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Mestras quitandeiras de Igarapé preservam conhecimento e tradição da comida mineira

Você já comeu biscoito de polvilho na folha de bananeira, assado no fogão a lenha? Eu já e a experiência foi maravilhosa!

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Helena e eu comendo biscoitos de polvilho
Helena e eu comendo biscoitos de polvilho

Durante nossa expedição gastronômica desembarcamos em Igarapé! A cidade, que fica a 55 quilômetros de Belo Horizonte, é um dos marcos geográficos da exploração de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais.

A Pedra Grande, que integra a Serra do Itatiaiuçu, atrai muitos turistas para a prática de esportes como rapel, mountain bike, paraglider e caminhada. Além de bonita e imponente, a cidade é berço de nascentes importantes que abastecem a região metropolitana de Belo Horizonte. 

Os primeiros habitantes foram atraídos pela exploração de minério. Tempos depois, a agropecuária se tornou a principal atividade econômica. E essa terra de gente trabalhadora guarda mais um tesouro: os saberes da comida mineira (que, por sinal, é o motivo da nossa visita!).

As detentoras desse riquíssimo conhecimento são chamadas de mestras! Isso mesmo, mestras da culinária de Igarapé.


Ubalda Oliveira, mestra quitandeira
Ubalda Oliveira, mestra quitandeira RECORD Minas

Numa casa mais afastada do centro, com um quintal enorme e cheio de plantas, conhecemos a Ubalda Oliveira. Mestra quitandeira das melhores, ela começou a se interessar pela cozinha, quando ainda era criança.

“Minha mãe ia pra roça com meu pai e eu tinha essa curiosidade para fazer um guisadinho. Não mexia no fogão dentro de casa, mas preparava com as pedras e uma panelinha. Picava de qualquer jeito e colocava no forno. Aí quando minha mãe chegava, brigava: - Menina, você não pode mexer com fogo, você ainda é pequena”, relembra.


O que era encantamento, virou coisa séria. Atualmente, ela é vice-presidente da associação que reúne cerca de 25 mestras. A ideia é manter a história viva e passar os saberes para as gerações que estão chegando. “A gente mantém as famílias ali trabalhando. Leva os filhos e os netos pra cozinha e ali acontece uma troca de receitas”, explica. 

As mestras cozinham durante o ano inteiro, mas o momento mais esperado acontece em junho, durante o festival gastronômico. O evento movimenta a cidade! Se têm comida boa durante o festival, tem que ter forno que dê conta de tantas gostosuras.


João Alves, construtor de fornos
João Alves, construtor de fornos RECORD Minas

Durante nossa viagem, conhecemos o João Alves Braga. Ele é referência na região quando o assunto é forno e fogão à lenha. No festival ele também é estrela.

A missão do aposentado não é moleza: construir um forno no meio da rua. “Eles fecham o trânsito e a gente começa na segunda-feira. O evento começa na quinta, então na quarta tem que tá tudo pronto.”

Ele contou que para fazer um forno resistente a altas temperaturas, é preciso usar a matéria-prima certa: a terra de formigueiro que ele encontra no quintal de casa. “A formiga mesmo é que produz a terra pra gente. Têm a medida certa, pra dar liga na massa, pra não dar trinca.”

Os fornos e fogões do João são usados por todas as mestras da culinária de Igarapé para preparar quitandas deliciosas. Ele garante que o gosto da comida assada no forno é diferente e especial.

E é claro que a nossa equipe não iria embora sem experimentar uma quitanda tradicional. Fomos até a casa da Helena Santos. Quem olha o muro da casa do lado de fora, nem imagina que lá dentro tem um forno poderoso!

Nunca tinha visto o processo artesanal de preparação do biscoito de polvilho preparado na folha de bananeira e assado no forno à lenha. Uma experiência que, certamente, ficará pra sempre na memória dos meus dias felizes no trabalho. 

A receita do biscoito leva polvilho doce, óleo, água e ovo. Tudo é relativamente simples de ser feito, mas o que muda tudo é a força nos braços da Helena e a experiência que só ela tem. Nós ficamos frente a frente com o forno, sentimos o calor das chamas altas e cheiro da fumaça.

Helena, assim como outras mestras, aprendeu a cozinhar com a avó. Ainda menina, já queria botar a mão na massa. Durante 17 anos, a quitandeira saiu pelas ruas de Igarapé e de cidades vizinhas, carregando cestas cheias de quitadas para vender.

A quitandeira não quer deixar o saber culinário se perder. Por isso, tenta ensinar tudo que aprendeu para os filhos. Difícil é convencer os filhos a usarem o forno. Dá trabalho!

Em pouco tempo de conversa deu pra entender porque as “mestras da culinária tradicional” de Igarapé são consideradas um bem imaterial do município desde 2013. Elas carregam um conhecimento riquíssimo dos sabores da tradição mineira!

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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