O governante que se diz surpreendido pela violência das chuvas deveria ter o mandato cassado por falta de decoro. Eles sabem que é uma declaração imoral. Todos sabemos: a cada início de ano, pessoas vão morrer levadas por enchentes, temporais vão destruir casas, deixar famílias sem nenhum pertence, fechar comércios, gerar prejuízos para muitos definitivos.
O governante que alega que em “um dia choveu o esperado para um mês” é um cínico. Isso já virou anedota, de tanto que ouvimos falar. A tragédias das chuvas, em São Paulo, por exemplo, atravessou de forma impiedosa todo o século 20, sem tréguas. As águas da morte, com cheiro de esgoto, sempre virão.
O governante que diz ter tomado todas as providências e fez todo o possível para prevenir enchentes e inundações é um mentiroso. Percebam que imediatamente todos eles convocam coletivas para anunciar ações de emergência e “medidas definitivas” para o próximo ano. De novo. Tudo mentira.
O governante que não usa (“contingencia”) verbas já disponíveis e planejadas para combate a enchentes age como um criminoso. Merece ser tratado como um assassino frio e calculista. Preso, deveria ficar ao menos um mês por ano dormindo numa cela alagada e fétida.
O cidadão que é vítima em potencial do caos que já faz parte de nosso calendário de tragédias anunciadas deveria ser mais aguerrido, mais indignado, mais revoltado. A Constituição garante que saneamento básico é direito. Cidades são obrigadas a ter planejamento urbano. O governante que não cumpre suas funções tem de ser varrido da vida pública nas próximas eleições – por uma enxurrada de votos.