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A violência contra a mulher na Índia está cada vez mais assustadora. Tratadas como se não fossem seres humanos, muitas indianas são vítimas de estupros dentro e fora de casa, agressões físicas e psicológicas, ataques com ácido e os chamados "crimes de honra" registrados todos os dias no país e muitos outros que nem chegam a ser denunciados.
Desde o fim de 2012, quando uma jovem estudante foi brutalmente estuprada e morta em ônibus, o país vem chamando a atenção do mundo e despertado a indignação de homens e mulheres pelos maus tratos sofridos pelas indianas.
A seguir, relembre alguns dos crimes que geraram revolta na ÍndiaMontagem R7
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ESTUPROS E MORTES
A onda de manifestações pelo fim da violência contra a mulher na Índia começou a chamar a atenção do mundo em dezembro de 2012. Milhares de pessoas tomaram as ruas da capital, Nova Déli, em protesto contra o estupro coletivo de uma jovem por seis homens, ocorrido dentro de um ônibus no dia 16.
A vítima, Jyoti Singh Pandey, uma estudante de 23 anos, morreu em decorrência de ferimentos graves na vagina e no intestino. Ela foi estuprada por uma hora, antes de ser jogada para fora do veículo, enquanto ele estava em movimento
Veja a galeria completa: estupro coletivo em ônibus enfurece indianos e leva multidão às ruas de Nova DéliRAVEENDRAN/AFP
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No dia 4 de junho, uma adolescente foi encontrada enforcada em uma árvore após ter sido vítima de estupro no Estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia. O corpo da jovem de 15 anos foi encontrado no dia anterior pendurado em uma árvore na região de Mishrikh.
De acordo com fontes policiais em declarações à agência de notícias Ians, o pai da jovem chegou a denunciar que um vizinho, identificado como Ramesh, abusava frequentemente de sua filha e, inclusive, teria a ameaçado de morte caso contasse a sua família
Leia a história na íntegraReprodução/ India TV
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Uma indiana de 35 anos, casada e mãe de cinco filhos, foi morta no dia 3 de junho após resistir a uma tentativa de estupro. A polícia indiana declarou que ela estava em casa com o marido e os filhos, quando cerca de cinco militantes armados do Gnla (Exército de Libertação Nacional Garo) entraram no local e trancaram todos os membros da família em um quarto e deixaram somente a indiana para fora.
De acordo com um porta-voz da polícia, o grupo tentou violentar a mulher, mas ela resistiu com força e foi morta pelos homensReprodução/ India TV
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Um dos casos de violência contra a mulher mais brutais que já foi noticiado na Índia ocorreu no dia 30 de maio, quando uma jovem foi estuprada, obrigada a beber ácido e estrangulada até a morte por vários homens no Estado de Uttar Pradesh, no norte do país.
O corpo da jovem de 22 anos foi encontrado com o rosto completamente desfigurado pelo ácidoAFP
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No mesmo dia, outro crime envolvendo violência sexual e crueldade contra crianças chocou o mundo. Dois responsáveis por um centro de assistência foram presos por abusar sexualmente de crianças, de 4 a 15 anos, e obrigá-las a comer fezes de animais.
O presidente da Chandapracha Charitabele Trust, Ajit Dabholkar, e a gerente, Lalita Tonde, foram denunciados após uma das crianças abusadas contar a situação de terror que vivia no localReprodução
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Na Índia, não são raros os casos de aborto de fetos femininos, assim como os de assassinato de meninas recém-nascidas. As que sobrevivem enfrentam discriminação, preconceito, violência e negligência ao longo da vida, sejam solteiras ou casadas
PRAKASH SINGH/AFP
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No entanto, a violência sexual também se estende, em alguns casos, a meninos indianos. No dia 27 de maio, um garoto de dez anos foi estuprado por oito homens em Nova Déli, capital do país.
Ameaçado de sofrer graves consequências se contasse para alguém o que aconteceu, o menino ficou quieto até o dia 2 de junho, quando o irmão dele viu pessoas caçoando da criança e o forçou a contar o que havia ocorridoReprodução/Oneindia
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Duas adolescentes dalits — ou intocáveis, grupo social que ocupa o nível mais baixo no sistema de castas — foram estupradas por vários homens que depois as enforcaram em uma árvore no norte da Índia. O crime foi noticiado no dia 19 de maio por veículos de imprensa locais.
Os corpos das menores de idade, duas primas de 14 e 15 anos, foram fotografados pendurados em uma árvore na cidade de Katra, em um caso que gerou protestos dos vizinhos por omissão policial
Leia a história completa: adolescentes dalits são estupradas e enforcadas em árvore na ÍndiaReprodução Rede Record
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Como, em muitos casos, os crimes de violência sexual não são investigados devidamente pela polícia, algumas das vítimas acabam recorrendo à vingança.
Uma jovem e dois amigos foram presos em Nova Déli no dia 5 de maio por matar e arrancar o marca-passo do pai da moça para garantir que o mesmo tinha morrido, pois o homem abusava sexualmente de sua filha. O homem foi morto com golpes de um taco de críquete enquanto dormia em sua casa na capital indiana16.12.13/REUTERS/Adnan Abidi
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Uma turista suíça, de 39 anos, foi estuprada por oito homens na frente do marido, quando o casal passava férias na Índia.
O casal estava viajando de bicicleta entre duas cidades quando resolveu acampar em um vilarejo. A gangue atacou os dois atingindo-os com tacos de madeira, renderam o marido e estupraram a mulher.
