Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Espelhos d'água protegem prédios públicos de Brasília de invasões

Um homem foi detido nesta segunda-feira (16) pela Polícia Federal por lançar carro no espelho em frente ao Ministério da Justiça, na Esplanada

R7 Planalto|Plínio Aguiar, do R7

Espelho d'água em frente ao Congresso Nacional
Espelho d'água em frente ao Congresso Nacional Espelho d'água em frente ao Congresso Nacional

O caso do homem detido pela PF (Polícia Federal) nesta segunda-feira (16) por lançar um automóvel no espelho d’água no Ministério da Justiça,na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, levantou a suspeita de um atentado e chamou a atenção para a finalidade da construção arquitetônica.

Foi o espelho d'água do prédio da Justiça que impediu que o carro atingisse a estrutura, o que poderia gerar prejuízos ou até mesmo machucar pessoas.

Leia mais: Polícia Federal investiga suposto atentado ao Ministério da Justiça

No caso do Ministério da Justiça, o espelho projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer tinha uma função estética, assim como o do Itamaraty, mas em outros prédios públicos, como o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, os espelhos d'agua não faziam parte do projeto original e foram construídos justamente para barrar tentativas de invasões.

Publicidade

“Os espelhos d’água do Palácio do Planalto e do Congresso são uma solução plasticamente aceitável, muito de acordo com o projeto de Niemeyer. Não abala o projeto original do prédio, mas foi feito não com a finalidade prática e, sim, com a finalidade de segurança, de impedir a população de chegar muito perto, para isolar a estrutura do prédio”, afirma o professor da Universidade de Arquitetura da UnB (Universidade de Brasília) Antônio Carlos Cabral Carpintero.

Veja também: Viatura da PM cai em espelho d'água da Biblioteca Nacional

Publicidade

Os espelhos d’água do Planalto e Congresso foram construídos na década de 90 e os do Itamaraty e da Justiça, entre os anos 50 e 60. A título de curiosidade, a superfície com água em frente ao Congresso Nacional conta com uma área aproximada de 1.635 metros quadrados, comportando 1.900 metros cúbicos de água, com profundidade de 1,10m e uma largura que varia entre cinco a 20 metros.

História

Para entender melhor o cenário da construção arquitetônica, é preciso voltar atrás na história. A inauguração do Palácio do Planalto marca a história por simbolizar a transferência da sede do Executivo para o interior do país – promovida pelo então presidente Juscelino Kubitschek. Em 21 de abril de 1960, os Três Poderes da República se instalaram simultaneamente em Brasília, na região centro-oeste do País.

Publicidade

A construção do prédio foi iniciada em 10 de julho de 1958 e, até a sua conclusão, a sede da chefia do governo federal havia funcionado no Palácio do Catetinho, um sobrado nos arredores de Brasília.

Mais: Conheça a história da construção de Brasília, durante o governo de JK

O responsável por vários edifícios públicos na capital federal foi o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). Entre os projetos, estão o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, Esplanada dos Ministérios, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal - já o Plano Piloto de Brasília foi elaborado pelo arquiteto Lúcio Costa, vencedor do concurso feito na época.

A Esplanada dos Ministérios está localizada no Eixo Monumental, que corta o Plano Piloto no sentido leste-oeste. A área é um vasto gramado com 17 edifícios de construção uniforme, que abrigam os ministérios. Dois prédios, a exemplo do Ministério da Justiça e o Itamaraty, possuem espelhos d’água.

O professor da UnB explica que as construções em ambos ministérios têm a finalidade de se integrar à composição estrutural do prédio. “O [ministério] da Justiça é um que tem uma água caindo na própria fachada. O lago é parte da composição plástica do prédio. No do Itamaraty, é para dar a impressão de que o prédio está flutuando pelo lago”, diz.

Confira: Exposição mostra quadros da história de Brasília

Composição plástica é usada para falar sobre a distribuição harmoniosa das cores e das formas num conjunto de elementos visuais. Essa expressão arquitetônica, contudo, não se aplica aos espelhos d’água do Palácio do Planalto ou do Congresso Nacional, segundo o professor, que é especialista em Niemeyer, projeto original urbanístico de Brasília e na arquitetura das Casas Legislativas (Câmara dos Deputados e Senado Federal).

Na imagem, manifestação de 2013 no Congresso
Na imagem, manifestação de 2013 no Congresso Na imagem, manifestação de 2013 no Congresso

Questionado sobre a diferença do uso de espelhos d’água na mesma Brasília, o professor argumenta que, quando foi construído o da Justiça e do Itamaraty, não havia pressão popular que chegasse às portas dos edifícios. Com o passar dos anos, contudo, essa ação se modificou e as áreas livres e verdes, antes espaços de lazer, foram dando lugar a protestos. As manifestações de 2013 exemplificam esse cenário - milhares de pessoas dentro do espelho d’água do Congresso Nacional, na rampa, no gramado, em todo o espaço.

Relembre manifestações que mobilizaram multidões em Brasília nos últimos meses

E a finalidade de o espelho d’água servir para isolar os prédios do Planalto e Congresso agora, por reboque, livrou o edifício do Ministério da Justiça de ser atingido. Isso porque na noite e domingo (15), data do primeiro turno das eleições municipais de 2020, um homem lançou um automóvel no espelho da água do local.

As diligências para prender o responsável começaram ainda durante a madrugada. O veículo foi encontrado sem motorista e, dentro dele, havia um pedaço de madeira preso ao acelerador. O carro foi retirado do local na manhã desta segunda-feira (16) com o auxílio de um guincho.

Grades

Carro lançado no espelho d'água do Ministério da Justiça
Carro lançado no espelho d'água do Ministério da Justiça Carro lançado no espelho d'água do Ministério da Justiça

As grades também invadiram Brasília durante os últimos anos. Muitos dos prédios instalaram o material e, segundo o professor, “cortam o projeto original” da capital federal. Ela quebra o sentido principal, que é a continuidade do chão, argumenta o professor.

“O Congresso em Washington, capital dos Estados Unidos da América, tem cúpula alta no alto de uma colina. O nosso Congresso, por sua vez, está na parte mais baixa da cidade. Isso é simbólico porque está ao nível do povo. O arquiteto Lúcio Costa, em desenhos muito pequenos, indicativos, mas não sugestivos, tentou fazer uma cúpula única. Mas, Niemeyer finalizou com duas, da Câmara e Senado, e ambas estão no nível do chão, dando continuidade do chão".

Ainda: Vídeo flagra homem derrubando grades de proteção em frente ao Palácio do Planalto

“As grades são colocadas por uma situação que é estranha, porque não foram colocadas durante governos militares e, sim, depois. É como se os militares não tivessem medo do povo e os civis, sim”, finalizou.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.