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A mesma novela, a mesma caçada

Personagens de si mesmo, matadores fugitivos agem dentro de um roteiro da vida real e continuam a ganhar a atenção da sociedade de seus tempos

Eduardo Olimpio|Do R7

O assassino Lázaro Barbosa
O assassino Lázaro Barbosa O assassino Lázaro Barbosa

Lázaro Barbosa morreu na manhã de hoje, segunda-feira, 28 de junho de 2021, depois de 20 dias de cerco policial em terras goianas. Virgulino Ferreira morreu numa quinta-feira, dia 28 de julho de 1938 após quase 20 anos de cerco, em uma ação das patrulhas volantes em solo sergipano. Ambos mataram e terminaram sua vida mortos por bala. Para eles havia uma recompensa a quem os pegasse. Não envelheceram, mas tiveram filhos. Os nomes dos dois homens assassinos estão no Wikipédia, e Lázaro já teve sua data de falecimento atualizada.

Achei que a história do primeiro não merecia uma atenção maior a não ser pela chacina a ele atribuída ocorrida há poucas semanas e que, se pego, dificilmente sairia do cárcere com vida. Já com o segundo personagem, passados mais de 80 anos de sua morte e mutilação de seu cadáver, sua vida e ‘feitos’ continuam no imaginário popular com idas e vindas entre polos de herói e de bandido. Se houvesse televisão naquele final da década dos anos 1930, certamente seria tema de alguma retrospectiva, como o primeiro será, sem dúvida alguma, ao apagar de 2021.

Também se internet, redes sociais telefones celulares povoassem nosso solo continental brasileiro nos tempos de Lampião, o próprio e seu bando seriam alvo não só dos ‘macacos, como eram chamados os policiais das tropas caçadoras, mas dos criadores de memes. Nem dá para pensar nas inúmeras alegorias atreladas a ele, com Maria Bonita, Corisco e demais.

Na época de Virgulino não havia drones com câmeras sensíveis ao calor e movimento, helicópteros, nem picapes ou mira a laser, mas estiveram com cangaceiros jornalistas e fotógrafos, que acessaram o núcleo de poder do movimento por conta de duas pontas de uma mesma corda: a importância da repercussão dos atos de terror praticados pelo bando como assaltos, furtos, sequestros e assassinatos e a vaidade do líder, que pedia para se arrumar antes de ser clicado pelas lentes. No tempo de Lázaro não havia nenhum romantismo, nenhum lirismo; só uma caçada dia e noite em ‘real time’ para pegá-lo, relatos em áudio de vítimas dele e traumas dos sobreviventes explicitados em choros ouvidos e traduzidos em vários meios digitais, até por Libras.

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Para os dois, autoridades públicas separadas por 8 décadas empenharam suas palavras no sentido de demonstrarem à população que a situação estava sob controle e que, mais cedo ou mais tarde, cansados, sem recursos ou ajuda de terceiros, sucumbiriam às forças de segurança como, de fato, ocorreu, para alívio dos currículos. Só não precisamos da repetição da cena em que uma aeronave pousa numa ponte e, dela, sai um governador engravatado bradando, rindo e comemorando efusivamente as balas no corpo do meliante.

Achar ou afirmar que há laços psicológicos entre Lampião e Lázaro parece ser uma tarefa não muito fácil, mesmo atribuindo aos dois a prática de homicídios e demais crimes. Frieza e cálculos entram nas variáveis a serem tachadas ou descartadas. Seriam sociopatas ?

Caberá à historiadores e vasculhadores de mentes, daqui a um tempo, se debruçarem sobre os relatos dos jornalistas e das pesquisas de outros aspectos da linha da vida de Lázaro Barbosa para retratar, com maior fidelidade possível, não só os fatos mas suas contradições e versões contextualizadas deste momento que hoje vivemos com o fenômeno que se tornou a captura de Lázaro. Quanto à Virgulino Ferreira, o Lampião, tudo isso já está mais ou menos acomodado nos registros da história e de suas intepretações para quem se aventurar a fazê-las.

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