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Conversa de Repórter

O Natal da velha infância

Naquela época, os natais eram mais iluminados. Não vejo mais esse brilho nos dias de hoje. Não vejo as pessoas se preparando pro Natal. 

Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho

Reportagem mostra os pedidos feitos pelas crianças ao Papai Noel
Reportagem mostra os pedidos feitos pelas crianças ao Papai Noel

Já faz algum tempo, mas eu ainda me lembro dos natais na casa da minha avó, Plínia, em Araçatuba. A gente se reunia e não via a hora passar. Eu adorava encontrar os meus primos, tios, avós. Adorava saber que, à meia-noite, eu receberia um presente que, na minha cabeça, havia sido deixado pelo Papai Noel.

Naquela época, os natais eram mais iluminados. As casas ficavam lindas, todas decoradas. Algumas, viravam até ponto turístico, com luzinhas piscando, árvores montadas e enfeites pra todo lado. Eu me lembro que ajudava minha mãe a montar nossa árvore e não via a hora de subir a escada, com meu pai, pra colocar as lâmpadas nas vigas do telhado.

Era uma época boa, mas que ficou no passado. Não só porque eu cresci e virei adulto. Mas é que, sinceramente, não vejo mais esse brilho nos dias de hoje. Não vejo as pessoas se preparando pro Natal. Pelo contrário. Às vezes, faltam dois, três dias, pra data e a gente nem sabe, ao certo, o que vai fazer e se vai fazer alguma coisa.

Eu sei que os últimos dois anos foram afetados pela pandemia e, se for parar pra pensar, nem há tanto o que comemorar. Mas essa minha percepção não vem de hoje. Vem de algum tempo. As coisas mudaram, mesmo. Depois que minha avó, Plínia, morreu, por exemplo, todo mundo deu aquela desanimada. Aí, os natais em família, com todo mundo reunido, passaram a acontecer só de vez em quando.


Não sei como as crianças, hoje, encaram essa época do ano. Eu sempre gostei. Sempre me envolvi com essa magia toda. Provavelmente, por tudo o que envolve o Natal: festas, presentes, personagens, todos os parentes juntos. Aí vão dizer que o verdadeiro sentido da data não é esse. E eu concordo. Mas eu estou falando, agora, exatamente do "faz de conta" que traz um amadurecimento diferente. É um "faz de conta" que transmite valores.

Uma vez, fiz uma reportagem tão simples, mas tão rica ao mesmo tempo, que ela ficou na minha cabeça como uma das mais interessantes que já fiz. Era uma pauta de Natal. Puro comportamento. O repórter cinematográfico, Fernando Pessoa, e eu fomos até o shopping da cidade pra saber o que as crianças tanto pediam ao Papai Noel. Colocamos um microfone no bom velhinho e flagramos reações espontâneas, pedidos e perguntas inusitadas.


Ali, eu ainda via inocência na data. Crianças surpresas. Desconfiadas. Atentas. Curiosas. Pedidos dos mais variados. Mas um, em especial, me tocou. Conheci Maria Eduarda. A garotinha, que na época tinha lá seus oito anos, escreveu uma cartinha pedindo o inusitado pra alguém da idade dela: roupas e sapatos para pessoas carentes. Ainda que não devesse causar espanto esse tipo de iniciativa, ver uma criança preocupada com o que muitos adultos ignoram, é de um valor incrível.

Em meio a tantos pedidos, o ator, por trás da figura do Papai Noel, também dava conselhos e incentivava os pequenos aos estudos. Nada mais singelo e verdadeiro. Hoje, as crianças as quais me refiro, devem estar maiores do que eu. Afinal, essa reportagem que fiz é bem antiga. Mas que experiência interessante mergulhar no universo daqueles pequenos!


Veja reportagem abaixo

Eu ainda não sou pai nem sei quando vou ser. Mas adoraria ver meu filho empolgado com datas especiais e criando memórias afetivas. Esse tipo de "fantasia" traz bons sentimentos, criatividade. Acho que esse tipo de sensação faz falta até mesmo pra nós, adultos, tão acostumados com os perrengues da vida real.

Enquanto escrevo, estou curtindo o calorão de 40 graus da minha querida Araçatuba. Uma semaninha por aqui passa voando. É tanta lembrança, tanta gente querida pra ver, que o tempo se torna escasso. É disso que eu estou falando. Dessas memórias, desses laços. Seja pelas fantasias da infância, seja pelo que foi construído ao longo de uma vida, a verdade é que não há nada melhor do que isso pra gente se reabastecer. Um segundo ao lado da minha família me recarrega pra mais de horas.

Espero que você tenha um Natal assim. Um Natal reconfortante, restaurador e abençoado. Que você consiga reviver o espírito natalino que perdeu. Ou que contagie alguém com aquele que ainda possui.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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