Acima, a turista é escoltada até o hospital para fazer examesAP Photo
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"CRIMES DE HONRA"
Uma mulher morreu queimada viva por seu marido e seus sogros no norte da Índia por não pagar o dote matrimonial exigido pela família, informaram meios de comunicação locais no dia 9 de maio deste ano.
A vítima foi envolvida com querosene e depois atearam fogo em seu corpoSANJEEV GUPTA/EFE
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Em janeiro deste ano, uma mulher foi condenada por um tribunal popular a sofrer agressões sexuais por ter cometido o crime de se “apaixonar” por homem de outra aldeia.
Ainda existem muitos tribunais populares no país, funcionando às margens da lei. Os julgamentos, feitos por um conselho local, costumam decretar penas violentas, como surras, estupros e assassinatos.
Acima, mulher é fotografada com a inscrição "amor não é um crime" pintada no rosto durante manifestação -
Uma indiana de 24 anos foi estuprada "sem piedade" pelos cunhados pouco após a cerimônia de casamento e durante vários meses seguintes, até conseguir fugir da casa do marido. A jovem foi obrigada a se casar para restaurar a "honra" do noivo, depois que a primeira mulher dele fugiu com o irmão da vítima.
"Eu concordei [com o casamento] porque sabia que haveria um grande derramamento de sangue na vila, caso eu me recusasse a casar com ele", disse a jovem à polícia , em julho de 2013Reprodução/dailymail.co.uk
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Dois jovens foram brutalmente assassinados no distrito indiano de Rohtak, no dia 18 de setembro de 2013, em mais um caso de “crime de honra”. O casal havia fugido da aldeia onde moravam, mas retornaram após serem enganados com a promessa de que poderiam ficar juntos.
Nidhi Barak, de 20 anos, e seu namorado, Dharmender Barak, de 23 anos, foram torturados durante várias horas na casa da jovem. Em seguida, ela foi espancada até a morte em público. Barak também foi agredido e teve seus braços e pernas quebrados, antes de ser decapitado. Seu corpo teria sido jogado perto da casa de sua família, em uma praça pública da vila -
ATAQUES COM ÁCIDO
A indiana Laxmi é dona de um história triste, mas que acabou tendo um final feliz. A indiana foi atacada com ácido por um pretendente que ela rejeitou, e que resolveu se vingar desfigurando o rosto da moça quando ela tinha apenas 14 anos.
Uma década depois, ela encontrou o amor em outro ativista da mesma causa: Alok. O casal lidera a luta contra os ataques com ácido no país à frente da ONG Stop Acid Attacks (Parem com os Ataques com Ácido, em tradução livre)
Leia a história completaReprodução/Stop Acid Attacks
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Chanchal, de apenas 19 anos, mostra timidamente as marcas deixadas por um ataque com ácido em seu rosto, em uma reportagem feita pela BBC Brasil que falava sobre a ONG Stop Acid Attacks
AP Photo/Altaf Qadri
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Em novembro de 2013, duas jovens foram atacadas com ácido depois que uma delas rejeitou a proposta de casamento do agressor, identificado como Manoj, que foi preso após tentativa de fulga.
Ele lançou ácido sobre uma jovem de 18 anos, que sofreu queimaduras em 50% de seu corpo, e também atingiu uma amiga da vítima, de 16, que teve ferimentos mais levesReprodução/ibnlive.in.com
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Ataques dentro de casa faziam parte da rotina de Reshma (foto), mãe de cinco filhas e grávida pela sexta vez. Em entrevista à BBC, ela contou que ficou em silêncio por muitos anos em relação à violência de seu marido, até que ele a atacou com ácido.
"Meu marido me tratava muito mal pois eu dei apenas filhas a ele. Ser espancada sem piedade se transformou em uma rotina para mim. Ele queria um filho", disse.
— Quando fiquei grávida pela sexta vez, ele insistiu em um aborto se viesse outra menina. Eu me recusei, e tivemos uma grande briga. Ele jogou ácido em mim, tentando atingir minha vagina e ventre.
Reshma passou por uma cirurgia para reparar os danos causados pelo ácido e a criança conseguiu sobreviver
Leia a matéria completaBBC Brasil
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GANGUE ROSA
A gulabi gang é uma organização de mulheres que, vestidas com seus sáris (roupa tradicional das indianas) cor-de-rosa, estão lutando pelos direitos femininos no país. Definidas como "vigilantes" e inconformadas com o nível de violência do país, as mulheres perseguem estupradores com varas.
"Sim, nós atacamos estupradores com varas (...) para que eles não se atrevam a tentar fazer mal a qualquer menina ou uma mulher de novo", diz Sampat Devi Pal, fundadora e líder do grupo, segundo a rede Al JazeeraReprodução/aljazeera.com
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Sampat descobriu o poder da vara na década de 1980, quando usou uma contra um vizinho que abusava da mulher. A intervenção teve resultado e acabou inspirando um movimento que agora possui uma rede de 400 mil mulheres em 11 distritos da Província de Uttar Pradesh.
As integrantes da gangue rosa combatem a violência contra as mulheres, ajudam vítimas a conseguirem prestar queixa na polícia, impedem o casamento de crianças, organizam casamentos de casais apaixonados (que não tenham aprovação das famílias, contribuem para garantir a ajuda do governo aos mais pobres e combatem a corrupção)Reprodução/hudsonvalleyalmanacweekly.com