Dentre os comportamentos vinculados à socialização, a empatia tem um papel fundamental na garantia do respeito e atenção ao próximo. Ligada ao hormônio do amor, com a liberação de ocitocina quando se faz algo pelo bem do próximo, a empatia não se configura como algo natural do homem.
Em sua dimensão principal, ter empatia faz parte de uma construção cultural. Ou seja, a empatia depende da formação cultural de um grupo. A empatia age quando se tem contato com o outro de forma aberta para receber e perceber suas dificuldades, necessidades e desejos.
Quando sofremos por pessoas que enfrentam enchentes, deslizamentos, falta de água, tsunamis, terremotos e vulcanismo a capacidade psicológica que entra em voga é a empatia. A capacidade de compreender socialmente o outro ser ao ponto de sentir as suas dores, felicidades, é chamada de empatia. A psicóloga Maria da Conceição Correia (Concita) acredita que a empatia é uma tentativa de compreender os sentimentos e o ser humano. "Numa situação empática a gente costuma dizer que a alegria do outro passa a ser minha e o sofrimento do outro passa a ser meu", esclareceu.
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"O sofrimento do outro é algo que é dele, mas no momento em que eu vivencio uma relação empática com aquele outro, eu posso não sentir como ele sente na essência, mas eu posso imaginar, a partir do lugar em que eu estou, como ele deve estar se sentindo", explicou a psicóloga. De acordo com a psicologia, o que o outro sente remete aos nossos próprios sentimentos e geralmente a gente pode se perguntar "e se fosse comigo?".
A antropóloga diretora do departamento de ciências sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Andrea Butto Zarzar, explicou que o desenvolvimento da empatia depende das referências culturais de cada sociedade. "Tem sociedades em que você vai ter um grau de solidariedade e um esforço pela compreensão desse outro e tem outras sociedades onde você vai ter hierarquias em que essas possibilidades de solidariedade, por exemplo, entre os grupos sociais, ela é reduzida.
Antropóloga, Andrea Butto Zarzar - Crédito: Léo Malafaia / Folha de Pernambuco
A lógica de se importar com o próximo foge ao pensamento comum atual que visa produtividade, consumismo e competitividade. No seu modelo lógico, a empatia intui não só o "se importar com o outro" como o "se solidarizar pelo outro". Ao ajudar alguém, a pessoa tende a diminuir as diferenças sociais e econômicas, por exemplo, que a colocaria como melhor que o ajudado. Estudante de geologia, Aline Macrina da Silva desenvolveu durante a vida a capacidade de se importar com o outro.
"Para abrir os olhos para o outro eu acho que a gente não precisa de tanto, a gente precisa só olhar para o lado", contou. A estudante participou, como aluna, de um pré-vestibular gratuito, feito por voluntários. Lá, a percepção da empatia se alimentou ao ponto de fazê-la voltar para dar aulas e coordenar o projeto.
Atos de altruísmo, onde há uma dedicação ao outro e pelo outro, são geralmente vistos como uma via de mão única. No entanto, a sensação de bem-estar quando se solidariza com sentimentos de outras pessoas é comprovada cientificamente. "Quando você tem uma empatia pelo outro e se coloca no lugar do outro você tem uma liberação exacerbada da ocitocina, que é um hormônio do bem-estar, que aumenta", explicou a endocrinologista Raissa Lyra, do Hospital Jayme da Fonte.
Raissa Lyra, endocrinologista - Foto: Léo Malafaia / Folha de Pernambuco
Fugir da naturalização que nos impulsiona a ignorar o outro necessita de um esforço contínuo. A futura geóloga Aline reiterou que basta fazer um esforço para não pensar só em si. "A gente vive num país onde a diferença social, a diferença racial, a diferença de gênero, são muito grandes e isso faz com que a gente conviva o tempo todo com pessoas diferentes. Então, a partir do momento que se olha para o lado e tenta entender a realidade do outro, respeitar a diferença do outro, já está sendo mais empático", salientou.
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