Uma das agências atacadas ficava ao lado da delegacia de polícia da cidade
Jonny Ueda/Futura Press/Estadão Conteúdo - 04.04.2019Abril de 2019. Fazia pouquíssimo tempo que eu estava em São Paulo. Eu ainda era repórter da Record, em Bauru, e tinha vindo pra cá numa espécie de empréstimo pra passar uma temporada no SP no Ar, que tinha estreado uma nova identidade. Seria, apenas, um mês de experiência. Não havia nada certo sobre assumir uma vaga na capital, mas, claro, que minha expectativa já era essa.
Não me lembro, exatamente, qual era a pauta, mas sei que naquela manhã eu faria uma participação ao vivo no jornal sobre algum problema comunitário. Pouco antes de sair da redação, circulava a informação de um suposto ataque a bancos em Guararema, na região metropolitana. É interessante o processo de construção da notícia. Tudo começa tão desconexo, que a missão do jornalista é montar o quebra-cabeça e dar sentido à história.
Já estávamos a caminho da marcação. Pra falar a verdade, estávamos, praticamente, na porta do entrevistado, estacionando o carro. Meu celular toca. Do outro lado, a Giselle Barbieri, chefe de reportagem e coordenadora de link, mudava, totalmente, os planos para aquele dia. O atentado às agências bancárias havia se confirmado e nós teríamos de correr pra lá imediatamente.
De onde estávamos – e minha memória insiste em me boicotar – até Guararema dava uma boa pernada. Chegaríamos lá em cima da hora de o SP no Ar começar. O trajeto serviu pra que eu pudesse me inteirar do assunto. Ao mesmo tempo, eu precisava controlar aquela mistura de adrenalina com ansiedade que tomava conta do meu corpo.
Seria minha primeira grande cobertura fora do interior de São Paulo. E detalhe: eu estava em teste. Me vinham à cabeça, apenas, duas situações possíveis: “ou eu encanto e chego perto do meu sonho de ficar na capital ou eu coloco tudo a perder, se der errado, e volto pra Bauru amanhã mesmo”.
Óbvio que, naquele momento, eu precisava me apegar aos 50% das chances de dar tudo certo. Continuei. Chegamos a Guararema. De longe, dava pra ver a área toda isolada e alguns repórteres já posicionados próximos a um dos bancos atacados, que ficava bem ao lado de uma delegacia.
Ao vivo no SP no Ar, com André Azeredo
Reprodução/Record TVDesci do carro falando, praticamente. O jornal tinha começado há poucos minutos. Comigo, de repórter cinematográfico, estava o Claudemir Cirilo, que a gente chama de Rincon. O auxiliar era o Leandro Costa. A equipe estava alinhada, o que faz toda a diferença em factuais assim. Comecei a narrar tudo o que via. Viaturas e mais viaturas preservando o local. Estilhaços de vidro pelo chão. Cápsulas de bala. População amedrontada.
Bandidos fortemente armados tinham invadido a cidade, explodido duas agências, mantido reféns e trocado tiros com a ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Pelo menos dez criminosos morreram no confronto. Mas, imagine, só. Isso tudo a gente foi construindo em tempo real. Era eu no local, falando com a polícia, trocando informações com outros colegas de imprensa, e a chefia de reportagem juntamente com a escuta, na redação, checando todas as atualizações.
O mais engraçado é que aquela ansiedade que eu sentia no começo deu lugar à confiança. Eu me sentia à vontade pra falar e transmitir ao público a ideia de que eu estava lá pra encaixar aquelas peças junto com ele. Ficamos a manhã toda no ar com o factual e de olho nos desdobramentos. Entramos, ao vivo, para o SP no Ar, Fala Brasil e Hoje em Dia. Foi uma intensa maratona.
Participação, ao vivo, no SP no Ar e Fala Brasil
Reprodução/Record TVPessoas muito queridas, que sabiam que eu estava, temporariamente, cobrindo a vaga, em São Paulo, mandavam mensagens carinhosas de apoio e incentivo. No caminho de volta, entre uma resenha e outra com a equipe, eu me pegava fazendo uma avaliação de tudo aquilo. Eu sou o tipo do cara que sempre vou me criticar. Devo ter encontrado motivos, naquele dia. Mas, no fundo, eu estava orgulhoso.
Pode ser que sim, pode ser que não, mas considero aquele dia como o passaporte para a minha efetivação, que veio quase dois meses depois. Nos corredores, no bate-papo informal, alguns colegas diziam que a repercussão entre a chefia tinha sido positiva. Sempre mantive os meus pés no chão, mas, aqui entre nós, não dá pra negar que aquela oportunidade tornou os meus dias ainda mais esperançosos.
Eu sempre vou me lembrar dessa cobertura como o primeiro grande desafio que tive na capital. O primeiro de tantos outros que eu nem sabia que viriam depois.
Veja um trecho da cobertura, ao vivo, no SP no Ar:
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