Benjamin Netanyahu era muito apegado ao pai, Benzion
Reprodução/Times of Israel/Flash 90Para se entender o pensamento do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é preciso conhecer um pouco da história familiar dele. Sua vibração por causa do reconhecimento, por parte do presidente americano Donald Trump, de Jerusalém como capital de Israel, também tem origens nas convicções de seus familiares.
Ele nasceu em 21 de outubro de 1949, em Tel Aviv, pouco tempo depois de Israel ter vencido a Guerra de Independência e ter se estabelecido de fato como Estado. O clima naquela época era de esperança e alerta. E uma das figuras que melhor resumiam esses conceitos era o pai do atual primeiro-ministro, Benzion Netanyahu.
Nascido em 1910 na cidade de Varsóvia, Polônia que então era ocupada pela Rússia, Benzion era filho de um rabino, Nathan Milikovsky, que ainda na Europa adotou o sobrenome Netanyahu (Dado por Deus), mas o formalizou assim que a família chegou a Israel, vinda de perseguições, em 1920.
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Diferentemente do pai, que fazia questão de dar palestras em defesa do sionismo, Benzion defendeu a mesma tese em favor de um Estado Judaico, mas na universidade.
Foi na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde cursou História Medieval, nos anos 30, que Benzion conheceu os líderes do movimento revisionista, defensores de fronteiras amplas e fortes para Israel. Entre eles se destacavam Vladimir Evgenevich Jabotinsky, o Zeev Jabotinsky, fundador do grupo direitista Beitar.
Após uma série de fusões, com o Herut (que depois se juntou à aliança Gahal), esse bloco deu origem, em 1973, ao atual partido Likud (Consolidação), de Benjamin. A base do pensamento do Likud, que assumiu o poder pela primeira vez em 1977, foi moldada em grande parte pela filosofia de Benzion, que afirmava ser fundamental Israel não abrir mão de nenhum território, já que a história do povo judeu, segundo ele, não foi marcada por apenas um Holocausto. Mas sim por vários.
Segundo Benzion, que migrou para os Estados Unidos, nos anos 50, junto com mulher e filhos, a Inquisição, dos séculos 13 ao 19, foi um desses períodos de trevas, sempre antecedidos por políticas de restrições e perseguições aos judeus, engenderadas justamente para justificar os períodos que culminavam com as brutalidades maiores.
Essa era a ideia que ele defendia, já no curso de doutorado do então Dropsie College (atualmente Center for Advanced Judaic Studies), na Filadélfia, em que elaborou tese sobre Rabi Don Isaac Abravanel – financista, estadista, filósofo e comentarista da Torá – que viveu no século 15 na Península Ibérica.
Benjamin, assim como os irmãos Yonatan (nascido em 1946) e Iddo (nascido em 1952), moraram juntos nos Estados Unidos nessa época e viram de perto o esforço do pai em defender suas convicções, tidas por muitos como radicais, em prol da segurança de Israel.
Foi Benzion, afinal, que convenceu membros do Partido Republicano americano a incluírem no estatuto a defesa da criação do Estado de Israel. Posteriormente, os democratas fizeram o mesmo, dando fôlego para que o governo americano fosse um dos primeiros a trabalhar por esse objetivo junto à Organização das Nações Unidas.
Benjamin era muito apegado ao pai. Não escondia sua admiração pelas ideias de Benzion, apesar de negar que ele as seguia já como político. Até levou uma reprimenda do pai ao ceder, em 1997, a cidade de Hebron para a administração palestina. Essa obsessão pela defesa das fronteiras foi acirrada após a morte do primogênito dos irmãos Netanyahu.
Como competente comandante do Sayeret Maskal (comando de elite), Yonatan, o Yoni, morreu em 1976, durante o histórico resgate do avião sequestrado em Entebbe, que tinha mais de 105 passageiros judeus, mantidos como reféns. 102 deles saíram com vida nessa histórica ação, organizada por Yoni, visto como um herói. Foi ele o único militar que tombou neste combate, justamente aquele que comandou a arrojada operação.
O drama familiar foi um motivo a mais para a entrada de Benjamin na política. Após a morte do irmão, ele ajudou em ações do Instituto Yonatan, que realizou estudos e conferências para o combate ao terrorismo internacional.
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Em 1988, Benjamin foi eleito deputado pelo Knesset (Parlamento). O outro irmão, Iddo, renomado médico, escreveu um livro sobre o resgate em Entebbe, citando inclusive um outro livro, escrito por Yonatan, que continha cartas dele, Yonatan, para familiares e pessoas próximas.
Benzion morreu em 2012, aos 102 anos, quando novamente morava em Israel. Sua marca, porém, continua presente em várias iniciativas de seu filho Benjamin. Algumas orientações dele já se distanciam do atual cenário. Por exemplo, Benjamin já não vê Israel tão isolada quanto em outras épocas. A globalização aproximou mercados e abriu portas para que o país fosse visto de outra maneira por muitas nações.
Mas, no geral, muito da sua política atual, como manter a segurança como prioridade, receberia a aprovação do pai. E, numa negociação de paz, iria doer muito em Benjamin Netanyahu, caso ele precisasse, de alguma maneira, abir mão dessa aprovação. Em nome de novos tempos.
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