Da esquerda para direita: Prof. David Duarte Lima, Fernando Duran Poch (Diretor DETRAN, Fátima Lima (Diretora Fundación Mapfre)
Foto: André GarciaNa última quinta-feira, 21 de novembro, foi apresentando pela Fundación Mapfre no auditório do DETRAN em São Paulo, o estudo “Motociclistas na Cidade de São Paulo”, sobre o comportamento e índices de mortalidade destes condutores no trânsito na capital paulista. O estudo foi liderado pelo Professor David Duarte Lima da Universidade de Brasília, via Instituto de Segurança no Trãnsito.
Os dados foram obtidos a partir de pesquisa quantitativa com 1.210 motociclistas e mais 40 entrevistas em profundidade. Além disso, foram entrevistados 10 técnicos de trânsito, e realizadas visitas técnicas a órgãos de trânsito que, de alguma maneira, se relacionam com o motociclismo.
A maior parte dos entrevistados utiliza a moto como ferramenta de trabalho e justifica comportamentos muitas vezes imprudentes, como exceder a velocidade, pela pressão pela pontualidade das atividades profissionais.
Entre os dados apresentados, também chama atenção a preocupação dos motociclistas com a possibilidade de causar lesões a terceiros, superior a ter colisões ou queda da moto. Isso porque 45% declarou ter como maior medo atropelar um pedestre nas ruas, enquanto 28% afirmou temer colidir com veículos maiores – como ônibus e caminhões.
Olhar humano: motoqueiro ou motociclista se preocupa mais com a segurança do próximo do que com a sua própria segurança
Foto: extraído do estudo“Para propor soluções efetivas para a redução das mortes causadas por acidentes de trânsito, é essencial entender o comportamento de todos os agentes e suas motivações. Nossa pesquisa, oferece um ponto de partida para o desenvolvimento de ações educativas e apoio a políticas públicas”, afirma a diretora da Fundación MAPFRE no Brasil, Fátima Lima.
Seguindo a linha de raciocínio da Diretora da Fundación Mapfre é essencial que o Estado e seus agentes deixem de ver a motocicleta como problema e olhe para o modal como alternativa de mobiidade urbana. Tema que tratei em 2013 na revista Moto!, leia aqui.
As características das ocorrências também foram avaliadas. Segundo a pesquisa, 65% dos acidentes acontecem durante o dia, 57% em pontos pouco movimentados e 56% com a pista seca.
Acidentes e mortes
Praticamente todos os entrevistados afirmaram ter se envolvido em acidentes, 80% deles disseram conhecer alguém que morreu no trânsito e 84% possui colega com sequelas depois de uma ocorrência com moto.
No Brasil morrem, todos os anos, cerca de 40 mil pessoas em acidentes de trânsito – desse total 33,4% são motociclistas, de acordo com o Datasus, sendo homens (89,1%%), pardos (59,8%), com idades até 35 anos (33%) e solteiros (60,32 %).
Além das perdas humanas, os socorros, internações e tratamentos dessas vítimas constituem em gastos estimados em mais de R$ 70 bilhões ao sistema de saúde, de acordo com o Instituto Brasileiro de Segurança de Trânsito (IST). Nesse contexto, as mortes em ocorrências envolvendo motocicletas superaram 120 mil, de 2007 a 2017.
“Parte do aumento de mortes pode ser explicado pelo crescimento da frota de motocicletas e motonetas, que no ano passado atingiram 27 milhões de unidades nas ruas e já representam 27% da frota total no país. Por outro lado, é preciso rever o processo de formação de condutores, além de promover ações governamentais efetivas nas áreas de educação, segurança pública e infraestrutura das vias”, analisa o diretor de Educação para o Trânsito e Fiscalização do Detran-SP, Fernando Duran Poch.
Apesar do Diretor de Educação para o Trânsito e Fiscalização do DETRAN/SP chamar a responsabilidade só para o Estado, o que é louvável, como motociclista, especialista em Segurança de Trânsito com foco na motocicleta, atuando há mais de uma década no setor de duas rodas na imprensa, entendo que o fabricante é peça fundamental nessa transformação. O fabricante tem sim grande responsabilidade institucional da qual vem se furtando ou mascarando, já que sua preocupação é só com números comerciais e o Estado e a sociedade que assuma o ônus. Tema que vou tratar na próxima quarta-feira com a matéria "O que o Setor de Duas Rodas pode aprender com o Setor de Bebidas?".
Acesse o estudo “Motociclistas na Cidade de São Paulo” no link: https://www.fundacionmapfre.com.br/fundacion/br_pt/images/Relatorio-Motociclistas_SP-21x28_tcm1071-579433.pdf
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