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As leis russas proíbem que pessoas no país usem o termo "guerra" para se referenciar ao conflito armado na Ucrânia. Ao invés disso, os moradores da Rússia devem chamar o confronto de operação militar especial. Mas qual a diferença entre guerra, operação militar especial e outras missões, como as de paz?
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O professor de relações internacionais da ESPM-RS, Roberto Uebel, conta ao R7 que usa um conceito do general prussiano Carl von Clausewitz para explicar aos seus alunos o que é a guerra
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"[Von Clausewitz] fala que a guerra no sentido da geopolítica é quando você tem um ataque de um Estado a outro e há uma resposta do Estado atacado. Então, lá no começo da invasão russa-ucraniana, a gente não chamava de guerra porque não existia uma resposta, de fato, da Ucrânia", explica Uebel
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A tão defendida operação militar especial de Putin, porém, se trata simplesmente de uma guerra, conta Hubel. Apesar do termo não poder ser utilizado na Rússia, as características do conflito apontam para a explicação dada por von Clausewitz por volta do século 18
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"Na realidade, uma operação militar especial não deixa de ser um ato de guerra. Então, isso faz parte daquela guerra de narrativas na qual Rússia e Ucrânia fazem parte, mas a gente não pode dizer que, por exemplo, os ataques que estão ocorrendo hoje na Ucrânia seriam uma simples operação militar", destaca Uebel
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Se Putin diz que invadiu a Ucrânia para levar a paz aos falantes do idioma russo no país, Uebel discorda e diz que não é possível considerar a operação militar especial neste conceito. "Não podemos dizer que a invasão russa à Ucrânia seja considerada uma missão de paz. Desconheço missão de paz que já tenha causado 8 milhões de refugiados, centenas de milhares de feridos, de óbitos, de pessoas deslocadas internamente e que tenha desestabilizado o país"
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O professor da ESPM-RS explica que existe diferença entre missão de paz, missão de manutenção da paz e missão pacificadora. Uma missão de paz, por exemplo, é uma operação que busca estabelecer a paz em uma região de conflito, geralmente comandada pelos capacetes azuis da ONU
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O Brasil, inclusive, já esteve envolvido em uma operação deste tipo quando levou tropas do exército para o Haiti a pedido da ONU. "Nós tivemos a Minustah — missão para estabilização do Haiti —, na qual o Brasil foi um dos países que comandou essa ação, que era uma missão para manutenção da paz", conta Uebel
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Em 2008, na Geórgia, a Rússia também tinha função parecida para a manutenção da paz no país. Entretanto, o governo de Putin acabou colaborando para a autoproclamação de independência de duas regiões separatistas da antiga república soviética após um confronto armado que ocorreu por poucos dias
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A missão pacificadora, por sua vez, é uma ação que busca trazer a paz até em territórios nacionais. Um exemplo citado por Uebel foi a operação policial no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, onde a Polícia Militar tentou expulsar os integrantes do tráfico de drogas da comunidade