Julgamento de 33 manifestantes em Cuba provoca choro e tensão
Familiares e amigos aguardaram do lado de fora do tribunal e chegaram a ser detidos por gritarem 'justiça' e 'liberdade'
Internacional|Do R7

A tensão era palpável em frente ao tribunal de Havana onde 33 manifestantes das inéditas manifestações de 11 de julho foram julgados nesta semana por sedição. Assustados, familiares aguardavam notícias em um parque vizinho, apesar da detenção de vários deles na última segunda (31) por gritarem palavras de ordem como "justiça" e "liberdade".
"Na segunda-feira houve um problema aqui. Fui detida, tenho medo de que voltem a me deter", disse com os olhos úmidos Belkis Ortiz, avó de Duannis Dabel León Taboada, jovem de 22 anos que participou das manifestações históricas de julho e a quem a promotoria pediu 21 anos de prisão.
Um total de 33 manifestantes foram julgados entre segunda (31) e quinta-feira (3) pelo crime de sedição no tribunal do distrito 10 de Octubre, em Havana. A promotoria pede sentenças de até 25 anos de prisão.
Sentada ao pé de uma árvore, Belkis Ortiz esperava na quarta-feira no mesmo parque onde foi detida na segunda, quando estava com cerca de 30 pessoas que formavam uma roda para pedir "liberdade" a seus familiares.

A organização opositora Justiça 11J, que registra esses casos, postou um vídeo no qual estas pessoas aplaudem, enquanto gritam palavras de ordem. Ao menos 14 foram detidas "com violência", entre elas ativistas como Carolina Barrero, informou a entidade.
Como ocorreu com outros jovens dissidentes, na quinta-feira Barrero foi forçada a deixar o país, com destino a Madri.
"A segurança do Estado me deu 48 horas para sair", relatou no Facebook, explicando que, se não fosse embora, as mães detidas e ativistas "seriam instruídos pelo crime de desordem pública".
"Extrema violência"
A audiência de segunda-feira foi realizada com forte mobilização policial, que chegou em patrulhas e ônibus. Agentes à paisana foram enviados às imediações do tribunal.
Este caso é conhecido como o julgamento de Toyo, nome de uma padaria localizada em uma esquina do distrito 10 de Octubre, onde em 11 de julho foi registrada uma briga entre partidários do governo e manifestantes, que deixou veículos danificados, pelo menos uma patrulha virada e pedras e garrafas espalhadas por todos os lados.
Lisnay María Mederos Torres, chefe da Direção de Processos Penais da Promotoria Geral da República, disse ao portal de notícias estatal Cubadebate que os acusados de sedição "agiram com extrema violência, organizaram as alterações da ordem pública, concordaram expressa ou tacitamente em desrespeitar as instituições oficiais, comprometidas em garantir a segurança e a tranquilidade civil".
Além disso, "usaram linguagem grosseira e ofensiva para incitar a violência; atiraram objetos cortantes, contundentes ou incendiários contra bens públicos; danificaram e destruíram o que encontraram pela frente", disse Mederos.
Ela acrescentou que nos processos houve "ampla participação" de advogados de defesa.
Em 25 de janeiro, o governo informou que 790 pessoas, inclusive 55 menores de 18 anos, foram indiciadas pelas manifestações de julho. Outras 172 já tinham sido condenadas, informou.
No julgamento só teve acesso um familiar por acusado e não foi permitida a entrada da imprensa.
Nos Estados Unidos, o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, expressou na quinta-feira em um tuíte sua preocupação com os presos políticos, incluindo os artistas Luis Manuel Otero Alcántara e Maykel "Osorbo" (nome artístico).
"Instamos o governo de #Cuba a parar de prender seus cidadãos por exercerem a liberdade de expressão", disse Price.
"São muitos anos"
Para Leila Prieto de La Rosa, esposa de um manifestante de Toyo, julgado nesta semana, seu marido não merece o que está acontecendo.
"Subiu em cima de uma patrulha e por isso pedem 25 anos de prisão", disse a mulher, de 20 anos, levantando a voz com raiva. "O julgamento é um teatro total e não estou de acordo, não espero nada bom."
Assim como outros familiares autorizados a assistir ao julgamento, durante o recesso ela se reúne com amigos no parque localizado a um quarteirão do tribunal.
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Entre terça e quarta-feira, a presença de policiais foi ficando menos visível, mas o parque estava lotado de partidários do governo, contaram familiares dos presos, queixando-se de não poderem se aproximar do tribunal.
"Nos mandam para cá, a um quarteirão e meio de distância", disse Caridad García, outra avó, de 62 anos. A promotoria pediu 17 anos de prisão para sua neta, de 24 anos.
O julgamento terminou na quinta-feira à espera das sentenças.
"Justiça é só o que pedimos, são muitos anos, estes moços são muito jovens", disse, sentada no gramado, Yesenia Díaz, de 32 anos, irmã de Oscar Bravo, de 23, que trabalhava no aeroporto de Havana até sua detenção.