A polarização política é um fenômeno que se espalha pelo mundo
Sou Eugenio Goussinsky e, como repórter do R7, tenho o orgulho de dizer que agora também estou no time de colunistas do portal, nesta coluna que chamei de Nosso Mundo. Meu objetivo... bem, é melhor que você tenha a paciência de ler este artigo, para entender o que busco nesta nova empreitada, que irei dividir com os leitores a partir de hoje.
Em momentos de desequilíbrio mundial, a social-democracia costumava ser um apaziguador, a unir polos opostos e buscar a conciliação de sociedades conturbadas. Em algumas vezes a sua atuação foi bem-sucedida.
Em outras, em função de diversos fatores, surgiram problemas, como na República de Weimar, após a Primeira Guerra, quando, sem forças para conter a grave crise econômica alemã, o regime não teve condições de evitar o surgimento do nazismo.
Durante anos ouvi dizer, nos tempos de infância e adolescência, que a social-democracia era uma mescla do capitalismo e do socialismo, buscando liberdade econômica com justiça social. Atualmente, diante das enormes divisões que prevalecem na era da globalização, vem a pergunta: por que a social-democracia está tão apagada neste momento?
A questão é que ela não está tão apagada como se pensa. Neste turbilhão polarizado entre direita e esquerda, talvez ela reine (calma, não se trata de monarquia...) silenciosa, tentando encontrar um local para desempenhar suas funções discretamente. Ou buscando uma maneira de sobreviver às radicalizações, mostrando que está viva. Para tanto, sofreu algumas transformações.
A dicotomia é tanta que hoje, assim como em seus prenúncios, na Alemanha em 1863, ela está sendo vista como de esquerda. Muitos de seus conceitos, afinal, estão sendo utilizados pelos partidos Syriza (Grécia), Podemos (Espanha) e pela coligação que governa Portugal, entre outros.
Mas, no poder, o discurso que soa extremado, na prática, não pode se desapegar de certas realidades que prevalecem nas economias. O próprio Alexis Tsipras, primeiro-ministro e líder do Syriza, teve de abrir mão de promessas contra a austeridade para dialogar com o mercado financeiro e transitar no mundo capitalista.
Isso mostra que, independentemente de rótulos, a social-democracia pode se apresentar em diversas roupagens, de acordo com a necessidade de cada país. Emmanuel Macron, na França, chegou como uma opção alternativa e, nesta função, apesar de alguns cortes sociais, está buscando manter um bom relacionamento tanto com Angela Merkel quanto com Donald Trump.
A própria Angela Merkel, de origem conservadora, tem se apresentado com um estilo social-democrata. Sua maneira de se vestir, com blazers e calças discretas, mas coloridas, apontam para um lado de moderação e leveza, sem a rigidez da vestimenta de uma Margareth Thatcher, por exemplo, também conservadora.
Lembro-me de que, nos tempos de redemocratização, em meus ideais de juventude, via em Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, a salvação do Brasil. A presença deles se assemelhava à de um elixir que traria finalmente a conciliação ao País, um ponto de equilíbrio entre a cruel ditadura e o desejo radical de libertação do então PT.
Vieram a Nova República, eleições diretas e nem tudo correu desta maneira. As coisas tomaram um caminho no qual, em um cenário de radicalização que se fermentava, as ações não acompanharam o discurso idealista. Por isso , hoje, o termo social-democrata, assim como esquerdista ou direitista pode estar superado.
A palavra equilíbrio, neste caso, seria a mais adequada para aglutinar alas que buscam a união de um país. Sem as fórmulas muito em voga hoje em dia, nas quais as convicções pessoais, para não dizer teimosia, fazem do outro um inimigo - e não um próximo, termo tão bem utilizado na bíblia.
Neste cenário, cada um, com sua visão de mundo parcial, acaba tendo a ilusão onipotente de que é dono dele. E esse mundo não é só seu, nem meu. É nosso. Deu para entender o objetivo desta coluna?
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.