Família colombiana faz sucesso nas redes mostrando a vida no campo

Há três meses, Nubia Cardenas e outros camponeses da região montanhosa próxima de Bogotá, na Colômbia, decidiram abrir um canal no YouTube para contar como é a rotina de trabalho e vida no campo. Junto com Jeimmer e Arley, seus filhos, e a cachorrinha caramelo Luna, ela ensina a plantar e cuidar dos animais.

Mais do que apenas um vídeo tutorial como muitos que já existem na plataforma, a família compartilha também muito amor pela vida no campo e o orgulho de viver da terra. Os vídeos são leves e contam com as brincadeiras de crianças dos irmãos, muitas risadas, carinhos na Luna, sem deixar de abordar os assuntos sérios. 

O trabalho de Nubia relembra as pessoas que vivem nas grandes cidades — e não conhecem os desafios enfrentados pelos pequenos produtores até a comida chegar à sua mesa — de que a vida delas depende dos alimentos produzidos no campo. É uma maneira de distribuir informação como a família de agricultores também distribui alimentos: direto do produtor para o consumido.

Como na maioria dos países, é difícil para Nubia e para os pequenos agricultores viverem apenas dos produtos provenientes do campo, já que eles possuem um baixo valor na hora da venda, ainda que sejam essenciais à vida.

Além disso, ainda existe a sazonalidade dos alimentos, o que faz com que os ingressos destas famílias não sejam constantes o ano todo.

E quanto maior a distância de onde são produzidos para o local de venda final ao consumidor, mais caro o frete, o que rebaixa ainda mais os preços dos alimentos e produtos que saem das zonas rurais. Nessa conta, são os pequenos agricultores que acabam arcando com esse custo.

Montanhas frias, corações quentes

Mesmo neste cenário de adversidades, a família de Nubia se orgulha se ser camponesa.

Os filhos, ainda em idade escolar, são também professores nos vídeos. Eles ensinam a fazer pequenas hortas, abordam as propriedades nutritivas dos alimentos e falam do canal de vendas que beneficia ao menos 20 famílias da região.

O projeto cresceu e eles já possuem mais de 600 mil inscritos e alguns vídeos tiveram mais de 1 milhão de visualizações. "Assistíamos muitos vídeos, mas não sabiamos muito sobre como fazê-los. No começo foi difícil, mas as crianças são mais rápidas nesta parte. Eles gostam muito de participar", conta Nubia.

A mãe de família ainda se emociona ao contar um evento que mudou sua vida no passado. Há dois anos e um mês Nubia perdeu o marido por um problema de saúde. A partir de então, as condições de vida da família pioraram.

Nubia enfrentou problemas financeiros, já que o marido ajudava com o trabalho. "Foi muito pesado tudo, muito complicado, mas a gente tem que seguir em frente", comenta ela com a voz embargada.

Mas o enorme coração de Nubia não lhe permitiu estagnar frente a esta situação. la continuo nas terras onde vivia e seguiu adiante com a vida e seus dois filhos. A mensagem principal é que continuem apoiando os produtos do campo da Colômbia.

"Quando vocês se encontrarem com um camponês molhado de suor de tanto trabalhar, estendam a mão, porque ele é o ser mais bonito que está trabalhando para levar comida para as pessoas", diz Nubia.

Pandemia e novas oportunidades

Apesar dos efeitos econômicos e sanitários que a pademia do novo coronavírus gerou em diversos lugares, Nubia conta que sua rotina não sofreu muitas mudanças, exceto pela paralisação das aulas nas escolas. "A gente já vive praticamente assim, sem sair muito de casa", comenta.

Mas também foi durante a pandemia que ela abriu seu canal e comoveu o engenheiro civil Sigifredo Moreno, que decidiu apoiar as família vizinhas de Nubia. Ele, que possui terras na mesma região, percebeu o quanto essas família estavam perdendo com as vendas de seus produtos.

"As grandes cadeias ficam com grandes fatias do lucro do que é produzido no campo, uns 90% mais ou menos", relata Moreno. Foi então que ele decidiu ajudar a distribuir estes produtos em Bogotá, permitindo que estas famílias passassem a ganhar um valor justo por seus produtos.

As 20 famílias que estão vinculadas à loja virtual puderam cobrar um valor maior do que era vendido anteriormente. "Quando convidamos estas famílias pedimos para que eles colocassem um preço justo para os produtos, sem que eles perdessem com essa venda", comenta Moreno.

"Criamos um novo mercado direto entre o camponês e o consumidor, e os produtos têm uma ótima aceitação", explica o engenheiro. Além das 20 famílias produtoras, eles também conseguiram apoiar outras 8 em Bogotá com a loja virtual, que só vê as vendas subindo, com envios para todo o país.

A vida de Nubia começou a mudar e ela conta que as crianças estão felizes com a ajuda que vêm recebendo depois que sua história ganhou o mundo. E ela está contente que outras famílias da vizinhança também estão conseguindo tirar o sustento da terra com menos dificuldades.

De acordo com Sigfredo Moreno, agora o problema é dar conta da demanda, "já precisamos de mais produtos, porque os clientes adoraram".