Merkel e Macron não entram em acordo em eleições
Ludovic Marin/Pool via REUTERS - 9.5.2019Angela Merkel, primeira-ministra da Alemanha, e Emmanuel Macron, presidente da França, estão discordando. Depois de décadas, a parceria mais forte e importante da Europa enfrenta uma crise. O motivo: a votação para presidente da Comissão Europeia.
Depois das eleições populares para eleger os 751 membros do Parlamento Europeu, os líderes das 28 nações que formam o bloco se encontram para indicar um representante para assumir a Comissão Europeia, poderoso órgão executivo do bloco.
Para eleger o presidente da Comissão, cada líder indica um representante. Porém, cada líder pode indicar um representante do mesmo partido. E é nesse ponto que Merkel e Macron divergem.
As eleições europeias seguem esquema de proporção populacional. Quanto mais populoso um país, mais eleitores e representantes no parlamento ele tem, e mais poderoso ele se torna, explica o professor de Relações Internacionais da ESPM Demetrius Cesário.
Atualmente, a Alemanha é o país mais importante dentro do bloco. A premiê Angela Merkel já declarou apoio ao parlamentar alemão de centro-direita Manfred Weber, que faz parte do partido de Merkel, o Partido Popular Europeu (PPE), o mais votado dentro do Parlamento e o partido do atual presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker.
Apesar do peso da indicação de Merkel, o presidente francês Emmanuel Macron, o segundo mais importante no Conselho, não citou o nome de Weber entre as possíveis indicações.
“A Merkel vai argumentar que o presidente tem que ser alguém do partido dela, que além de ser o governo mais poderoso da União Europeia e é governado por alguém do PPE. É uma questão política”, analisa o especialista.
Porém, os argumentos de Macron ainda não estão tão claros quanto às indicações. “Ele pode argumentar que quer alguém da linha dele ou do partido dele. Ele depende muito do diálogo entre direita e esquerda, ele é muito centrista, então quer um representante que pudesse unir mais os dois lados”, explica.
A Comissão Europeia
Formada por 1 presidente e 27 comissários, cada um indicado por um país, a Comissão é o órgão executivo do bloco, que segue as leis feitas pelo Parlamento e pelo Conselho.
Cada comissário é indicado por um país diferente, mas assim que assumem o cargo, eles deixam de representar os interesses do país de origem e precisam trabalhar em função do bloco.
Os comissários assumem diferentes “ministérios” que cuidam de assuntos diversos na União Europeia, como educação, saúde e comércio.
“Enquanto o Parlamento representa o povo, o Conselho representa os Estados e a Comissão representa a vontade da União Europeia como um todo”, explica Demetrius.
A presença do Reino Unido no Conselho
Enquanto o Reino Unido continua em um impasse sobre a saída da União Europeia, ele segue fazendo parte do bloco e das eleições comuns. A península elegeu um grupo de parlamentares e Theresa May está presente nas conversas com os outros líderes até o dia 7 de junho, quando deixará o cargo de premiê britânica.
Caso o Brexit saia do papel e o divórcio aconteça, todos os parlamentares e comissário britânico eleitos deixam de fazer parte do Parlamento e Conselho europeus e novos políticos assumem a vaga.
“É melhor eleger os parlamentares e indicar o comissário agora do que voltar atrás depois. No caso de um ‘no deal’ [saída sem acordo com a União Europeia], esses parlamentares deixam de atuar e, proporcionalmente, vão assumindo os outros países esses lugares e o comissário deixa a Comissão”, explica Demetrius.
Com a saída de May, o nome a ser indicado para presidente e para comissário também podem mudar. Ainda não se sabe quem vai assumir o cargo de primeiro-ministro no lugar dela, então não se pode dizer como fica a situação do voto britânico.