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Do céu ao inferno

Os detentos haviam ateado fogo em dois pavilhões e iniciado a fuga em massa. Mais de 150 criminosos estavam espalhados pelas ruas de Bauru, o que gerou pânico na cidade.

Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho

Detentos em frente ao presídio após atearem fogo nos pavilhões
Detentos em frente ao presídio após atearem fogo nos pavilhões Detentos em frente ao presídio após atearem fogo nos pavilhões

Aquele dia tinha tudo pra ser tranquilo. Tranquilo até demais. E jornalista tem mania de nunca se contentar com nada. Se o trabalho está puxado, reclama da correria. Se está calmo, pede por adrenalina. Naquela manhã, eu me queixei da “paradeira”. Mal sabia o que estava por vir. 

Janeiro de 2017. Na época, eu era repórter da Record, em Bauru, no interior de São Paulo. Se não me falha a memória, minha pauta do dia era alguma reclamação de bairro. As produtoras Karina Catto e Marcela Gomes tiveram que me aturar falando: “Gente, não tem nada mais forte rolando? Bem que poderia pintar um factual”.

Dito e feito. Fechei a boca e o mundo, praticamente, desabou em Bauru. Mas a gente só foi descobrir o que estava acontecendo depois que eu já tinha saído da redação. Começaram a chegar pelo WhatsApp da Record alguns vídeos com a informação de uma suposta rebelião no CPP-3 (Centro de Progressão Penitenciária). Num primeiro momento, isso gerou alguns questionamentos entre os colegas da produção, já que a unidade abrigava detentos do sistema semiaberto. Então, não faria muito sentido que eles estivessem fugindo.

O assunto virou a prioridade daquela manhã. O primeiro passo era confirmar o motim. Enquanto a produção fazia isso, por telefone, eu já tinha sido deslocado para a unidade prisional. Era uma forma de ganhar tempo. Não demorou muito pra gente descobrir que a fuga dos detentos tinha acontecido mesmo.

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Fumaça toma conta de Bauru e causa pânico na cidade
Fumaça toma conta de Bauru e causa pânico na cidade Fumaça toma conta de Bauru e causa pânico na cidade

Quando o cinegrafista Marcos Jeziel e eu chegamos ao CPP-3, a movimentação policial era intensa. De longe, dava pra ver uma enorme cortina de fumaça. Os detentos haviam ateado fogo em dois pavilhões e iniciado a fuga em massa após um agente repreender um preso que foi flagrado usando celular dentro do presídio. Mais de 150 fugitivos estavam espalhados pelas ruas de Bauru, o que gerou pânico na cidade. Rapidamente, notícias falsas se espalharam, o que acabou mudando, de vez, a rotina da cidade.

Dezenas de viaturas da Polícia Militar percorreram bairros próximos e cercaram possíveis rotas de fuga. Foi uma grande mobilização, que contou com o apoio do helicóptero Águia. Na porta da penitenciária, familiares dos presos se aglomeravam em busca de informação. Naquele momento, ainda não havia confirmação de mortos ou feridos.

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O Balanço Geral Interior estava prestes a começar. Eu precisava entregar um VT (que nada mais é do que a reportagem gravada) com as primeiras informações do caso. Mas como seria impossível voltar pra emissora, tivemos que gerar o material pelo mochilink, por meio da internet. E o local ainda era afastado, então estávamos com oscilações na conexão. O jeito foi sair da porta da penitenciária, com tudo rolando, e procurar um lugar onde o sinal estivesse melhor.

Entrada, ao vivo, no Balanço Geral Interior; familiares de detentos buscavam informações
Entrada, ao vivo, no Balanço Geral Interior; familiares de detentos buscavam informações Entrada, ao vivo, no Balanço Geral Interior; familiares de detentos buscavam informações

Depois de tudo isso, ainda tínhamos entradas ao vivo no Balanço Geral Interior. Meu retorno estava falhando. Eu tinha dificuldades pra ouvir o apresentador. Abrimos o programa com esse assunto. Entramos no ar no exato momento em que um capitão da Polícia dava uma entrevista coletiva sobre a fuga. Eram inúmeras perguntas para poucas respostas. Mas respostas importantes pra tentar tranquilizar a população, que estava apavorada.

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A adrenalina daquela cobertura tomava conta da gente. O assunto mudou, completamente, o direcionamento do jornal. Saímos do CPP-3 no limite da nossa jornada. Aguardávamos uma outra equipe de reportagem pra fazer nossa rendição. Fomos embora, praticamente, esgotados. O dia, que havia começado parado, terminou de ponta-cabeça. O jornalismo tem dessas coisas. Basta um piscar de olhos pra gente ir do céu ao inferno.

Veja a reportagem daquele dia. 

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