Olhos e coração que falam
Não tem repórter nem apresentador bonitinhos, no vídeo, sem um cinegrafista. Não tem notícia em televisão sem uma boa imagem pra ilustrar. Preciso falar sobre eles. Preciso falar sobre a minha gratidão.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
Meu trabalho não faria o menor sentido se não fosse o talento desses meus parceiros que fazem mágica com a câmera nos ombros. Meu texto não seria possível sem uma imagem pra ilustrá-lo. Eu uso as palavras. Eles usam a sensibilidade de um olhar apurado.
Há, exatamente, uma semana foi o Dia do Repórter Cinematográfico. Pensei: "Preciso escrever sobre esses caras". Mas não só pra dar os parabéns. E, sim, pra falar de gratidão. Gratidão a cada um dos profissionais com quem já trabalhei e trabalho nesses 11 anos de jornalismo em Araçatuba, Bauru e São Paulo. É tanta história que a gente tem além das muitas histórias que contamos no vídeo. Tantas experiências, brincadeiras, emoções e amizade. Com alguns, a parceria ultrapassa os limites da correria diária.
Enquanto vou rascunhando esse texto, vou me lembrando de algumas passagens que valem muito a pena contar. Não quero ser injusto com nenhum deles, mas vou ter que citar alguns nomes que, definitivamente, me marcaram em algumas situações. E nem todas elas foram profissionais.
Há pouco mais de uma década, eu era, apenas, um menino ingressando no telejornalismo, em Araçatuba. Franzino, com cara de moleque, roupas desajustadas no corpo, mas desbravando os caminhos na televisão. Quando comecei a me interessar pela reportagem, o Marcos Sousa foi um dos primeiros cinegrafistas – se não for o primeiro – a me encorajar.
Comecei na rua como espectador. Eu era estagiário e, de vez em quando, saía com as equipes pra ver como o trabalho funcionava. O Marquinho sempre dizia: "Luquinha, grava uma passagem pra ver como fica". Passagem, pra quem não sabe, é a parte em que o repórter aparece na matéria. Coincidentemente, ele e eu éramos, praticamente, vizinhos. Às vezes, eu ia trabalhar de ônibus e ele passava de carro pelo ponto me oferecendo carona. Também já subimos muita ladeira de bicicleta até a TV.
Quando minhas primeiras reportagens começaram a ir pro ar, eu fazia um quadro popular no jornal. Eram matérias comunitárias. Fiz várias com o Marquinho, que foi quem me ensinou muito do que eu sei hoje. Quando lembro do meu início de carreira, me vêm ele, o Donizete Santos, o Ever Centurion, o Marco Leandro e o Fernando Pessoa à cabeça. Alguns, me viram criança. Sério. O Donizete, o Marquinho e o Nando me conheceram ainda adolescente, já querendo ser visto.
Depois, quando fui pra Bauru, já mais experiente, eu fui acolhido por caras que foram bem mais do que meus cinegrafistas. Um deles foi o Fábio Fidêncio. Minha passagem pela cidade sem limites não teria sido a mesma sem ele, com certeza. O Fabinho foi meu primeiro cinegrafista na Record Paulista. As imagens dele sempre dispensaram o meu texto. Elas, por si só, conversavam com o telespectador.
Eu acho que nem ele tem a dimensão do quanto sou grato à família dele. Cheguei em Bauru pra arriscar uma vida lá, longe da minha casa. Pra minha surpresa, encontrei abrigo. Com ele, eu não trabalhava, apenas. Me divertia. Ria demais. Nós fazíamos piada de tudo. Temos, aliás, um repertório de piadas internas. Foram inúmeros cafés entre um intervalo e outro. Inúmeros churrascos na casa dele em fins de semana que eu ficaria sozinho. Inúmeros almoços que a Patrícia, esposa dele, mandava pra mim diante da minha falta de habilidade na cozinha. Inúmeras vezes que ele não me permitiu ficar sem companhia. Jamais vou me esquecer daquele Natal que, pela primeira vez, eu passaria sozinho em Bauru. O Fabinho me levou pra casa dos parentes dele, que eu nem conhecia.
Após três anos em Bauru, surgiu a oportunidade de vir pra São Paulo. Vim, num primeiro momento, pra fazer um teste. Contei pra ele. Depois, quando, finalmente, tudo deu certo voltei pra me despedir. Chorei ao abraçá-lo. Igual quero chorar, agora, enquanto me recordo disso. Não dá pra esquecer de quem sempre fez sem esperar nada em troca. Ele não foi só meu cinegrafista.
Existem histórias por trás das câmeras. Histórias marcantes. Repito. Não quero ser injusto com nenhum parceiro meu, mas o que estou contando aqui são coisas que me marcaram profundamente. Como não acredito muito em sorte, digo que foi Deus quem colocou tanta gente boa pra me ajudar na caminhada.
Quando cheguei em São Paulo, ainda em fase de teste, o repórter cinematográfico Rodrigo Betio, que a gente chama de Jaca, me deu um "chacoalhão" na primeira vez que saímos juntos. Eu estava fazendo uma reportagem com poucos recursos de imagem. Não tínhamos muito cenário pra criar. Quando fui gravar minha passagem, eu disse pra ele: "Pode ser aqui, mesmo, paradinho".
Sem titubear, ele virou pra mim e respondeu: "Você saiu de Bauru pra ser, apenas, mais um aqui? Vamos pensar numa passagem criativa". E foi o que ele fez. Ele pensou. Eu fiz. Aquilo nunca mais saiu da minha cabeça. Acho que ele viu algum potencial em mim e quis me abrir os olhos. Tanto, que eu repito essa história pra um montão de gente.
Eu dou um valor imenso pra esses caras. Eu ofereço o meu reconhecimento, porque, realmente, me sinto grato. Não tem repórter nem apresentador bonitinhos, no vídeo, sem um cinegrafista. Não tem notícia em televisão sem uma boa imagem pra ilustrar. Ainda que eu tenha bastante "poeira pra comer", não haveria o Lucas Carvalho de hoje sem tantos colegas, amigos e parceiros. Eu não me construo sozinho. E sou feliz por isso.
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