Não há terceiro turno
Como jornalista, repórter e alguém que admira política, a ponto de já ter cogitado a ideia de ser um, sempre vou defender a democracia, mesmo que o resultado dela não me agrade.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
É a primeira vez que falo, abertamente, sobre política por aqui. De vez em quando solto um ou outro pensamento nas redes sociais, mas procuro ser comedido. Primeiro, por auto-censura mesmo. Por entender que, como jornalista, devo evitar opiniões contundentes, sobretudo, para não confundir quem, por ventura, entenda que meus posicionamentos podem interferir no exercício do meu trabalho.
Segundo, e não menos importante, por reconhecer que ainda não somos maduros o suficiente pra discutir ideias. Nem todo mundo sabe, mas antes mesmo de querer ser jornalista, meu sonho era ser político. Aos 11 anos, eu dizia que, um dia, seria prefeito de Araçatuba, minha cidade natal. Qualquer hora, se eu estiver sem assunto, eu conto melhor essa história. Foi ela quem me apresentou ao jornalismo.
Só estou trazendo esse assunto pra cá porque é impossível não analisar os acontecimentos dos últimos dias. Quando eu era moleque, o que mais me chamava a atenção na política eram os discursos carregados de argumentos e estratégia pra convencer o eleitor. Claro que, desde sempre, a mentira, infelizmente, habita esse meio. Mas tenho a impressão de que, mesmo assim, naquela época, os tempos eram outros, bem diferentes. Se vencia uma eleição pelo debate, pela oratória, pela capacidade de dialogar e de se apresentar ao público.
O que se viu na eleição deste ano foi uma paixão sem precedentes por personalidades. Foi a busca por um "salvador da Pátria" e eu, definitivamente, não acredito que exista um. O Brasil é dos brasileiros. Não de um partido, de um político, de uma cor só.
De qualquer forma, não há nada mais valioso no processo do que a democracia. E, menos de uma semana após a eleição mais disputada dos últimos tempos, é necessário que todos entendam a mensagem das urnas. Foi uma reprovação a quem pretendia ficar e a confirmação de que o presidente eleito não é mais unanimidade. Somando os votos do adversário e a manifestação dos que votaram nulo, branco ou, simplesmente, não foram, temos uma ideia do quanto ele também é reprovado. Ainda assim, será o responsável por pacificar o País. Foi essa a promessa.
Aos que perderam, cabe reconhecer a derrota. Cabe a responsabilidade de uma oposição consciente, mas que não trave a Nação. O que me preocupa, como jornalista e cidadão, é que o ano nem terminou e isso já começou a acontecer. Os atos, espalhados pelo Brasil, que contestam o resultado das urnas não vão mudar a escolha da maioria. Várias rodovias do País estão interditadas, atrapalhando o direito de ir e vir de quem não quer fazer parte dessa guerra. Lá atrás, quem, assim como eu, sempre criticou as ações do MST (Movimento Sem Terra), quando integrantes fechavam estradas, montavam barricadas e ateavam fogo em pneus, não pode achar bonito nem "passar pano" pro que está acontecendo agora.
Fiz uma reportagem, essa semana, sobre os impactos da paralisação na rotina de todo mundo. Logo, haverá desabastecimento nos supermercados porque produtos não estão chegando aos destinos. Na Ceagesp, houve queda de 17% na entrada de caminhões, que ficaram bloqueados no trânsito. Na cidade de Mirassol, no interior de São Paulo, um motorista furou a barreira e atropelou, pelo menos, cinco pessoas, que ficaram feridas. O repórter Yuri Macri, meu colega da Record, em São José do Rio Preto, foi atacado por manifestantes enquanto trabalhava. Não é admissível isso.
Assista à reportagem, exibida no Balanço Geral Manhã
Como jornalista, repórter e alguém que admira política, a ponto de já ter cogitado a ideia de ser um, sempre vou defender a democracia, mesmo que o resultado dela não me agrade. O período de discussão sobre nomes já terminou. Agora, é olhar pra frente. Aos que militaram, pediram voto, brigaram e se expuseram cabe a missão mais dura: cobrar com a mesma intensidade, ficar atento, criticar. Exigir o Brasil que foi prometido não só pra esquerda, mas pro centro, pra direita e pra quem não aceita qualquer rotulação. Não é hora de agir com paixão. É hora de colocar o "dedo na ferida" e ser vigilante. Governante nenhum pode assumir nossos caminhos com cheque em branco. O País que a gente almeja passa, necessariamente, pelo nosso próprio amadurecimento.
A conversa, hoje, foi séria. Seríssima.
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