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Deixa que eu te falo sobre você

Influenciadores digitais ou analógicos, velhos ou crianças, são os formadores de opinião atuais que nos ditam valores e atos a seguir

Eduardo Olimpio|Eduardo Olímpio

Cristiano Ronaldo e as garrafas de Coca-Cola
Cristiano Ronaldo e as garrafas de Coca-Cola Cristiano Ronaldo e as garrafas de Coca-Cola

Desde a antiguidade o ser humano influencia o outro e é influenciado por seu semelhante na medida em que as relações pessoais se estabelecem. Nos dias atuais, tais relacionamentos, para além dos cumprimentos de mãos, de abraços e papos presenciais, se dão na forma virtual, através de imagens e áudios e, num futuro não distante, de cheiros e texturas.

O que une passado e presente nesta troca entre as pessoas é a questão do simbólico, que extrapola fronteiras do tempo e do pensamento abarcando uma série de ações e grafias que, ao codificarem um certo modo de ser de um objeto ou de alguém automaticamente revestem-se de um valor. Esse aglutinado, agora valorizado, automaticamente passa a se fazer presente na vida um do outro, influenciando mutuamente os ambientes físicos e emocionais onde se dão os encontros humanos e, agora concreto, veste-se de um significado.

Cristiano Ronaldo, um símbolo em si de muitas coisas dentre os quais vitória, potência, sucesso e talento, se emparelha com qualquer um de nós mortais quando age e, nesse seu ato, muda o status que até então estava num lugar determinado. Para quem perdeu a cena, dia desses ele estava para iniciar uma coletiva de imprensa quando, sem pestanejar, retirou de sua frente (e das câmeras, consequentemente) duas garrafas de Coca-Cola, aquela substância enigmática e escura, gaseificada, centenária, globalizada e, não poderia deixar de ser, extremamente simbólica. Ato sequência, a empresa que engarrafa o tal líquido perdeu, em horas, bilhões de dólares de valor de mercado.

Não dá pra assegurar fielmente que tal rombo se deu ao movimento das mãos do craque dos pés. Mas a discussão aqui é que tudo acaba virando mercadoria e informação na boca certa com olhos, narizes, ouvidos e poros receptores certos.

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Estamos em plena era da circulação ilimitada da informação e da opinião, exercendo amplamente o que nos assegura a Constituição Federal no aspecto das liberdades de expressão (artigo 5º), por mais que soframos, aqui e acolá, reveses, ora jurídicos, ora atrelados a setores da sociedade. Nunca se falou, gravou, escreveu, ouviu ou leu tanto em múltiplas vias de acesso como agora. Não discuto a qualidade, pois se assim agisse, as laudas deste espaço sagrado não dariam conta.

O que levanto aqui é que tudo isso que se produz tem autoria, e hoje em dia todo mundo produz coisas (informação) para todo mundo consumir. Quem não age assim está no planeta x de qualquer outra galáxia, assim como é visto como alienígena alguém sem um aparelho que faz tudo chamado celular. Não é humano não ter um.

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Todos são ‘influencers’ e formadores de opinião, nas mais variadas áreas de conhecimento ou de entretenimento, e de idade. Meu filho de 9 anos se acha um destes. O espectro de abrangência varia, desde dentro da família até círculos políticos, militares, científicos, midiáticos e mercadológicos globais. As grandes empresas, por exemplo, já sabem que pagando pessoas que detêm milhares de seguidores em suas redes sociais estão alicerçando um público consumidor mais identificado com o ‘speaker’(em livre tradução, o falante), pois se já o seguem em suas nuances de valores e de comportamento, acabarão seguindo, por extensão, suas dicas de consumo e valores. Isso, claro, não é novo, porém está mais evidenciado por conta da digitalização dos meios de opinião e de aquisição de bens e visões de mundo.

Quase nada nos resta de autonomia crítica quando estamos sendo bombardeados, sem mesmo seguir alguém em que rede for. Sobra-nos só um bocadinho de consciência quando nos colocamos do lado de fora da bolha e enxergamos o emaranhado de interesses que rondam a nuvem de gás paralisante carregada de, voltemos a ele, símbolos, para serem consumidos, aceitos, internalizados, mimetizados.

CR7 foi contra a maré. Ele pode. E nós, sabemos que podemos também retirar de nossa frente as garrafas que nos contém dentro delas, líquidos e inertes?

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