Vírus da febre amarela encontrou ambiente favorável no Sudeste
Artigo assinado por pesquisadores da Fiocruz concluíram que vetor chegou à região mais de um ano antes do surto
Minas Gerais|Paulo Henrique Lobato, Do R7
A comunidade científica alerta: embora endêmico da bacia Amazônica, o vírus da febre amarela encontrou ambiente favorável no Sudeste do Brasil. Um estudo ao qual o R7 e a RecordTV tiveram acesso concluiu que o vírus que só em Minas Gerais matou 339 pessoas, nos surtos de 2017 e 2018, não veio diretamente da bacia Amazônica, como cogitado anteriormente, e tampouco chegou ao Estado na época das epidemias.
Pelo contrário: o vírus entrou em Minas Gerais há quase um ano do início das mortes. A hipótese é que teria entrado no Sudeste por meio do Centro-Oeste brasileiro. As conclusões estão no artigo "Persistência do vírus da febre amarela fora da bacia Amazônica, causando epidemais no Sudeste do Brasil, de 2016 a 2018", assinado por pesquisadores como o virologista Pedro Augusto Alves, da Fiocruz.
— Como o vírus da febre amarela é endêmico da região Amazônica, uma das hipóteses cogitadas era que o vírus causador dos surtos havia vindo de lá e que tivesse chegado ao Sudeste na mesma época em que apareceram os casos. Entretanto, vimos que isso não é verdade. Um ancestral comum a essa linhagem já estava presente na região em 2015, tendo características bastante semelhantes a uma espécie que circulava nessa mesma época no Centro-Oeste.
O artigo também é assinado pela bióloga Izabela Rezende, doutoranda no Laboratório de Vírus da UFMG, entre outros cienetistas:
— A entrada do vírus no Sudeste foi única, ou seja, ele entrou e se manteve.
Como os pesquisadores chegaram a essas conclusões? Eles fizeram um sequenciamento de amostras de pacientes e de carcaças de primatas afetados pela doença nos dois surtos em Minas Gerais. Em seguida, comparram os resultados do sequenciamento com amostras de diferentes anos e localidades, que estavam armazenadas em um banco de dados. Desta forma foi possível compreender a origem e a forma de disseminação do vírus.
O maior controle continua sendo a vacinação, entretanto, o fato de o Centro-Oeste ter "funcionado" como área de migração do vírus serve de alerta para o poder público. Quem explica é o pesquisador da Fiocruz:
— Goiás e Tocantins sempre precederam surtos relacionados a várias doenças no Sudeste, o que significa que o Centro-Oeste é uma área chave para as ações de vigilância, não apenas em relação à febre amarela, mas também em relação a outras doenças.
A forma como o vírus que entrou no Sudeste vai se comportar daqui para frente ainda é uma incógnita para os pesquisadores. Por isso, eles reforçam a necessidade da vacinação. Uma dose basta, mas vale lembrar que a eficácia da vacina não é 100%.
Segundo o último balanço da SES (Secretaria de Estado de Saúde) de Minas Gerais, 16 casos de pacientes com histórico de vacinação contraíram a doença. Dois pacientes morreram.
O artigo que destaca o alerta teve a participação, além de pesquisadores da Fiocruz e UFMG, da SES-MG, Fundação Ezequiel Dias, Hospital Eduardo de Menezes e Departamento de Zoonoses de Belo Horizonte.