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Entrevista: Como a indústria automotiva está preparando a retomada? 

Luiz Carlos Moraes comenta números negativos mas diz que futuro está nas vendas online integrada aos bancos e rígidos protocolos de saúde que estão sendo implantados

Autos Carros|Marcos Camargo Jr

A indústria automobilística nacional vive um dos seus piores momentos com a produção de veículos no mesmo patamar de abril de 1957. Naquela época eram fabricados aqui o Jeep Willys CJ-5, a Rural, a perua DKW Vemaguet e a Romi-Isetta além de alguns utilitários montados nas fábricas que se estabeleceram aqui. Em abril foram produzidos no país pouco mais de 1.800 veículos, semelhante ao número de 63 anos atrás (destacamos o desempenho de abril aqui).

Linha de produção da DKW Vemaguet em 1957 lançada um ano antes no país
Linha de produção da DKW Vemaguet em 1957 lançada um ano antes no país Linha de produção da DKW Vemaguet em 1957 lançada um ano antes no país

O cenário preocupa e tendo em vista os desafios do setor que corresponde a quase 1/4 do PIB industrial brasileiro, o R7-Autos Carros participou de uma rodada de conversa com o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. Em pauta, os desafios do setor e o futuro da indústria no pós-pandemia.

O que a indústria quer?

Moraes destacou que a indústria não quer subsídos mas sim garantia de manutenção do fluxo de caixa com ajuda do BNDES, que receberia como garantia os créditos tributários que as montadoras têm a receber do governo, e que gira em torno de R$ 25 bilhões. Segundo o presidente da Anfavea a queda de faturamento chega a 90%: "Temos grande falta de capital de giro e essa resposta de ação via BNDES vai ajudar na retomada da produção. As concessionárias que estão abertas estão fazendo atendimento de recall, manutenção, pois o setor está muito prejudicado e a economia funcionando de forma parcial", destacou.

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O executivo disse que a retomada das fábricas está em curso mas a produção dependerá do estoque atual. "Cada montadora acompanha o seu nível de estoque e por isso estão retornando em datas diferentes. Estamos implantando a retomada mas não sabemos a resposta do mercado e da demanda passando pela questão dos cuidados com a saúde. A instabilidade política também preocupa porque isso prejudica a percepção dos agentes financeiros", lembrou. 

Crises do governo e alta do dólar

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Crises do governo prejudicam plano de investimentos e atrapalham o setor, avalia Anfavea
Crises do governo prejudicam plano de investimentos e atrapalham o setor, avalia Anfavea Crises do governo prejudicam plano de investimentos e atrapalham o setor, avalia Anfavea

Moraes destaca que as sucessivas crises do governo que aceleravam a cotação do dólar no início do ano ficaram ainda mais prejudicadas pela pandemia do novo coronavírus. "Tudo que importamos para o nosso sistema produtivo, algo em torno de 30 ou 40% de componentes, estão sendo penalizados pela alta do dólar e será muito difícil não repassar esse aumento no preço final dos veículos novos", completou.

Para a Anfavea, até mesmo processos de evolução como a eletrificação dos veículos deverá sofrer atrasos consideráveis. "O custo de trazer essas tecnologias que são importadas será mais alto e vão atrasar", disse Luiz Carlos Moraes. Questionado pelo R7, Moraes comentou que o programa Rota 2030 também será afetado pela crise. "Não estamos cancelando mas congelando o programa. Por hora pedimos para o governo postergar as chamadas obrigações acessórias que é o acompanhamento da implantação de novas tecnologias", disse.

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Retomada segura

Funcionário de máscara na linha de produção da Honda na China: novos tempos
Funcionário de máscara na linha de produção da Honda na China: novos tempos Funcionário de máscara na linha de produção da Honda na China: novos tempos

A Anfavea tem discutido com as montadoras uma série de novos protocolos para uma retomada segura da manufatura de veículos. "Os presidentes [das montadoras] estão indo ao chão de fábrica para testar esses protocolos que são acompanhados de vídeos, treinamentos, cartilhas, cartazes... nosso trabalhador é muito responsável e temos percebido gradativamente um cuidando do outro."

Segundo Moraes os novos protocolos foram estudados por 15 dias antes de serem testados e implantados nas fábricas. Atualmente, apenas uma parte das montadoras retomou a produção como a Volkswagen (Caminhões e Ônibus), Scania, Renault e BMW. 

O carro longe da aglomeração

Em termos de futuro, Luiz Carlos Moraes acredita que neste momento o automóvel sirva como "proteção, para fugir do transporte público e da aglomeração que já temos visto ocorrer em outros mercados que já passaram pela fase mais aguda da pandemia. Há um outro lado que é do serviço vinculado ao carro: drive thru de teste, vacina, a volta do drive-in e do cinema no carro. Estamos vendo coisas que estão acontecendo e que antes não imaginávamos", destacou.

Futuro online 

Por outro lado o setor também se reinventa indo além do processo fabril. "Como a gente entrega o carro? o clisnte se sente seguro com carro esterilizado? isso está provocando uma mudança de comportamento que mostra empresas prestadoras que devem ter postura diferente em relação ao seu cliente". Moraes destacou que serviços associados à limpeza e desinfecção terão destaque no futuro.

Consumidor estará mais cauteloso mesmo quando as concessionárias forem reabertas
Consumidor estará mais cauteloso mesmo quando as concessionárias forem reabertas Consumidor estará mais cauteloso mesmo quando as concessionárias forem reabertas

As concessionárias terão que se reinventar mas elas continuam dependendo da venda de veículos. Por isso volto na questão da negociação com o BNDES pois precisamos de fôlego para voltar a operar. As concessionárias são formadas por capital nacional, geralmente empresas familiares, e a gente olha com preocupação para que distribui e vende. Se tivermos liquidez vamos garantir uma cadeia funcionando, empregos, mas se faltar essa oxigenação ficará difícil", finalizou.

Mercado terá novos desafios agora e após a fase mais aguda da pandemia
Mercado terá novos desafios agora e após a fase mais aguda da pandemia Mercado terá novos desafios agora e após a fase mais aguda da pandemia

Quanto às vendas online, o executivo destaca o trabalho de desenvolvimento de novas ferramentas de venda. "Indo além da configuração do veículo, já tem operações interligadas com o banco, com ferramenta que permite negociar o usado, aprovar a transação, tudo online tal como a gente faz ao comprar uma televisão em um site de uma grande loja será possível comprar o carro nesse novo mundo", finaliza.

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