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Voos para lugar nenhum

Estamos ou não conscientes quando investimos nas lacunas que não param de surgir na nossa caminhada?

Eduardo Olimpio|Do R7

Estamos pegando voos para lugar algum
Estamos pegando voos para lugar algum Estamos pegando voos para lugar algum

Dá para perceber onde se quer chegar com uma chamada assim? Pois bem, foi algo desse tipo que li dias atrás em plena pandemia e que me chamou a atenção e, quase certo, assim faria com a sua também.

Nesta e noutras reportagens havia a história de que pessoas estavam saudosas de voar de avião mundo afora e o capitalismo não perdeu tempo em saciar tamanha demanda, surgida pela abstinência de entrar numa aeronave e vivenciar ritualisticamente todos os procedimentos anteriores ao sentar-se na poltrona.

Para tanto, companhias aéreas montaram ‘pacotes’ turísticos que contemplam uma completa simulação de ‘saída de férias’ ou de um ‘voo a trabalho’ incluindo check in, verificação de passaporte, passagem pelo finger (aquela passarela suspensa, coberta e articulável que nos conecta do portão de embarque até a porta do avião) ou pela pista para acessar um jato comercial e, nele, assento marcado com a finalidade de simplesmente reviver esse calvário. Em alguns casos, o avião decola mesmo e faz um tour por algum lugar, retornando depois de um tempo ao mesmo aeroporto, haja vista o impedimento de cruzar fronteiras mantido por maioria absoluta dos países num mundo ainda transviado.

A reflexão aqui não é de um especialista em psicologia coletiva, ciência social, antropologia ou economia mas sim de alguém que, de forma empática, põe-se a encenar um humano carente em regime de confinamento social que dispensa uma razoável quantia de dinheiro para figurar como passageiro aéreo em vias de embarcar num aparelho voador que, dependendo do pacote contratado, nem sai do chão.

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Sem mais o que fazer da vida? Louco(a) que rasga cédulas da moeda? Solitário(a)? Carente profissional? Excêntrico(a)? Bobo(a)? Típico(a) vítima cuja mente adoeceu durante um período longo de restrições provocadas pela circulação de um vírus? Viciado(a) ou fã de aviação? Apenas curioso(a)?

Qualquer resposta pode dar conta da lista e de outras que nem aqui se encontram. O que instiga nessa onda toda, além de achar uma explicação para esse perfil de empreitada coletiva e incomum, é perceber como a sociedade acha novos caminhos pra se reinventar, não importando muito em que lado se participa do evento. Sim, tudo na vida tem ao menos dois lados e, no caso, implica em saber quem sai ganhando com essa experiência.

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Da lógica financeira e, para mim no momento, a que interessa escarafunchar, temos os iluminados que encontram nas crises oportunidades de ganhar (mais) dinheiro diante das diversidades do mundo. Sempre haverá um vendedor de fósforo que alimentará um ateador de fogo, assim como um carpinteiro que construirá caixões incessantemente durante sua vida profissional para ganhar honestamente seu pão regado a lágrimas e dores de seus clientes no momento da transação comercial.

O mundo, capitalista ou não, é movido pela iniciativa de alguém (pessoa ou estado) em suprir a necessidade de um semelhante (indivíduo ou regime). Não dá muito certo julgarmos como se dão estas relações e aspectos personalistas destas. O fato é que estamos quase sempre pegando voos para lugar algum sem nos darmos conta disso quando consumimos o que não precisamos. Não sei se é o caso que comecei a contar aqui, mas é de se pensar no que aplicamos nossa grana, tempo e energia.

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