‘Dei minha alma pelo Corinthians. Fui para a cadeia injustamente. Sou um homem sério.’ Exclusiva com Zé Elias
O jogador, que foi exemplo de dedicação, garra e bom futebol no Corinthians, conta detalhes da sua carreira. Ida à Seleção. A perda da medalha de ouro com um time com Ronaldo, Rivaldo e Roberto Carlos. Além dos 30 dias que esteve preso. E como se transformou em excelente comentarista na ESPN/Brasil
Todos os Blogs|Do R7
Seriedade.
Essa palavra marca a vida de José Elias Moedim Júnior.
Desde quando era criança no futebol de salão entendeu que não havia espaço para brincar, quando, por talento e força física, tinha de enfrentar garotos mais velhos. Aprendeu desde cedo a colocar a alma nas divididas, assim que entrava nas quadras. Percebeu que seu sacrifício físico se refletiria nas vitórias do Corinthians e no bem-estar financeiro da família. Trouxe enorme responsabilidade para sua vida incompatível com um adolescente comum. Psicologicamente era mais velho do que o RG refletia.
“Para mim, os jogos eram guerras. O futebol não era um simples divertimento para um garoto. Mas maneira de sobreviver. Eu representava a minha família. A chance de uma vida melhor. Hoje entendo o quanto era pesado, mas sempre tive essa noção. Daí a seriedade nos treinos, nos jogos. E essa ligação familiar logo foi transferida para o Corinthians, o meu clube, que virou a minha segunda casa. Lutava até o último segundo pela vitória. Não me conformava com a derrota. Era uma questão de honra.”
Zé Elias, que se tornou símbolo de garra corintiana, era muito habilidoso no futebol de salão. Foi uma das estrelas do colégio João XXlll, da Penha, que acabou com a hegemonia do Olavo Bilac na famosa Copa Dan’Up, que a tevê Jovem Pan transmitia. “Comecei no Corinthians aos quatro anos no futebol de salão, até os 12 anos. A partir daí, jogava campo e salão. Com 14 anos passei a jogar campo no Corinthians e futsal na GM. Saía às seis da manhã e voltava a uma da manhã. Meu apelido na GM era ‘Trapo’ porque a roupa que saía para a escola estava toda amarrotada à noite.’
Sem dinheiro para lanches, levava quatro maçãs, que comia durante o dia. Seu talento e personalidade foram reconhecidos precocemente. Foi um dos jogadores mais jovens a vestir profissionalmente a camisa do Corinthians. “E tive a sorte de encontrar o Mário Sérgio como treinador. Ele falou assim. ‘17 anos para mim é homem. Você vai jogar no profissional.’ Pensei que fosse trote. O Mário Sérgio mudou a minha vida, me orientando. E me deu o conselho que me marcou. Não se intimide diante de ninguém.”
Zé Elias deu a alma pelo Corinthians. Marcador implacável. E ótima saída de bola. Logo se destacou. Ganhou o apelido de ‘Zé da Fiel’, como se tivesse a garra de um torcedor em campo. Foi para a Seleção Brasileira Olímpica de 1996, com Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos, Bebeto, Dida.
Foi a melhor equipe nacional em uma Olimpíada, mas o time de Zagallo perdeu a semifinal para a Nigéria. E ficou com o bronze. ‘Ninguém acreditou que perdemos com aquele time, que era incrível. Abrimos 3 a 1 e perdemos por 4 a 3, com o gol de ouro. Foi dolorido demais.’
Mas seu ótimo futebol tanto no Corinthians como na Seleção o fez ser comprado pelo Bayer Leverkusen. ‘Não tive como dizer não. Foi assim. Ou você vai, ou ficará treinando em separado. Naquela época, em 1996, tinha o passe. Fui obrigado a ir.”
Fez questão de aprender alemão. Se destacou.
Foi contratado pela Inter de Milão, um dos melhores clubes do mundo, na época, e reencontrou Ronaldo Fenômeno. ‘Tive de marcar os melhores jogadores do mundo. O pior deles? Zidane. Era genial.’
Foi injustiçado pela Seleção Brasileira.
Atuou no Bologna, Olympiakos, Genoa. E voltou para o Santos, onde ganhou o Brasileiro. Foi um dos melhores ex-jogadores a fazer a transição para comentarista. Na rádio Globo fez uma dupla sensacional com o narrador Oscar Ulisses. Fora de campo, ganhou as manchetes policiais por ficar preso 30 dias, por não pagar pensão à ex-mulher.
“Sou um homem sério. Os valores cobrados eram de quando eu jogava futebol. Já havia parado. Estavam completamente acima. E a lei foi cumprida. Fui para a prisão, mas segui a pessoa digna que sempre fui. Depois de 30 dias saí. As minhas alegações foram ouvidas e os valores, que eu realmente deveria pagar, foram pagos.” A credibilidade de Zé Elias não foi afetada pela prisão, pelo contrário. Voltou para a rádio e, em 2014, foi contratado pela ESPN/Brasil.
A transição para a tevê foi muito bem feita. E ele consegue mostrar o lado do jogador com enorme competência, sensibilidade e coragem. “Sempre respeito o ser humano, mas tento traduzir onde o atleta acertou e errou. Tudo que vivi me ajuda nesta análise. Sigo sendo honesto comigo e com as pessoas. E respeitando muito o futebol. Que me deu tudo o que tenho.”
A entrevista reveladora e exclusiva está no canal do Cosme Rímoli no YouTube.
A cada semana um personagem importante do esporte deste país...
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.