Franceses vão às urnas neste domingo e podem definir segundo turno entre candidatos extremos
Marine Le Pen tem caído nas pesquisas, enquanto Jean-Luc Mélenchon ganhou seguidores
Internacional|Marta Santos, do R7
Os franceses irão às urnas neste domingo (23) para definir quem será o sucessor do presidente François Hollande. As pesquisas de intenção de voto mais recentes mostraram que quatro candidatos teriam chances reais de ir para o segundo turno, que será realizado em 7 de maio: Marine Le Pen, líder da extrema-direita; François Fillon, conservador; Emmanuel Macron, centrista; Jean-Luc Mélenchon, de extrema-esquerda.
No início da corrida eleitoras, a disputa estava mais acirrada entre Macron e Le Pen, porém os outros dois candidatos deram uma guinada nas últimas semanas, principalmente, Mélenchon.
Essa mudança no cenário político francês, que levou ao “empate quádruplo” entre os candidatos, pode ter sido motivada pelo extremismo de Le Pen, que era considerada a candidata mais forte, explica Demétrius Pereira, professor de Política Europeia das Faculdades Integradas Rio Branco.
— O eleitorado francês não é muito aberto aos extremos. Os governos, até hoje, foram mais para direita ou mais para a esquerda, porém próximos do centro. Então, parece que não há uma aproximação assim tão grande com a Le Pen. Também há o fato de ela ter sofrido mais ataques dos outros candidatos e ter passado um pouco para a defensiva. Então, ficou meio que todo mundo contra ela. Talvez o sucesso desses ataques acabou derrubando ela um pouco nas pesquisas também.
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A perda de força de Le Pen nas últimas semanas deixou o panorama das eleições francesas ainda mais difícil de prever.
— Diante de toda essa incerteza, o que parece certo é que a votação vai para o segundo turno, resta saber com quais candidatos. Nesse momento, o Mélenchon é o que parece ter mais força para bater de frente com Le Pen. Ela é de extrema-direita e ele é de extrema-esquerda. Então, pode ser que os franceses tenham que escolher um extremo, ainda que eles não gostem.
A França é uma República Parlamentarista, ou seja, tem um presidente e um primeiro-ministro. Além das eleições presidenciais, a França também terá eleições parlamentares este ano, em 11 e 18 de junho. O novo premiê do país será nomeado, pelo presidente, dentre os membros do Parlamento.
— É uma forma de governo bastante única, que chamamos de semipresidencialismo. O presidente tem mais poderes do que o premiê, por isso mesmo essa eleição presidencial é tão importante. A vantagem desse sistema é que o presidente é chefe de Estado e o primeiro-ministro é chefe de governo, então eles dividem o Poder Executivo.
Consequências para a União Europeia
A eleição francesa poderá mudar redefinir completamente a dinâmica UE. Mélenchon é crítico do bloco, mas não tanto quanto Le Pen, que já chegou a dizer que a França deveria sair do bloco.
Para Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o bloco está falhando em encontrar formas de resolver as insatisfações internas.
— O enfraquecimento da UE vem vindo desde 2008, e só vai mudando de cara. Começou com a crise do euro, passou pela situação super precária da Grécia e, agora, tem a crise dos refugiados impulsionando essa extrema direita. No momento, a UE parece querer resolver esses problemas reafirmando os princípios europeus, mas, talvez, a resposta seja outra. Para a UE sobreviver, vai ter que se flexibilizar e afrouxar um pouco os parâmetros da integração. Há uma perspectiva de aumento das forças contra a integração europeia, mas, na verdade, a Europa sempre tem esses momentos de questionamento em relação à integração e, quando isso acontece o argumento contra UE se fortalece. A questão da crise econômica ainda pressiona muitos países e a população começa também a questionar o quanto a política imigratória da UE não atrai ainda mais imigrantes.