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A UNE escapou da cova rasa

O puxadinho do PCdoB não sabe se vai perder a eleição com Boulos ou Orlando

Augusto Nunes|Do R7 e Augusto Nunes

Aos 86 anos, a velha senhora caiu na vida e perdeu o direito de continuar usando o nome outrora respeitável
Aos 86 anos, a velha senhora caiu na vida e perdeu o direito de continuar usando o nome outrora respeitável Aos 86 anos, a velha senhora caiu na vida e perdeu o direito de continuar usando o nome outrora respeitável

A União Nacional dos Estudantes — alguém aí se lembra dela? — escapou da cova rasa em que jaz para revelar que a disputa pela prefeitura de São Paulo mergulhou no pântano da dúvida a direção da entidade. A turma continua fiel a Orlando Silva, candidato do Partido Comunista do Brasil, e a UNE é um puxadinho do PCdoB. Mas anda flertando com Guilherme Boulos, lançado pelo PSOL, que tem 14% nas pesquisas enquanto Orlando Silva está perto de zero.

Nascida em 1937, a UNE União foi comandada até o fim dos anos 60 por nacionalistas, udenistas, socialistas, comunistas ortodoxos e partidários da luta armada. Mas nunca pertenceu a qualquer partido ou organização. Fosse qual fosse a identidade ideológica do presidente ou da maior parte da diretoria, a UNE sempre procurou traduzir o pensamento majoritário do universo que deveria representar. Descontados os inevitáveis acidentes de percurso, opções equivocadas e erros bisonhos, prevaleceram na longa trajetória da entidade a independência política, a vocação antigovernista, o amor à democracia e a paixão pela liberdade.

Orientada por tais marcas de nascença, a UNE combateu o Estado Novo, defendeu nas ruas a entrada do Brasil na guerra contra o totalitarismo nazista, lutou pela ressurreição do regime democrático, ajudou a apressar a criação da Petrobras, apoiou as reformas planejadas pelo governo João Goulart, opôs-se ao golpe militar de 1964 e tentou resistir à consolidação do regime autoritário, consumada pela decretação do AI-5.

Sobreviveu a adversidades de bom tamanho, mas ficou grogue e exposta ao nocaute em 1968, abalada pela ação conjunta da cabeça fraca de José Dirceu e da mão pesada do governo militar. Encarregado de organizar o congresso da UNE, o futuro guerrilheiro de festim resolveu juntar mais de 1.000 universitários perto de uma cidade com menos de 10 mil habitantes. A Polícia Militar completou o serviço e prendeu todo mundo. O desmaio da UNE se estendeu até 1985, quando acordou do sono e emergiu da clandestinidade para agonizar à luz do dia.

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Perdeu a independência em 1980, quando o agora deputado federal Aldo Rebelo assumiu a presidência e reduziu a UNE a um apêndice do Partido Comunista do Brasil. Perdeu a vergonha de vez em 2003, quando foi incluída no contrato de aluguel assinado pelo presidente Lula e pelos chefes do PCdoB. Para amestrar a sigla, o governo não precisou de domador nem chicote. Bastaram rações em dinheiro vivo ou subvenções, além de garantia de que os encontros, quermesses e piqueniques promovidos pelos pelegos aprendizes seriam patrocinados por empresas estatais. Funcionou.

A União Nacional dos Estudantes teve queixas a fazer, reivindicações a apresentar, mudanças a convocar nos governos de Getúlio Vargas, Eurico Dutra, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Depois de Lula, todos os problemas sumiram. O sistema educacional ficou perfeito. O Brasil Maravilha que o chefe inventou não precisava sequer de retoques.

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O prêmio pelo bom comportamento foi a bolada de quase R$ 50 milhões, oficialmente destinados à construção do zoológico próprio na Praia do Flamengo, projetado por Oscar Niemeyer. Ali seriam costuradas as notas de apoio a qualquer coisa que viesse do Planalto. Ali seriam planejadas as quermesses seguintes. Ali seria esboçado o documento que resumiu, num texto indigente, as deliberações aprovadas no encontro. Teve tanta importância quanto a ata de alguma reunião do Clube dos Leitores de Lula.

Assim nasceu a União Nacional dos Estudantes Amestrados, ou simplesmente UNEA. Aos 86 anos, a velha senhora caiu na vida e perdeu o direito de continuar usando o nome outrora respeitável. Pode escolher em sossego o candidato a prefeito que ajudará a perder a eleição.

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