Deputado defende mudar estatuto para facilitar compra de arma
Marcos Montes (PSD) recebeu R$ 70 mil em doações legais de fabricantes de armamentos
Minas Gerais|Enzo Menezes, do R7
![Deputado afirma que "pobre não pode ter arma porque é caro"](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/3D5GHKXDABK4JKIFE3XJ6P5ZYM.jpg?auth=0fb9ff90209145c8c47cd27da2cd55676b5b7001c6c9b196257a561ef81ac1a5&width=460&height=305)
![Desde a criação do Estatuto do Desarmamento, em 2013, mortes provocadas por armas caíram 12%; 40% das armas apreendidas com criminosos têm origem legal](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/KCXQFZRDVFLJJI7PB7HZECMZ7E.jpg?auth=f92e3031e1fb5ac6aa13d1190e618d3c3072c582cd9619af5d8a1657a6b3641c&width=800&height=600)
O deputado federal Marcos Montes (PSD), presidente da comissão especial que pretende alterar o estatuto do desarmamento para facilitar a compra e porte de armas, recebeu R$ 70 mil em doações legais da indústria bélica nas eleições de 2010 e 2014.
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Ele defende que as pessoas tenham uma arma em casa para "se defender dos bandidos".
— Há muita burocracia e muitos custos hoje. O pobre não pode ter uma arma porque é caro. Tem que fazer uma adequação do estatuto.
Montes ressalta que as doações recebidas da Taurus e da Companhia Brasileira de Cartuchos (R$ 30 mil na campanha de 2014) e da Associação Nacional de Armas e Munições (R$ 40 mil em 2010) foram legais e não acredita que os pagamentos atrapalhem sua posição como deputado.
— Olha que bobagem, pena que recebi pouco, eu devia ter recebido mais [doações das empresas da indústria bélica]. Sou presidente da frente parlamentar agropecuária. Por ter recebido doações de empresas agro não poderia atuar nessa matéria? É um argumento frágil.
Mais armas, mais crimes
Dados do Ministério da Justiça apontam que 40% das armas apreendidas com o crime organizado tinham origem legal, o que enfraquece os argumentos pró-legalização.
Ivan Marques, diretor Executivo do Instituto Sou da Paz, que lidera campanhas de desarmamento desde os anos 90, classifica como "preocupante e perversa" a possibilidade de armar o cidadão e aponta que "a violência aumenta com a maior circulação das armas".
— Os deputados dessa frente, incluindo o presidente, foram financiados pela indústria de armas. A quem interessa armar a sociedade? Isso não diminui a criminalidade, muito pelo contrário. O projeto elevaria o limite de compra de munições para 5.400. Quem quer 5.400 munições por ano pretende se defender? Hoje, 25% das mortes com armas são por motivo fútil, como briga de trânsito ou discussão entre vizinhos, todas com armas ilegais. Imagina se não fosse proibido ter arma?
De 2003 a 2013, por causa da aprovação do Estatuto do Desarmamento, as mortes por arma de fogo caíram 12,6% no Brasil, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
— É um raciocínio perverso. Querem transferir a segurança pública, dever do Estado, para cada cidadão, que não tem preparo técnico nem psicológico. Não é a toa que todas as corporações policiais no Brasil são contra a revogação do Estatuto.
A revogação do Estatuto é defendida por metade dos deputados da comissão, que integram a Frente Nacional da Segurança Pública, a chamada bancada da bala. Na esteira de outras pautas conservadoras, como a redução da maioridade penal e a liberação das terceirizações, os deputados querem votar alterações no Estatuto do Desarmamento (PL 3.722/12) até o fim de 2015.
O projeto também quer reduzir de 25 para 21 anos a idade para compra de armas, a revogação da perda do registro se o portador estiver embriagado, o fim dos testes psicológicos periódicos para renovação e facilita o porte para quem responde por crimes não dolosos, como tráfico.
Entre os membros da comissão especial que pretende liberar a compra de armas estão os deputados Laudívio Carvalho (PMDB/MG), relator da proposta, Cláudio Cajado (DEM/BA) e Guilherme Mussi (PP/SP) como vice-presidentes.