Ser repórter é fazer escolhas
Sem sombra de dúvida, a escolha mais certeira que move um repórter é a busca pela justiça, verdade, compromisso e relevância. É a vontade de querer ser mais na vida de alguém.
Conversa de Repórter|LUCAS CARVALHO, do R7 e Lucas Carvalho
É uma briga diária e constante com o relógio. Eu chamaria de relacionamento tóxico. Tanto, que já são quase nove da noite e eu estou aqui correndo pra entregar um texto decente antes que o "Dia do Repórter" termine.
A luta contra o tempo é uma característica gritante do jornalismo, especialmente, da reportagem. A gente já sai da redação pensando no deadline, que é o tempo limite que a equipe tem pra realizar a matéria. O grande problema dessa relação é que o tempo de um repórter nem sempre é o mesmo de quem vai dar uma entrevista. Aliás, não é nem o mesmo tempo de quem, por vezes, nos apressa pra entregar logo tudo pronto.
Quem passa pela experiência do factual, do jornalismo Hard News, que é aquele que tem urgência, certamente, terá passaporte para qualquer desafio no jornalismo. Ser rápido e, ao mesmo tempo, criativo, cuidadoso e responsável com a notícia é uma equação difícil de resolver. Não é pra todo mundo, não.
Todas as funções do jornalismo são essenciais, mas o repórter é a alma do fazer jornalístico. É ele quem traz as histórias da rua. É ele quem empresta o olhar às mais diversas situações do cotidiano. É ele quem "dá a cara tapa" em busca de uma resposta, de um porquê. Posso até estar legislando em causa própria aqui, mas o trabalho de campo é como uma pedra bruta sendo lapidada: você vai esculpindo a informação até que ela se torne, de fato, uma notícia.
Minha querida amiga, colega de reportariado, Fernanda Trigueiro, escreveu na rede social dela algo que, verdadeiramente, define a vida de um repórter:
O dia de um repórter é feito de escolhas. Abrir o VT (a reportagem) com o personagem ou com a imagem da câmera%3F Cancelar ou não o compromisso particular para continuar em uma cobertura especial%3F Dormir%2C tomar água ou comer%3F Fazer os três é luxo. Um trabalho longe de ser glamour e bem próximo do perigo.
Ser repórter, por si só, já é uma escolha. A gente já sabe que vai precisar escolher não folgar em todos os feriados, fins de semana, deixar de ir em eventos, festas e até mesmo abrir mão da companhia das pessoas que mais amamos. Não é uma escolha definitiva. É uma escolha que acontece todos os dias. Tem vez que a gente escolhe com certeza. Tem vez que a gente escolhe querendo chorar.
É isso.
O processo é esse. A gente também escolhe passar por ele. Escolhe como passar. Mas, sem sombra de dúvida, a escolha mais certeira que move um repórter é a busca pela justiça, verdade, compromisso e relevância. É a vontade de querer ser mais na vida de alguém, de fazer a diferença, de mudar atitudes usando as palavras.
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