Menino ucraniano come um pão em estação ferroviária em Przemysl, no leste da Polônia
Wojtek Radwanski/AFP - 07.04.2022Os preços mundiais dos alimentos atingiram "um nível sem precedentes" em março devido à guerra na Ucrânia, que afeta seriamente o comércio de cereais e óleos vegetais, anunciou nesta sexta-feira (8) a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Os preços das matérias-primas agrícolas, como trigo, girassol ou milho, continuam a disparar à medida que se intensifica o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, os principais exportadores mundiais desses produtos.
O índice da FAO, que se baseia na variação mensal mundial dos preços de uma cesta de produtos básicos, registrou alta de 12,6% em março, em relação a fevereiro, quando já havia batido recorde desde sua criação, em 1990, disse a organização em um comunicado.
A FAO destaca que o preço dos cereais “aumentou 17,1% em relação a fevereiro, principalmente devido ao trigo e outros grãos grossos, aumentos causados pela guerra na Ucrânia”.
O bloqueio dos portos ucranianos explica essa alta histórica. A Ucrânia é o quinto maior exportador mundial de trigo.
Desde o início do conflito, em 24 de fevereiro, o mar de Azov foi fechado ao transporte e as exportações dos portos de Berdyansk e Mariupol foram bloqueadas.
O preço do milho também "registrou um aumento mensal de 19,1%, atingindo um nível recorde, assim como o da cevada e o do sorgo", disse a FAO em seu relatório de março. A Ucrânia pediu na quinta-feira à União Europeia ajuda urgente para os agricultores.
A Comissão Europeia coordenará os embarques, que incluem "combustível, sementes e fertilizantes" ou máquinas agrícolas, de acordo com o comissário de agricultura Janusz Wojciechowski.
Os preços dos alimentos também subiram devido aos óleos vegetais, que aumentaram 23,2% em um mês, impulsionados principalmente pelo óleo de girassol, do qual o principal exportador mundial é a Ucrânia.
Os preços dos óleos de palma, soja e colza também aumentaram, devido à ausência do óleo de girassol nos supermercados.
Na França, por exemplo, óleo, farinha ou massa tornaram-se escassos em algumas lojas, principalmente devido às compras dos consumidores, que temem a escassez.
Na terça-feira, o presidente russo Vladimir Putin propôs "monitorar" as entregas de alimentos a países "hostis" ao Kremlin, em meio à escalada de sanções contra as operações militares russas na Ucrânia.
A FAO também indica que, como resultado do conflito, a fome no Sahel e na África Ocidental, uma região altamente dependente das importações de grãos da Rússia e da Ucrânia, pode piorar.
Se medidas adequadas não forem tomadas, a fome poderá afetar 38,3 milhões de pessoas em junho, segundo a instituição.
A pedido do presidente do Níger, Mohamed Bazum, vários países, entre os quais Estados Unidos e França, comprometeram-se na quarta-feira a aumentar a sua ajuda às populações dessa zona num montante de 1,79 milhão de euros (1,95 milhão de dólares).