Aos 53 anos, o técnico em mecânica, petróleo e gás, Carlos Ulisses Figueira, viu sua vida virar de ponta cabeça após ter que enfrentar o divórcio, o desemprego e a baixa autoestima que veio junto com essas perdas.
Sem dinheiro para recomeçar, ele precisou morar de favor e, como não conseguia uma recolocação, acabou tendo que ir morar nas ruas. Assim, sem esperança, pensou em tirar a própria vida, mas não o fez.
Carlos não aceitou se acostumar com aquela situação e não desistiu de tentar arrumar um trabalho. Foi quando ele viu, em um projeto coordenado pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro (DPRJ), uma oportunidade de voltar a estudar. A sala de aula foi, por muitas vezes, a marquise da Defensoria Pública.
"Nunca é tarde para aprender". Era o que ele dizia para as pessoas que o viam estudando nas calçadas do Rio de Janeiro.
E não é mesmo. O estudo e o esforço trouxeram uma grande chance para que ele se reerguesse. Após quatro anos morando em situação de rua, em março deste ano, conseguiu um emprego na sua área de atuação, em uma companhia de Santo André, São Paulo.
"A vida passa muito rápido. Precisamos saber nos levantar após uma queda e olhar para frente", disse Carlos que, empregado, não vive mais em situação de rua.
Dados tristes
A história dele chama atenção, ainda mais após a divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontou que o desemprego no Brasil atingiu a taxa recorde de 14,7% no 1º trimestre deste ano. São 14,8, milhões de pessoas desempregadas, uma alta de 6,3%, na comparação com o último trimestre de 2020.
Então, muitos brasileiros provavelmente estejam como Carlos já esteve, vendo tudo dar errado em suas vidas, sem conseguir encontrar oportunidades profissionais. É como se a vida não andasse.
Segundo especialistas, o desemprego aliado a ansiedade faz com que as pessoas percam as esperanças em um futuro melhor.
Vencendo o desânimo
Evidentemente, estar desempregado é ruim. Entretanto, muitas pessoas, ao não conseguirem trabalho, desistem de continuar tentando e permitem que pensamentos de derrota invadam sua mente.
Para a especialista em carreira, Aline Saramago, um passo importante para mudar essa realidade é não se acomodar com a situação e reagir. "Muitas vezes, a pessoa não conseguirá uma recolocação na sua área de atuação e precisará estar disposta a se reinventar e tentar novas formas de obter fontes de renda. Mesmo diante da crise há, atualmente, vagas abertas em empresas que cresceram na pandemia, por exemplo."
Ela cita casos de quem, nessa pandemia, decidiu fazer alimentos ou outros tipos de produtos para vender. "Esse pode ser um caminho promissor. Há ainda a alternativa de buscar um curso rápido que possa trazer novas ideias de trabalho autônomo. Essas são apenas algumas sugestões. A questão aqui é não desistir, porque os resultados vêm quando a pessoa é esforçada. Precisamos nos lembrar que sempre é possível se reinventar e começar algo novo", acrescenta.
Com a ajuda dos sites de busca e das redes sociais, a pessoa pode ainda localizar alguns cursos na área desejada, garantindo os estudos e a certificação deles. Muitos estão disponíveis de forma gratuita.
Por fim, a especialista lembra que reclamações constantes não figuram nos currículos dos vencedores. "A pessoa não pode se permitir entrar numa onda de vitimismo. É importante manter a esperança e 'esperançar' significa não apenas esperar que algo de bom aconteça, mas fazer por onde, ou seja, agir para que esse algo de bom aconteça", conclui.