Execução de funcionário sul-coreano na Coreia do Norte reabre tensões
Investigações de Seul apontam que homem foi interrogado no mar antes de ser baleado e ter o corpo queimado. Pyongyang não passou informações
Internacional|Da EFE, com R7

Seul disse nesta quinta-feira (24) que tropas norte-coreanas executaram e cremaram um oficial da Coreia do Sul que havia desaparecido nesta semana na fronteira marítima entre os dois países, um ato que chamou de "brutal" e "desumano" e prometeu aumentar a tensão na península.
O funcionário de 47 anos, identificado apenas como "A", desapareceu na última segunda-feira (21), em plena luz do dia, do navio do Ministério das Pescas onde trabalhava.
Quando seus companheiros relataram o desaparecimento à guarda costeira, o navio, encarregado de supervisionar as atividades pesqueiras, estava a cerca de 10 quilômetros da fronteira marítima intercoreana no Mar Amarelo, a apertada e disputada Linha Limite Norte (LLN).
‘Ato brutal’
"Como resultado da exaustiva análise militar que fizemos de vários materiais de inteligência, confirmamos que a Coreia do Norte cometeu o ato brutal de atirar e incinerar o corpo deste cidadão da República da Coreia (nome oficial do Sul) em águas norte-coreanas", disse o Ministério da Defesa Nacional em um comunicado.
Por sua vez, o gabinete presidencial sul-coreano também condenou duramente o evento e instou Pyongyang a revelar tudo o que aconteceu em torno deste "ato desumano", segundo outra declaração assinada pelo vice-diretor do Escritório de Segurança Nacional, Suh Choo-suk.
O porta-voz do Ministério da Unificação, Yoh Sang-key, disse em Seul que a ação "equivale a despejar água fria em nossa paciência e esforços constantes pela reconciliação e paz inter-coreanas, e é totalmente contrária aos desejos de nosso povo".
As autoridades do sul têm tentado, sem sucesso, contatar o Norte a respeito do evento, o que reflete o mau momento que vive a relação bilateral.
Desde o fracasso da cúpula de Hanói entre Pyongyang e Washington em fevereiro de 2019, o regime endureceu sua posição em Seul e em junho destruiu o escritório de ligação inter-coreano em seu território em protesto contra a propaganda enviada por ativistas sul-coreanos.
Desde então, Pyongyang cortou as linhas de comunicação transfronteiriças.
Primeira vítima sul-coreana em 10 anos
É a primeira vez que um civil sul-coreano morre nas mãos do exército norte-coreano desde novembro de 2010, quando um bombardeio ao norte da Ilha Yeonpyeong, localizada precisamente na mesma área onde o oficial desapareceu, custou a vida de dois habitantes da ilha e dois soldados.
Antes disso, em julho de 2008, soldados do Exército do Povo Coreano (KPA) mataram a tiros um sulista que estava de férias no resort do norte de Mount Kumgang e que aparentemente entrou em uma zona militar restrita.
De acordo com inteligência analisada por Seul, uma patrulha marítima norte-coreana localizou o oficial, que vestia um colete salva-vidas e se agarrava a um objeto flutuante, um dia após seu desaparecimento no mar.
O homem teria sido deixado na água e os soldados, cobertos com máscaras de gás, o interrogaram do convés.
Horas depois e "por ordem superior correspondente", o homem foi baleado e seu corpo, depois de encharcado de combustível, foi cremado, segundo o chefe de operações do Estado-Maior Conjunto da Coréia do Sul (JCS), Ahn Young- ho.
Equipes de vigilância instaladas na Ilha Yeongpyeong capturaram as chamas resultantes, detectadas cerca de 38 quilômetros a noroeste de onde o barco do Ministério das Pescas estava localizado quando "A" desapareceu.
Possível deserção
Seul suspeita que "A" planejava desertar para o Norte.
No dia do seu desaparecimento, o mar estava calmo e a zona cheia de embarcações (é o pico da época do caranguejo), mas ninguém reportou nada.
O homem, pai de dois filhos e divorciado há quatro meses, devia mais de 20 milhões de won (cerca de R$ 95 mil) às pessoas com quem trabalhava e tinha recebido um aviso de apreensão de salário de um tribunal, de acordo com o jornal sul-coreano Yonhap.
De qualquer forma, o local exato onde o calçado do oficial foi encontrado é justamente um ponto cego para as câmeras do circuito interno do navio, portanto parece impossível determinar se "A" caiu ou pulou na água.