próximo passo deste país seja a utilização deste armamento.

R7 - De que maneira o próprio acordo de Israel com os Emirados Árabes pode ajudar a neutralizar uma eventual intenção beligerante do Irã?

IS - O Irã está sob sanções, mas há comércio forte com Emirados Árabes e Bahrein. Daqui de Dubai podemos ver o Irã do outro lado, há barcos iranianos no mar e um intercâmbio de produtos. Eles precisam da aliança com os Emirados e com o Bahrein. Nós estando aqui pode ser um outro passo no sentido de o Irã finalmente dizer: chega desta guerra armamentista, chega desta política beligerante!

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