O empresário e colecionador também dedicou a sua vida à família
Folha de PernambucoA despedida de Ricardo Brennand não pôde ser realizada da forma como seus entes queridos gostariam. Assim como outras vítimas do novo coronavírus, o corpo do empresário e colecionador foi cremado, sem direito a velório, no mesmo dia de sua morte. Duas missas realizadas na Paróquia de São Pedro, em Tamandaré, e transmitidas ao vivo pela internet, homenagearam o industrial.
Membro importante de uma família numerosa e com importantes feitos em Pernambuco, Ricardo deixará saudades naqueles que tiveram a oportunidade de desfrutar da sua companhia.
Filha do ex-ministro Armando Monteiro Filho (1925-2018), cunhado do empresário, a escritora Maria Lecticia Cavalcanti acredita que o “Tio Ricardo” vai ficar para sempre guardado na memória de todos. “Seu exemplo, sua generosidade, sua imensa capacidade de transformar sonho em realidade. Plantou a semente. Tia Cita e seus filhos continuarão seu trabalho", diz.
Para além do empreendedor de sucesso, Ricardo era um homem com fortes ligações familiares. A Folha de Pernambuco traçou um panorama de quem foi essa grande figura pernambucana, através de sua relação com a esposa, os filhos e seu parente mais famoso, o artista plástico Francisco Brennand (1927-2019).
Intimidade
Ricardo foi um marido e um pai à moda antiga, isto é, patriarcal, provedor, cuja postura de autoridade e respeito era amenizada pelo inexcedível carinho, atenção e proteção devotados a todos os seus. Se fosse preciso resumir sua intimidade em poucas palavras, são estas: totalmente informal, mas desconcertantemente sincero.
Casamento
Ricardo e Graça ficaram casados por 71 anos ininterruptos. Tratou-se de um casamento à moda antiga, em que os papéis do marido e da esposa estavam demarcados, definidos. Ricardo ao longo de praticamente toda sua vida apenas se dedicou a duas coisas, únicas: o negócio e a família.
RIcardo e Graça
Folha de PernambucoRicardo e Graça - Crédito: Flávio Japa
Perda de um filho
O impacto da morte, em 1998, de Antônio (um dos oito filhos de Ricardo e Graça) foi incomensurável. Redobrar a atenção e a dedicação ao trabalho. Manteve a mente ocupada, e o corpo também. E, naquela altura, já era para o futuro Instituto Ricardo Brennand que passou a voltar a atenção. Perdeu um filho, tratou de ter outro, e, neste caso, o filho foi o Instituto, por conquista e por compensação, mas nunca por substituição.
Relação com o tio
A influência de Ricardo Lacerda de Almeida Brennand em Ricardo Coimbra de Almeida Brennand é enorme. Conversavam muito sobre a curiosidade que tinham ambos pelas origens de sua família. O seu tio, que muitas vezes se assinava com a peculiar alcunha de "Ricardo, o Taciturno", sugeriu ao sobrinho que procurasse um escritório especializado em genealogia. Depois da morte desse seu tio, Ricardo viajou à Europa em busca de si mesmo e dos seus.
Continuidade do legado
Os filhos e filhas estão administrando todos os negócios que ele iniciou, e criando novos empreendimentos. Nas indústrias, principalmente as diversas fábricas de cimento que estão em funcionamento no Nordeste e no Sudeste. No ramo da energia, tanto a hidroelétrica quanto a eólica, e proximamente também a solar. Há outro empreendimento de não menor importância, que é a Reserva do Paiva.
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O primo Francisco Brennand
Ricardo e Francisco não eram amigos, nem inimigos, nem ‘desamigos’, eram simplesmente primos. Não se frequentavam. No entanto, Ricardo, embora não fosse aficionado por arte moderna, admirava o artista Francisco e incluiu diversos dos seus trabalhos no seu Instituto.
Francisco, por sua vez, porque não tinha afinidades pessoais nem participava do universo profissional do primo, não o admirava, e chegou mesmo a divulgar textos francamente hostis a ele. Mas, com o tempo, a rivalidade, que se tornou patente com a inauguração do Instituto, se esmaeceu. E cada um tocou sua instituição com características diferentes e complementares.