Liberdade de expressão é um direito universal. Atende a todos os cidadãos que pertençam a um regime democrático neste planeta. Quando o princípio era exortado, por cacoete, logo associávamos essa reivindicação a setores de esquerda (ou progressistas). O jogo virou recentemente – e discursos considerados de direita (ou conservadores) passaram a ser alvo de retaliações jurídicas e, quem diria, de punições vindas de instituições públicas e privadas.
Complicou, mas é bem fácil de resolver.
Seria bom ressaltar – até para ser possível prosseguir no raciocínio – que o conceito de liberdade de expressão não comporta (nem poderia) a propagação de atividades criminosas, calúnias, desinformação consciente ou atentados ao estado de direito e à democracia (únicos garantidores de que as pessoas possam continuar a se expressar, sem receio de serem punidas).
Posto isso, precisamos nos reeducar e atualizar o entendimento do que é pensar diferente. E se há algo pouco difícil de identificar, para qualquer ser humano, é um pensamento contrário ao nosso. Ao receber opinião ou informação verificável que cause desconforto, revolta, constrangimento ou sentimento de derrota, aí sim, acione o alerta mental: é exatamente neste momento que a liberdade pede licença para se expressar.
Portanto, está vetado aos democratas, aos "defensores da liberdade de expressão", reagir com fúria física, criar patrulhas violentas ou conclamar a repressão a atos, manifestações e ideias que pertençam a bolhas, grupos e indivíduos com os quais discordamos. Moleza.
Aos que quiserem ser vistos como seres humanos educados e elegantes, por convicção e estilo, a dica é seguir a etiqueta e os bons manuais: respeite seu oponente, não o trate como inimigo e desenvolva a capacidade privilegiada de ouvir quem pensa diferente. Ao final, todos saíremos vitoriosos.
Só a título de exemplo, tomara pedagógico, não foi o que aconteceu com a jornalista espanhola Pilar Rahola. Ela foi demitida do diário La Vanguardia, após expressar suas posições em defesa do "direito à autodefesa do Estado de Israel contra o terrorismo do Hamas". Não bastasse, foi atacada em sua residência pelo grupo Arran, da esquerda independentista catalã.
Há os que concordam com as posições de Rahola. E os que discordam. Há sionistas e antissionistas. E existe um espaço em que esses dois grupos podem conviver harmonicamente, sem patrulhas ou retaliações que destroem vidas: na democracia.